A relação entre Belarus e a Rússia se transformou radicalmente nos últimos anos, com Vladimir Putin consolidando seu controle sobre o país liderado por Alexander Lukashenko. De um aliado estratégico, Minsk passou a desempenhar um papel central na visão de Putin de um império soviético reconstruído, evidenciado pela utilização de seu território como base para operações militares, armazenamento de armas nucleares russas e uma crescente integração econômica e militar. As informações são do Politico.
A próxima eleição presidencial bielorrussa, marcada para o final de janeiro, traz lembranças amargas de 2020, quando protestos em massa emergiram em resposta à alegada fraude eleitoral. Na época, o apoio de Putin foi decisivo para manter Lukashenko no poder, permitindo uma repressão brutal que resultou no exílio de milhares de dissidentes.

Lukashenko afirma que o pleito deste ano será livre de abusos. No entanto, a oposição denuncia um ambiente de repressão generalizada, com prisões arbitrárias e censura a qualquer forma de dissidência. Sviatlana Tsikhanouskaya, principal líder opositora em 2020, atualmente exilada, declarou recentemente que o contexto não permite esperanças de resistência popular significativa.
A dependência de Moscou
Desde a fraude eleitoral de 2020, Lukashenko tornou-se ainda mais dependente do Kremlin. Segundo analistas, a ajuda russa não se limitou a suporte militar e econômico, mas também envolveu a manipulação midiática e o envio de estrategistas para garantir a continuidade do regime. Em contrapartida, Belarus cedeu seu território como base para a invasão russa da Ucrânia em 2022 e se alinhou completamente às políticas do Kremlin.
O tratado de união entre os dois países, firmado em 1999, consolidou vínculos econômicos e militares que, ao longo dos anos, foram aprofundados por Putin. Especialistas descrevem esse processo como uma “anexão progressiva”, com Moscou exercendo influência direta em quase todos os aspectos da política e economia bielorrussa.
Futuro da democracia belarussa
Para muitos, a democratização belarussa está diretamente ligada ao futuro político de Putin. “Enquanto Putin estiver no poder, qualquer mudança significativa em Belarus é improvável”, afirma Thomas Graham, ex-conselheiro de segurança nacional dos EUA.
A dependência econômica também complica o cenário: em 2021, 90% do petróleo consumido por Belarus foi importado da Rússia, que também responde pela maior parte das exportações do país.
A repressão brutal dos protestos de 2020 ainda ecoa no país. Prisões arbitrárias, tortura e censura intimidam a população, impedindo manifestações significativas. Até o final de 2024, mais de 1.200 presos políticos permaneciam encarcerados, segundo o Viasna Human Rights Centre, com poucos sinais de relaxamento nas medidas autoritárias.
Sem alma
Belarus, outrora vista como um amortecedor estratégico entre a Rússia e o Ocidente, tornou-se uma extensão da influência russa, tanto diplomática quanto militarmente. Com a economia cada vez mais atrelada a Moscou e a oposição sufocada, o país segue sem perspectivas claras de uma transição democrática. Para muitos analistas, o destino do país estará inextricavelmente ligado à continuidade do governo de Putin.