Polícia prende manifestantes em Moscou por homenagear Navalny no dia de seu aniversário

Agentes detiveram mulheres que homenageavam o ativista. Incidentes ocorreram em Moscou e Novosibirsk

Na terça-feira (4), data em que Alexei Navalny completaria 48 anos, a polícia de Moscou prendeu duas mulheres que foram prestar homenagem no túmulo do falecido político opositor ao Kremlin no Cemitério Borisov. A ONG OVD-Info, que monitora a repressão na Rússia, relatou o incidente, citando uma testemunha da prisão. As informações são do Current Time TV, um canal de televisão em língua russa sediado em Praga.

Segundo a testemunha, a polícia deteve inicialmente uma jovem no cemitério, alegando que ela exibia símbolos extremistas. Em seguida, outra mulher foi detida quando pediu à polícia que deixasse a jovem em paz. Em Novosibirsk, a polícia também deteve duas mulheres que estavam depositando flores no monumento às vítimas da repressão política, um local frequentado por ativistas para homenagear Navalny.

Ação em memória de Alexei Navalny em São Petersburgo em 16 de fevereiro de 2024 (Foto: WikiCommons)

Em São Petersburgo, o ativista Vitaly Ioffe foi ameaçado pelas forças de segurança enquanto prestava homenagem a Navalny perto da Pedra Solovetsky. Ele pretendia deixar um cartaz com uma citação do político: “Essa loucura não vai acabar se continuarmos calados”. Durante o ato, a polícia o abordou e, em seguida, um homem à paisana o ameaçou com consequências se organizasse outro protesto naquele dia.

No dia anterior, pelo menos quatro ativistas foram cercados pela polícia em Syktyvkar, enquanto outros cinco receberam advertências em Perm e Berezniki. A polícia focou principalmente naqueles que já haviam sido multados por diversas ações, incluindo a colocação de flores em um memorial em homenagem ao ativista.

Quem foi Alexei Navalny

Mais proeminente opositor do presidente russo Vladimir Putin, Navalny ganhou destaque ao organizar manifestações e concorrer a cargos públicos na Rússia. A rede dele chegou a ter 50 sedes regionais e denunciava casos de corrupção envolvendo o governo, o que levou o Kremlin a agir judicialmente para proibir a atuação do opositor, que então passou a ser perseguido.

Em agosto de 2020, durante viagem à Sibéria, Navalny foi envenenado e passou meses se recuperando em Berlim. Ele voltou a Moscou em 17 de janeiro de 2021 e foi detido no aeroporto. Um mês depois, foi julgado e condenado por violar uma sentença suspensa de 2014, um caso de fraude. Os promotores alegaram que ele não se apresentou à polícia justamente quando estava em coma pela dose tóxica.

Encarcerado em uma colônia penal de alta segurança, chegou a fazer uma greve de fome para protestar contra a falta de atendimento médico. Depois, em junho de 2021, um tribunal russo proibiu os escritórios regionais e a Fundação Anticorrupção (FBK) dele de funcionarem, classificando-os como “extremistas”. Julgado e condenado, o oposicionista jamais recuperou a liberdade e mantinha contato com seus seguidores pelas redes sociais, atualizadas por aliados.

A última medida retaliatória do governo contra Navalny foi transferi-lo para a gelada colônia penal IK-3, no Ártico russo, onde ele morreu no dia 16 de fevereiro de 2024. O inimigo número um de Putin desmaiou quando caminhava no pátio, e as tentativas de ressuscitá-lo, segundo os agentes carcerários, foram em vão.

Navalny cumpria pena de 30 anos por acusações diversas, que vão desde fraude até extremismo, esta a mais grave. Ele sempre alegou que as acusações eram politicamente motivadas e frequentemente reclamava do tratamento que recebia no cárcere, dizendo inclusive que sua saúde estava debilitada por isso.

A perseguição de que era vítima levou aliados, grupos de defesa dos direitos humanos, governos estrangeiros e até a ONU (Organização das Nações Unidas) a culparem o governo russo pela morte, alguns usando a palavra “assassinato”.

Após a morte, retomou-se o debate sobre o retorno dele à Rússia, mesmo sabendo que seria preso e possivelmente morto pelo regime. A mulher dele, Yulia Navalnaya, disse que Navalny não pôde optar por uma vida tranquila no exílio porque “amava profundamente” a Rússia e acreditava no potencial do povo russo para um futuro melhor. Alegou ainda que o marido não apenas expressava essas convicções, mas as vivia intensamente, estando até mesmo disposto a sacrificar sua vida por elas.

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