Otan condena Putin por retórica nuclear ‘perigosa e irresponsável’

"A Rússia deve retornar ao cumprimento e agir de boa fé", disse a porta-voz da aliança militar. Casa Branca anunciou que monitora a situação

A Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte) criticou Vladimir Putin por sua retórica nuclear “perigosa e irresponsável” no domingo (26), um dia após o líder russo anunciar planos de estacionar armas nucleares em Belarus. As informações são da agência Al Jazeera.

O presidente russo disse no sábado (25) que Moscou posicionará armas nucleares táticas no país vizinho e aliado de primeira ordem, o que seria a primeira vez desde o colapso da União Soviética na década de 1990. O chefe do Kremlin justificou que o movimento ocorreria “sem violar nossos acordos internacionais de não proliferação nuclear”, dizendo que era semelhante ao posicionamento de armas dos Estados Unidos na Europa.

Um pequeno número de sistemas de mísseis táticos Iskander, que podem ser usados ​​para lançar armas nucleares, já foram transferidos para Minsk, disse Putin em seu discurso. Belarus compartilha uma longa fronteira com a Ucrânia, bem como com a Polônia, Lituânia e Letônia, membros da Otan.

“A retórica nuclear da Rússia é perigosa e irresponsável. A Otan está vigilante e estamos monitorando de perto a situação”, disse a porta-voz da aliança militar pelo Twitter, Oana Lungescu, acrescentando que os aliados da Otan agem com total respeito por seus compromissos internacionais. 

Vladimir Putin, presidente da Rússia, em janeiro de 2021 (Foto: Wikimedia Commons)

Ela também observou que Rússia quebrou seus compromissos de controle de armas, suspendendo recentemente sua participação no START (Tratado Estratégico de Redução de Armas, em inglês).

“A Rússia deve retornar ao cumprimento e agir de boa fé”, acrescentou Lungescu.

A medida deve potencialmente aumentar as tensões entre o Ocidente e a Rússia, com a Ucrânia pedindo uma reunião extraordinária do Conselho de Segurança da ONU (Organização das Nações Unidas) em resposta.

No entanto, a Otan disse: “Não vimos nenhuma mudança na postura nuclear da Rússia que nos levasse a ajustar a nossa”.

O chefe de política externa da União Europeia, Josep Borrell, pediu à Belarus que opte por sair do acordo com Putin, alertando que o país pode enfrentar novas sanções se continuar com ele.

“Belarus ainda pode impedir, é uma escolha deles”, escreveu ele no Twitter.

Nesta segunda-feira (27), a Casa Branca disse que os EUA não detectaram nenhum sinal de que a Rússia começou a mover armas nucleares táticas. “Continuamos monitorando isso muito, muito de perto. E ainda não vimos nada que nos levasse a mudar nossa postura de dissuasão estratégica”, disse o porta-voz do Conselho de Segurança Nacional, John Kirby.

Mykhailo Podolyak, conselheiro sênior do presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, caracterizou a ação como “tática de intimidação” e disse que o líder russo era “muito previsível”.

Ainda assim, segundo Putin, a Rússia começará a treinar equipes para operar as armas a partir da próxima semana. A construção de uma instalação de armazenamento de armas nucleares táticas em Belarus deve ser concluída em 1º de julho, disse o presidente.

Desde que a Rússia invadiu a Ucrânia, em fevereiro de 2022, líderes e analistas ocidentais vêm levantando preocupações de que Moscou possa iniciar um conflito nuclear.

Por que isso importa?

A aliança entre Belarus e Rússia é anterior à invasão da Ucrânia, mas se fortaleceu com a guerra iniciada no dia 24 de fevereiro de 2022. O país comandado por Alexander Lukashenko permitiu que a Rússia, governada pelo aliado Putin, acumulasse tropas na região de fronteira e posteriormente usasse o território belarusso como passagem para as forças armadas russas.

A situação tem levado governos e entidades ocidentais a incluírem Belarus em inúmeras sanções impostas à Rússia em função da guerra, mesmo que Minsk não tenha enviado soldados para combater ao lado das tropas da nação aliada.

Em artigo publicado em 12 de agosto do ano passado, intitulado “Não nos esqueçamos do envolvimento de Belarus na guerra da Rússia na Ucrânia”, o jornalista ucraniano Mark Temnycky destacou o papel belarusso como viabilizador do ataque e cobrou punições ainda mais severas a Minsk.

“Ao apresentar a Putin uma base de operações para sua invasão ilegal e desnecessária da Ucrânia, Lukashenko é culpado por associação. Em vez de condenar a guerra, o presidente belarusso afirmou repetidamente que apoia as ações da Rússia na Ucrânia”, disse ele.

A submissão de Minsk a Moscou é tamanha que o jornalista russo Konstantin Eggert chegou a afirmar, em artigo publicado pela rede Deutsch Welle, em março de 2022, que “o Kremlin vem consolidando seu controle sobre o país vizinho” nos últimos anos. E isso, segundo ele, “aponta para o objetivo de a Rússia absorver Belarus de uma forma ou de outra, embora possa permanecer oficialmente no mapa com Lukashenko como governante”.

O próprio presidente belarusso levantou essa possibilidade em agosto de 2021, embora não tenha manifestado muito otimismo na conclusão do processo. “Quando falamos de integração, devemos entender claramente que isso significa integração sem nenhuma perda de Estado e soberania”, disse na ocasião.

Mais recentemente, o embaixador dos EUA na Organização para a Segurança e Cooperação na Europa (OSCE), Michael Carpenter, afirmou que Belarus pode ter o mesmo destino da Ucrânia após a guerra, vez que o objetivo da Rússia é “apagar a soberania” das duas nações. Segundo ele, Putin já “deixou claro” que os países “pertencem” à Rússia.

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