Rússia anuncia que deixará Estação Espacial Internacional para lançar sua própria

Em meio a uma relação desgastada com o Ocidente, Moscou pretende construir e colocar em órbita seu próprio posto avançado

A Rússia anunciou nesta terça-feira (26) que irá se retirar da Estação Espacial Internacional (ISS, da sigla em inglês) em até dois anos. A justificativa é ambiciosa: o país pretende construir e colocar em órbita seu próprio posto avançado. A informação foi dada pela agência espacial estatal Roscosmos e reproduzida pelo jornal independente The Moscow Times.

“Acho que a essa altura começaremos a montar uma estação orbital russa”, disse o recém-empossado chefe da i, Yury Borisov, em uma reunião com o presidente russo Vladimir Putin. Ele classificou o programa espacial como “prioridade”. A nova estação espacial custaria US$ 6 bilhões, segundo a agência de notícias russa independente Interfax, que não citou a fonte.

Antes do plano russo virar realidade, segundo Borisov, todas as obrigações com os parceiros serão cumpridas. “Mas a decisão de deixar a estação após 2024 foi tomada”, garantiu.

Além da Roscosmos, a ISS, lançada em 1998, é operada em conjunto por Nasa (Agência Espacial Americana), CSA/ASC (Agência Espacial Canadense), ESA (Agência Espacial Europeia) e Jaxa (Agência Japonesa de Exploração Aeroespacial). A estação é uma das poucas áreas de cooperação entre Moscou e Washington, que vivem uma relação cada vez mais desgastada.

ISS registrada de dentro da nave espacial Soyuz MS-08 (Foto: Roscosmos/Flickr)

O novo chefe da Roscosmos relatou ao presidente que a indústria espacial russa atravessa um momento “difícil”. Borisov se comprometeu a “elevar o nível e, antes de tudo, fornecer à economia russa os serviços espaciais necessários”, com destaque para navegação, comunicação e transmissão de dados.

Também nesta terça, uma alta funcionário da Nasa disse que os EUA não estavam a par dos planos russos. “Não recebemos nenhuma palavra oficial do parceiro sobre as notícias de hoje”, disse Robyn Gatens, diretora da ISS da Nasa.

Perguntada se era do seu agrado o fim de uma relação espacial entre os países, ela foi taxativa: “Não, absolutamente não”.

O anúncio da debandada russa ocorre em meio ao contexto da guerra na Ucrânia, que resultou em sanções sem precedentes do Ocidente a Moscou. Como retaliação às inúmeras penalidades impostas ao país, em abril, o então chefe da Roscosmos, Dmitry Rogozin, chegou a ameaçar dar um fim à cooperação com parceiros da ISS.

Antes do conflito, em 2021, a Rússia já havia falado sobre a ideia de ter seu próprio posto avançado em órbita. À época, o país usava como justificativa a infraestrutura “envelhecida” da ISS.

Por que isso importa?

O programa espacial da Rússia tem se afundado em fraudes. Entre elas, um esquema de desvio de milhões de dólares durante a construção do novo cosmódromo (base de lançamento espacial) de Vostochny, no Extremo Oriente, instalação que os russos projetavam como maior trunfo da Roscosmos.

O próprio Kremlin estima que 11 bilhões de rublos (cerca de R$ 780 milhões), mais de 10% do valor destinado a Vostochny, foram roubados. Várias autoridades envolvidas no projeto foram presas.

Em meio ao escândalos, e sob a alegação de proteger os interesses nacionais, a FSB (Agência de Segurança Federal, da sigla em inglês) organizou uma lista contendo informações militares proibidas para estrangeiros, que inclui dados da Roscosmos.

A lista contém 61 itens, incluindo informações confidenciais sobre problemas que “prejudicam o desenvolvimento” da agência, programas-alvo, financiamentos e prazos, além de dados sobre as condições técnicas e prontidão dos cosmódromos e outras instalações espaciais.

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