Na terça-feira (4), data em que Alexei Navalny completaria 48 anos, a polícia de Moscou prendeu duas mulheres que foram prestar homenagem no túmulo do falecido político opositor ao Kremlin no Cemitério Borisov. A ONG OVD-Info, que monitora a repressão na Rússia, relatou o incidente, citando uma testemunha da prisão. As informações são do Current Time TV, um canal de televisão em língua russa sediado em Praga.
Segundo a testemunha, a polícia deteve inicialmente uma jovem no cemitério, alegando que ela exibia símbolos extremistas. Em seguida, outra mulher foi detida quando pediu à polícia que deixasse a jovem em paz. Em Novosibirsk, a polícia também deteve duas mulheres que estavam depositando flores no monumento às vítimas da repressão política, um local frequentado por ativistas para homenagear Navalny.
![](https://areferencia.com/wp-content/uploads/2024/02/Action_in_memory_of_Alexei_Navalny_in_St._Petersburg_on_February_16_2024-e1708970570794-1024x577.jpg)
Em São Petersburgo, o ativista Vitaly Ioffe foi ameaçado pelas forças de segurança enquanto prestava homenagem a Navalny perto da Pedra Solovetsky. Ele pretendia deixar um cartaz com uma citação do político: “Essa loucura não vai acabar se continuarmos calados”. Durante o ato, a polícia o abordou e, em seguida, um homem à paisana o ameaçou com consequências se organizasse outro protesto naquele dia.
No dia anterior, pelo menos quatro ativistas foram cercados pela polícia em Syktyvkar, enquanto outros cinco receberam advertências em Perm e Berezniki. A polícia focou principalmente naqueles que já haviam sido multados por diversas ações, incluindo a colocação de flores em um memorial em homenagem ao ativista.
Quem foi Alexei Navalny
Mais proeminente opositor do presidente russo Vladimir Putin, Navalny ganhou destaque ao organizar manifestações e concorrer a cargos públicos na Rússia. A rede dele chegou a ter 50 sedes regionais e denunciava casos de corrupção envolvendo o governo, o que levou o Kremlin a agir judicialmente para proibir a atuação do opositor, que então passou a ser perseguido.
Em agosto de 2020, durante viagem à Sibéria, Navalny foi envenenado e passou meses se recuperando em Berlim. Ele voltou a Moscou em 17 de janeiro de 2021 e foi detido no aeroporto. Um mês depois, foi julgado e condenado por violar uma sentença suspensa de 2014, um caso de fraude. Os promotores alegaram que ele não se apresentou à polícia justamente quando estava em coma pela dose tóxica.
Encarcerado em uma colônia penal de alta segurança, chegou a fazer uma greve de fome para protestar contra a falta de atendimento médico. Depois, em junho de 2021, um tribunal russo proibiu os escritórios regionais e a Fundação Anticorrupção (FBK) dele de funcionarem, classificando-os como “extremistas”. Julgado e condenado, o oposicionista jamais recuperou a liberdade e mantinha contato com seus seguidores pelas redes sociais, atualizadas por aliados.
A última medida retaliatória do governo contra Navalny foi transferi-lo para a gelada colônia penal IK-3, no Ártico russo, onde ele morreu no dia 16 de fevereiro de 2024. O inimigo número um de Putin desmaiou quando caminhava no pátio, e as tentativas de ressuscitá-lo, segundo os agentes carcerários, foram em vão.
Navalny cumpria pena de 30 anos por acusações diversas, que vão desde fraude até extremismo, esta a mais grave. Ele sempre alegou que as acusações eram politicamente motivadas e frequentemente reclamava do tratamento que recebia no cárcere, dizendo inclusive que sua saúde estava debilitada por isso.
A perseguição de que era vítima levou aliados, grupos de defesa dos direitos humanos, governos estrangeiros e até a ONU (Organização das Nações Unidas) a culparem o governo russo pela morte, alguns usando a palavra “assassinato”.
Após a morte, retomou-se o debate sobre o retorno dele à Rússia, mesmo sabendo que seria preso e possivelmente morto pelo regime. A mulher dele, Yulia Navalnaya, disse que Navalny não pôde optar por uma vida tranquila no exílio porque “amava profundamente” a Rússia e acreditava no potencial do povo russo para um futuro melhor. Alegou ainda que o marido não apenas expressava essas convicções, mas as vivia intensamente, estando até mesmo disposto a sacrificar sua vida por elas.