Após problema de saúde, principal crítico de Putin está sumido há seis dias

Alexey Navalny perdeu uma audiência, não entrou em contato com familiares e advogados e gera preocupação entre seus aliados

Alexey Navalny, o mais vocal crítico do presidente da Rússia, Vladimir Putin, não entra em contato com familiares ou advogados desde a semana passada, quando teve um problema de saúde classificado como “grave” por seus seguidores. As informações são do jornal independente The Moscow Times.

Kira Yarmysh, porta-voz de Navalny, usou a conta dela na rede social X, antigo Twitter, para manifestar preocupação com o sumiço, dizendo que ele sequer apareceu para uma audiência judicial, procedimento que é habitualmente realizado por videoconferência.

“Alexey Navalny novamente não foi levado ao tribunal por meio de videoconferência. ‘Desde 7 de dezembro não conseguimos consertar a energia elétrica’, alegam representantes da colônia penal. Eles estão apenas zombando de mim. Este já é o sexto dia em que não sabemos onde Alexey está ou o que está acontecendo com ele”, escreveu a aliada.

Embora os gestores do presídio aleguem que a audiência não foi realizada devido aos problemas com o fornecimento de energia elétrica, aliados dele sugerem uma explicação diferente. Eles alegam que o rival de Putin teve um problema de saúde na semana passada, o que poderia estar por trás do sumiço repentino.

“Seus advogados são impedidos de entrar e solicitados a esperar. Ele não apareceu nas audiências agendadas. Soubemos que na semana passada ele teve um grave incidente de saúde”, afirmou, também através do X, Maria Pevchikh, aliada do político e presidente do conselho da Fundação Anticorrupção criada por ele e classificada como extremista pelo governo russo. “A vida de Navalny corre grande risco. Ele está em completo isolamento neste momento”, acrescentou.

A preocupação com as condições de saúde de Navalny, preso desde o início de 2021, são antigas. Em novembro do ano passado, ele anunciou planos de processar o governo devido ao tratamento desumano dentro da colônia penal. Na ocasião, ele reclamou que não recebia botas adequadas para enfrentar o frio do inverno russo. E citou o risco de ficar doente devido às baixíssimas temperaturas.

Em janeiro deste ano, um grupo de médicos russos publicou uma carta aberta, acompanhada de um abaixo-assinado, exigindo “o fim do abuso” contra ele, detido na colônia penal IK-6, na região de Vladimir, perto de Moscou.

O documento destacava os problemas de saúde que acometeram Navalny, afirmando que o governo vinha recusando inclusive a entrega de medicamentos a ele. À época, o crítico de Putin afirmou que, embora estivesse em isolamento solitário, dividia a cela com um detento gripado e com sérios problemas de higiene.

Monitor exibe audiência virtual com Navalny, falando de dentro da prisão (Foto: instagram.com/navalny)
Por que isso importa?

Navalny ganhou destaque ao organizar manifestações e concorrer a cargos públicos na Rússia. A rede dele chegou a ter 50 sedes regionais em toda a Rússia e, entre outras ações, denunciava casos de corrupção envolvendo o governo Putin e figuras importantes ligadas a ele. Isso levou o Kremlin a agir judicialmente para proibir a atuação do opositor, que então passou a ser perseguido.

Em agosto de 2020, durante viagem à Sibéria, Navalny foi envenenado e passou meses se recuperando em Berlim. Ele voltou a Moscou em 17 de janeiro de 2021 e foi detido no aeroporto. Um mês depois, foi julgado e condenado por violar uma sentença suspensa de 2014, sob acusação de fraude. Promotores alegaram que ele não se apresentou regularmente à polícia em 2020, justamente quando estava em coma pela dose tóxica.

Encarcerado em uma colônia penal de alta segurança, ele chegou a fazer uma greve de fome de 23 dias em abril de 2021, para protestar contra a falta de atendimento médico. Depois, em junho daquele ano, um tribunal russo proibiu os escritórios regionais de Navalny e sua Fundação Anticorrupção (FBK) de funcionarem, classificando-os como “extremistas”.

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