Polônia condena 14 acusados de espionagem para a Rússia, a maioria deles ucranianos

Indivíduos teriam planejado descarrilar trens conduzindo armamentos e outros itens destinados a apoiar Kiev na guerra com Moscou

Um tribunal da Polônia sentenciou a penas de prisão, na terça-feira (19), 14 pessoas, todas estrangeiras, acusadas de espionagem em favor da Rússia. As penas variam de um a seis anos, segundo informações do jornal polonês Rzeczpospolita.

Os acusados teriam agido principalmente para comprometer a ajuda fornecida por Varsóvia a Kiev em sua guerra contra Moscou. Curiosamente, a maioria dos réus condenados, 11, é ucraniana. Também foram sentenciados um cidadão russo e dois belarussos.

Casos de espiões a serviço da Rússia vêm sendo revelados pelo governo polonês desde que a guerra da Ucrânia teve início. Em julho deste ano, o ministro do Interior Mariusz Kaminski informou que 15 pessoas já haviam sido detidas, e um 16º caso foi identificado posteriormente.

Espionagem russa tem sido um problema para a Polônia durante a guerra (Foto: Lukas Plewnia/Flickr)

Os 14 espiões condenados nesta semana haviam se declarados culpados, enquanto os outros dois mudaram de posição e por isso serão julgados separadamente. Como estão presos desde março, os réus com penas menores serão libertados em breve.

Uma das missões atribuídas ao grupo era descarrilar um trem conduzindo armas e outros itens de uso militar destinados às Forças Armadas da Ucrânia. O líder dos espiões, identificado como Andrei, teria oferecido US$ 10 mil a cada um dos integrantes da operação.

A ação dos agentes russos também incluía desinformação, através da distribuição de panfletos com críticas aos ucranianos, e ordens de agressão, embora as vítimas, neste caso, não tenham ficado claras.

Paralelamente, o grupo estabeleceu um sistema de vigilância cujo objetivo era monitorar a infraestrutura crítica polonesa, como aeroportos, estações de trem, portos e instalações militares. O foco prioritário eram veículos que transportassem equipamento militar e ajuda humanitária para a Ucrânia.

A acusação alega que os agentes eram monitorados de algum lugar fora do território polonês e eram bancados também por alguém que vivia no exterior. Entretanto, não há referência direta ao governo russo, embora essa seja a suspeita óbvia.

“Estávamos lidando com uma forma moderna e até então desconhecida de administrar e organizar uma rede de espionagem, não apenas na Polônia, mas também em toda a União Europeia”, disse o promotor Piotr Lopatynski ao site Onet.

Combate à espionagem russa

As atividades de espionagem russas na Europa sofreram um duro golpe nos últimos anos. Episódios como o envenenamento do ex-agente russo Sergei Skripal, no Reino Unido, levaram as nações do continente a fecharem o cerco contra Moscou, repressão que aumentou ainda mais com a guerra na Ucrânia.

Nos últimos anos, centenas de diplomatas russos foram expulsos de países europeus sob a acusação de que vinham atuando como espiões disfarçados. Ken McCallum, diretor do MI5, o serviço de inteligência doméstica britânica, calculou em novembro do ano passado que mais de 600 russos foram obrigados a deixar países europeus nessas condições.

“Isso foi o golpe estratégico mais significativo contra os serviços de inteligência russos na história recente da Europa”, disse McCallum na ocasião. “E, junto com ondas coordenadas de sanções, a escalada pegou (o presidente russo Vladimir) Putin de surpresa.”

Somente no Reino Unido, mais de cem pedidos de vistos diplomáticos feitos por Moscou foram rejeitados desde 2018, quando o Skripal e a filha dele, Yulia, foram envenenados em Salisbury, sul da Inglaterra. A inteligência russa foi acusada de coordenar a ação, embora Moscou até hoje negue envolvimento.

assassinato do homem (a filha sobreviveu) comprometeu as relações diplomáticas entre os governos britânico e russo e levou à primeira onda de expulsões de diplomatas suspeitos de atuarem como espiões. De lá para cá, diversos países europeus também detectaram membros do corpo diplomático russo que exerciam atividades incompatíveis com suas funções e igualmente os forçaram a ir embora.

Outro país que iniciou uma dura campanha de combate à espionagem russa foi a Alemanha, que no ano passado registrou um aumento considerável das atividades de inteligência de Moscou no país. Nesse sentido, relatório divulgado pelo Escritório Federal para a Proteção da Constituição (BfV, na sigla em alemão), o serviço de inteligência doméstico, destaca as campanhas de desinformação como principal arma russa em solo alemão, embora atos de sabotagem também estejam em alta.

A Alemanha é o país com maiores população e economia dentro da União Europeia (UE), o que a torna forte influenciadora no bloco e ajuda a explicar o interesse de Moscou pelo país. De acordo com Thomas Haldenwang, que chefia o BfV, há um “grande número de agentes” russos na Alemanha, quase sempre próximos a pessoas poderosas.

Nos últimos anos, para conter o problema, o governo alemão também expulsou dezenas de supostos diplomata russos acusados de atuarem como espiões disfarçados. No final de maio deste ano, Berlim ainda anunciou que quatro dos cinco consulados da Rússia no país teriam suas licenças revogadas, sendo, portanto, fechados.

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