O que se sabe até agora sobre o avião militar russo que caiu perto da fronteira com a Ucrânia

Moscou diz que Kiev derrubou o avião com 65 prisioneiros de guerra a bordo. Kiev alega que a aeronave transportava mísseis

Um avião modelo Ilyushin IL-76, da Força Aérea da Rússia, caiu nesta quarta-feira (24) na região russa de Belgorod, perto da fronteira com a Ucrânia. O incidente levou a mais uma troca de acusações entre os dois governos, com Moscou atribuindo a queda a um ataque de Kiev, que não desmentiu a informação, mas alegou que a aeronave servia para transportar armas russas. A Referência coletou informações que ajudam a jogar luz sobre o ocorrido.

Moscou acusa Kiev

De acordo com o governo russo, a queda do avião matou 74 pessoas, sendo seis tripulantes, três militares das Forças Armadas da Rússia e 65 prisioneiros de guerra ucranianos que seriam incluídos em um acordo de troca com a Ucrânia. A agência de notícias RIA Novosti inclusive publicou uma lista com os nomes dos prisioneiros mortos.

De acordo com o Ministério da Defesa da Rússia, o avião voava do campo de aviação Chkalovsky, perto de Moscou, para Belgorod, quando “foi abatido” supostamente por mísseis norte-americanos Patriot usados por Kiev.

“Antes da queda, equipamentos de radar das Forças Aeroespaciais Russas registraram o lançamento de dois mísseis antiaéreos ucranianos da área de Liptsy, região de Kharkov”, diz a agência.

Avião da Força Aérea da Rússia Ilyushin IL-76MD, semelhante ao que caiu em Belgorod (Foto : Fyodor Leukhin/WikiCommons)

O Kremlin porém, não se pronunciou oficialmente. “Não posso comentar sobre o assunto, é uma informação relativamente nova e fresca, vamos lidar com isso agora”, disse o porta-voz Dmitry Peskov, de acordo com a agência Tass.

Já Vyacheslav Volodin, presidente da Duma, a câmara baixa do parlamento russo, propôs o envio de um apelo ao Congresso dos EUA e ao Bundestag, da Alemanha, questionando quais mísseis poderiam ter causado a queda do avião IL-76.

O Ministério da Defesa russo, por sua vez, reforçou a acusação contra Kiev, segundo a agência Reuters. “A liderança ucraniana estava bem ciente de que, de acordo com a prática estabelecida, os militares ucranianos seriam transportados hoje em aviões de transporte militar para o campo de aviação de Belgorod para serem trocados.”

Kiev se defende

Anton Gerashchenko, conselheiro do Ministério do Interior da Ucrânia, usou a rede social X, antigo Twitter, para contestar a versão russa, sugerindo que não havia prisioneiros de guerra a bordo. “Não há fragmentos de corpos ou de toda a construção do avião na foto do local do acidente”, disse.

Andriy Yusov, porta-voz da inteligência militar ucraniana, confirmou que uma troca de prisioneiros estava agendada para esta quarta-feira (24), mas não no momento da queda do avião.

No entanto, o argumento de que foi Kiev que derrubou o avião é forte, inclusive porque o governo ucraniano não se apressou para desmentir as alegações. Dois veículos de imprensa da Ucrânia, o jornal Ukrainskaya Pravda e a agência RBC-Ucrânia, atribuíram o ataque às forças ucranianas.

Uma fonte militar ucraniana citada pela RBC afirma que o avião foi alvejado porque transportava na verdade mísseis S-300. E acrescenta que esta não seria a primeira vez que as Forças Armadas de Kiev atacam aviões IL-76, com ao menos dois deles destruídos em ataques ocorridos em 2023.

Informações conflitantes

De acordo com Moscou, a aeronave que caiu se dirigia para a região de Belgorod, onde os prisioneiros de guerra seriam entregues para a posterior troca com Kiev. Tal informação, porém, foi desmentida pelo lado ucraniano, que usou imagens registradas nas redes sociais para justificar sua posição.

De acordo com Anton Gerashchenko, “a geolocalização do local onde o IL-76 foi abatido e este local no mapa do Google indicam que ele estava voando de Belgorod, e não em direção a Belgorod.”

O jornalista ucraniano Illia Ponomarenk fez a mesma observação. “Se bem entendi a situação, o IL-76 foi abatido logo após a decolagem, perto da cidade de Yablonovo, a nordeste de Belgorod. Então estava supostamente saindo de Belgorod, não chegando.” Ele também usa essa informação para questionar a alegação russa de que havia prisioneiros na aeronave.

As imagens da queda do avião circulam no X.

O jornal The Moscow Times ainda reproduziu informações coletadas pelo site investigativo iStories, que conversou com analistas de código aberto. Segundo as fontes, o avião havia passado pelo espaço aéreo do Egito, da Arábia Saudita e do Irã e sobrevoado o Mar Vermelho antes de desaparecer do radar.

Tags: