Principal rival doméstico do presidente russo Vladimir Putin, Alexei Navalny finalmente reapareceu após quase três semanas desaparecido. Como especulavam aliados dele, o sumiço realmente correu devido a uma transferência entre presídios, sendo o novo destino uma colônia penal no Ártico. As informações são do jornal The Moscow Times.
Durante o período em que esteve sumido, Navalny não apareceu sequer para participar de audiências judiciais que seriam realizadas por videoconferência. A situação colocou seus apoiadores em alerta, e mais tarde um canal do Telegram sugeriu que ele estava sendo transferido para uma outra prisão. Agora, a informação se confirmou.
A transferência foi cercada de sigilo, como habitualmente ocorre em situações do gênero na Rússia. Em sua conta na rede social X, antigo Twitter, que é atualizada por apoiadores, Navalny diz que fez diversas paradas antes de finalmente chegar às novas instalações, na cidade de Kharp.
“Eles me trouxeram aqui no sábado (24) à noite. E fui transportado com tanta precaução e por uma rota tão estranha (Vladimir – Moscou – Chelyabinsk – Ecaterimburgo – Kirov – Vorkuta – Kharp) que não esperava que alguém me encontrassem aqui antes de meados de janeiro”, disse ele em uma série de postagens.
4/9 They brought me here on Saturday night. And I was transported with such precaution and on such a strange route (Vladimir – Moscow – Chelyabinsk – Ekaterinburg – Kirov – Vorkuta – Kharp) that I didn't expect anyone to find me here before mid-January.
— Alexey Navalny (@navalny) December 26, 2023
Mostrando um bom-humor que se tornou habitual nas publicações, o rival de Putin diz que está com a barba longa devido aos 20 dias sem poder se barbear e afirma que recebeu roupas adequadas para enfrentar o frio ártico. “Sou seu novo Papai Noel”, brincou, admitindo ainda estar “exausto” pelo longo trajeto até Kharp.
“Não digo ‘Ho-ho-ho’, mas digo ‘Oh-oh-oh’ quando olho pela janela, onde posso ver uma noite, depois o entardecer e depois a noite novamente”, afirmou, referindo-se à escuridão que impera na região por quase 24 horas diárias durante o inverno. “Os 20 dias de transporte foram bastante cansativos, mas ainda estou de bom humor, como convém a um Papai Noel.”
Ele acrescentou. “De qualquer forma, não se preocupem comigo. Estou bem. Estou totalmente aliviado por finalmente ter conseguido. Obrigado novamente a todos pelo seu apoio. E boas festas!”
Por que isso importa?
Navalny ganhou destaque ao organizar manifestações e concorrer a cargos públicos na Rússia. A rede dele chegou a ter 50 sedes regionais em toda a Rússia e, entre outras ações, denunciava casos de corrupção envolvendo o governo Putin e figuras importantes ligadas a ele. Isso levou o Kremlin a agir judicialmente para proibir a atuação do opositor, que então passou a ser perseguido.
Em agosto de 2020, durante viagem à Sibéria, Navalny foi envenenado e passou meses se recuperando em Berlim. Ele voltou a Moscou em 17 de janeiro de 2021 e foi detido no aeroporto. Um mês depois, foi julgado e condenado por violar uma sentença suspensa de 2014, sob acusação de fraude. Promotores alegaram que ele não se apresentou regularmente à polícia em 2020, justamente quando estava em coma pela dose tóxica.
Encarcerado em uma colônia penal de alta segurança, ele chegou a fazer uma greve de fome de 23 dias em abril de 2021, para protestar contra a falta de atendimento médico. Depois, em junho daquele ano, um tribunal russo proibiu os escritórios regionais de Navalny e sua Fundação Anticorrupção (FBK) de funcionarem, classificando-os como “extremistas”.
Atualmente ele cumpre pena de 19 anos de prisão por acusações diversas, que vão desde fraude até extremismo, esta a mais grave. Ele alega que as acusações são politicamente motivadas, uma forma de conter suas ações em oposição a Putin.