ONGs classificam como ‘ridícula’ e ‘injusta’ a condenação de ativistas LGBT na Chechênia

Perseguidos pelo repressor governo local por administrar um grupo no Telegram, irmãos são acusados de 'ajudar grupos armados ilegais'

Na última terça-feira (25), um tribunal da Chechênia confirmou as sentenças de dois ativistas LGBT que haviam sido condenados à prisão em fevereiro. Os irmãos Salekh Magamadov e Ismail Isaev foram detidos por “ajudar grupos armados ilegais”, acusações que entidades humanitárias consideram forjadas.

“A decisão do tribunal é o passo final neste julgamento ridículo e injusto. Salekh Magamadov e Ismail Isaev ficarão presos por muitos anos, mas seu único ‘crime’ aos olhos das autoridades chechenas é sua participação aberta na comunidade LGBT e críticas pacíficas às autoridades locais. Expressar-se livremente tornou-se um crime grave na Chechênia e na Rússia como um todo”, disse Marie Struthers, diretora da Anistia Internacional para a Europa Oriental e Ásia Central.

Tanya Lokshina, diretora associada para Europa e Ásia Central da ONG Human Rights Watch (HRW), também classificou as sentenças como “injustas”, dizendo que “liberdade e bem-estar estão em jogo” para os dois ativistas.

Bandeiras LGBTQIA+ em Reykjavik, na Islândia, em julho de 2019 (Foto: Jasmin Sessler/Unplash)

Magamadov e Isayev foram presos em agosto de 2019 por sua atividade em aplicativos de mensagens apoiando pessoas LGBT. Em especial, eles administravam o grupo Osal nakh 95 no Telegram.

Detidos, os irmãos foram mantidos por meses em uma cela localizada no porão de uma delegacia, onde dizem ter sido torturados. Na ocasião, Isayev tinha 16 anos. Ambos acabaram libertados após gravarem sob coação um vídeo com um pedido de “desculpas” posteriormente publicado na internet pelo governo checheno.

A perseguição aos irmãos, porém, não terminou. Em fevereiro deste ano, na Rússia, os dois foram detidos pelas forças de segurança locais e levados de volta à Chechênia. Impedidos de consultar um advogado, teriam sido forçados a “confessar” que ajudaram um membro de um grupo armado ilegal. Foram julgados e condenados por esse “crime”.

“A tortura, sequestro e acusação contra Isayev e Magamadov são apenas um exemplo da campanha brutal contra a dissidência na Chechênia”, afirmou a HRW em comunicado, citando casos semelhantes registrados anteriormente. “As autoridades chechenas perseguem regular e violentamente pessoas que presumem ser LGBT. A falta de investigações eficazes sobre as detenções ilegais e tortura amplamente documentadas serve para encorajar esta prática”.

“Expurgo gay”

A Chechênia foi palco do chamado “expurgo gay” em 2017, quando dezenas de homens homossexuais relataram terem sido sequestrados e torturados pela polícia. Ramzan Kadyrov, à frente do governo há mais de uma década, é acusado frequentemente por grupos russos e internacionais de supervisionar graves abusos a minorais, desde tortura até execuções extrajudiciais.

Em junho do ano passado, o ministro do Interior da Chechênia, Akhmed Dudayev, chegou a dizer que “não existem homossexuais” no território. E justificou: “Ativistas de direitos humanos tentam inventar algum tipo de minorias que não existem e nunca existiram aqui”.

A fala estava relacionada ao rapto de Khalimat Taramova, filha de um aliado de Kadyrov. Ela foi levada à força de um abrigo para vítimas de violência doméstica na capital da região russa do Daguestão. Ativistas LGBT na Rússia afirmam que o caso teria relação com a orientação sexual dela, que estaria no mesmo abrigo que sua namorada, identificada como Anna Manylova.

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