‘Pensei que morreria na prisão de Putin’, diz dissidente russo após troca de prisioneiros

Vladimir Kara-Murza deu sua primeira longa entrevista desde sua libertação, que ocorreu na maior troca de prisioneiros desde a Guerra Fria

“Eu estava completamente convencido de que morreria na prisão de Putin”, afirmou o dissidente russo Vladimir Kara-Murza em sua primeira entrevista longa desde sua libertação. As informações são da BBC.

Na quinta-feira (1º), ocorreu uma troca histórica de prisioneiros entre a Rússia e as nações ocidentais, a maior desde a Guerra Fria, com pelo menos 24 prisioneiros sendo liberados. Entre os dissidentes políticos libertados por Moscou estava Kara-Murza, um russo-britânico e destacado ativista anti-Kremlin, conhecido por seu apoio aos direitos humanos.

Kara-Murza foi julgado e condenado por crimes diversos. O que rendeu maior pena foi de “traição”, com sentença de 18 anos de prisão. Ele pegou ainda sete anos por divulgar “informações falsas” sobre as forças armadas e três anos por participar de atividades de uma “organização indesejável”. Embora a pena somada seja de 28 anos, foi aplicada a de 25 anos, que é a máxima permitida. O opositor, que deixou o jornalismo para ingressar na política, foi detido em Moscou em 11 de abril do ano passado. De acordo com as autoridades, ele foi considerado suspeito porque “mudou a trajetória” do veículo que dirigia quando avistou policiais.

Kara-Murza recebe seu advogado na prisão antes da transferência (Foto: Twitter/Reprodução)

Sua prisão foi caracterizada por condições severas, incluindo quase 11 meses em confinamento solitário. Ele também foi impedido de se comunicar com sua família, conseguindo falar com seus filhos apenas duas vezes em mais de dois anos.

“É muito fácil perder a noção de si mesmo. Você perde a percepção de tempo e espaço. Tudo se torna confuso”, relatou à BBC. “Você não faz nada. Não conversa com ninguém. Não vai a lugar nenhum. É apenas um dia após o outro, sem fim”.

Na semana passada, Kara-Murza foi um dos oito dissidentes russos que desapareceram misteriosamente de suas prisões. Enquanto advogados e familiares expressavam preocupação, surgiram rumores sobre uma possível troca de prisioneiros, mas os detidos não sabiam o que estava acontecendo.

Quando os guardas invadiram abruptamente a cela de Kara-Murza em Omsk, ele temeu que fosse ser executado. “Eu realmente achei que iam me matar”, ele lembrou.

Kara-Murza se recusou a assinar um pedido de perdão a Vladimir Putin e foi transferido para a prisão de Lefortovo, em Moscou. Cinco dias depois, foi colocado em um ônibus com outros dissidentes, onde um guarda anunciou que estavam sendo transportados para uma troca de prisioneiros, sem mais detalhes.

“Ninguém pediu nosso consentimento. Fomos carregados em um avião como gado e levados para fora”, disse Kara-Murza.

A grande acordo foi o resultado de anos de negociações complexas entre os EUA, RússiaBelarus e Alemanha. O acordo levou Berlim a atender à principal demanda de Moscou: a libertação do assassino russo condenado Vadim Krasikov. No total, oito pessoas, incluindo Krasikov, foram devolvidas à Rússia em troca da liberação de 16 detidos na Rússia, incluindo quatro cidadãos norte-americanos. Entre os que voltaram à Rússia estava Vadim Krasikov, um assassino que estava preso na Alemanha desde 2021. 

Apesar das controvérsias sobre a libertação de Krasikov, Kara-Murza defendeu a troca, destacando a importância de salvar vidas.

“Para aqueles que criticam a troca, eu os incentivo a focar na questão de salvar vidas, em vez de apenas nas trocas de prisioneiros. Será que 16 vidas não justificam a liberação de um assassino?”.

Embora tenha se reencontrado com sua família após quase dois anos na prisão, Kara-Murza ainda está preocupado com aqueles que permanecem nos “gulags de Putin”.

“Há pessoas com problemas médicos graves, como Alexei Gorinov, que perdeu parte do pulmão, e que não têm muito tempo”.

Kara-Murza, que é crítico feroz do presidente Vladimir Putin, continua firme em sua condenação à invasão russa da Ucrânia.

“Putin não pode ser permitido a vencer esta guerra. A Ucrânia precisa sair vitoriosa, e os países ocidentais devem oferecer mais apoio para que isso aconteça”, afirmou.

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