Rússia prende acusados de contribuição involuntária em investigação de Navalny

Homens teriam obtido os dados dos agentes acusados pelo oposicionista de envenená-lo. Porém, eles não dizem não saber quem era o cliente

As autoridades da Rússia anunciaram a prisão de três homens que teriam obtido ilegalmente os dados dos agentes da FSB (Agência Nacional de Segurança, da sigla em inglês) acusados de envenenar o oposicionista Alexei Navalny. As informações são da Radio Free Europe.

Os homens, que trabalham para uma firma privada de segurança, teriam acessado os dados das contas de telefone dos agentes. De acordo com a agência estatal russa Tass, eles são acusados de terem agido a favor de Navalny, que culpa a FSB, a mando do presidente Vladimir Putin, pelo envenenamento que quase o matou no ano passado.

Entretanto, as autoridades admitem que os acusados não tinham ciência do envolvimento de Navalny no caso. “Eles foram usados. Ou, como dizem, mantidos no escuro”, afirmou o oficial.

Principal oposicionista de Putin, Alexei Navalny, na marcha em memória ao político Boris Nemtsov, no distrito de Meshchansky, em Moscou, fevereiro de 2020 (Foto: Flickr/Michal Siergiejevicz)

Os homens, que cumprem prisão domiciliar enquanto aguardam pelo desdobramento do caso, foram identificados como Pyotr Katkov, Aleksandr Zelentsov e Igor Zaitsev. “Algumas das informações obtidas pelos detidos foram usadas por Navalny para uma de suas investigações”, disse um oficial de segurança russo à Tass.

O oposicionista estaria em busca das informações como parte de uma investigação conduzida em parceria com jornalistas a fim de desvendar o mistério por trás de seu envenenamento.

Em dezembro do ano passado, oito homens foram acusados de envolvimento no caso. As informações constavam de um relatório publicado pelos sites investigativos Bellingcat e The Insider, pela rede norte-americana CNN e pela revista alemã Der Spiegel. Os acusados teriam seguido Navalny em três viagens domésticas feitas por ele anteriormente, até envenená-lo de fato em 2020, dentro da Rússia.

Por que isso importa?

Navalny ganhou destaque ao organizar manifestações e concorrer a cargos públicos na Rússia. A principal plataforma do oposicionista é o combate à corrupção no governo de Vladimir Putin, em virtude da qual ele uma cobra profunda reforma na estrutura política do país.

Em agosto de 2020, durante viagem à Sibéria, Navalny foi envenenado e passou meses se recuperando em Berlim. Voltou a Moscou em janeiro de 2021 e foi detido ainda no aeroporto. Em fevereiro, foi julgado e condenado a dois anos e meio de prisão por violar uma sentença suspensa de 2014, quando foi acusado de fraude. Promotores alegaram que ele não se apresentou regularmente à polícia em 2020, justamente quando estava em coma pela dose tóxica.

Encarcerado em uma colônia penal de alta segurança, ele chegou a fazer uma greve de fome de 23 dias em abril, para protestar contra a falta de atendimento médico. Em junho de 2021, um tribunal russo proibiu os escritórios regionais de Navalny e sua Fundação Anticorrupção de funcionarem, classificando-as como “extremistas”.

Em agosto, a Justiça russa abriu uma nova acusação criminal contra o oposicionista, o que poderia ampliar a sentença de prisão dele em três anos. Ele foi acusado de “incentivar cidadãos a cometerem atos ilegais”, por meio da Fundação Anticorrupção (FBK) que ele criou. Mais recentemente, em setembro, uma terceira acusação contra, por “extremismo”, ameaça estender o encarceramento por até uma década.

Caso seja condenado em alguma das novas acusações, Navalny será mantido sob custódia no mínimo até o fim da próxima eleição presidencial, em 2024, quando chega ao fim o atual mandato de seis anos de Vladimir Putin no Kremlin.

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