Rússia aproveita momento favorável e se prepara para negociar alívio de sanções com os EUA

Governo teria consultado empresas do país para entender quais punições deveriam ser prioritariamente suspensas por Washington

Com as negociações sobre um possível cessar-fogo na Ucrânia já em curso, o governo da Rússia solicitou às suas principais empresas que indiquem quais sanções impostas pelos EUA elas entendem que deveriam ser suspensas prioritariamente. A informação foi revelada à agência Reuters por fontes do setor empresarial russo, destacando que as restrições mais problemáticas são aquelas relacionadas às transações financeiras internacionais.

Segundo fontes consultadas pela agência, o Ministério da Indústria e Comércio russo está distribuindo formulários para que as empresas identifiquem as sanções mais prejudiciais para suas operações. Entre as principais dificuldades apontadas estão as limitações no uso do dólar em transações internacionais, além da exclusão dos principais bancos russos do sistema de pagamentos global Swift, o que tem causado custos mais elevados e operações mais complexas.

“Tudo ficou muito mais caro, dados os custos de transação e liquidações através de moedas de terceiros”, afirmou um executivo entrevistado pela Reuters. “Portanto, o mais importante, o mais perigoso e o mais doloroso é a restrição às liquidações em dólares.”

Os presidentes dos EUA, Donald Trump, e da Rússia, Vladimir Putin, em julho de 2018 (Foto: Casa Branca/Flickr)

Para muitas companhias, as avaliações realizadas sobre pagamentos são especialmente dolorosas, já que obrigam a utilização de rotas alternativas, como bancos na China e nos Emirados Árabes Unidos, encarecendo e atrasando operações.

Apesar das expectativas das empresas, analistas consultados consideram improvável uma retirada integral das sanções financeiras no curto prazo. O analista da Renaissance Capital Andrei Melashchenko afirmou que “o levantamento das sanções dos EUA não removeria automaticamente as sanções europeias nem restauraria totalmente a infraestrutura de pagamento,” indicando que as limitações impostas pela Europa também representam obstáculos significativos para os negócios russos.

O Kremlin não deu detalhes específicos sobre quais sanções poderiam ser negociadas, insistindo que “todas são ilegais e devem ser removidas”. O porta-voz Dmitry Peskov preferiu não antecipar o conteúdo exato das negociações, ressaltando que “não faz sentido anunciar segmentos específicos antes das conversas”.

O secretário de Estado dos EUA, Marco Rubio, já sinalizou, no entanto, que qualquer alívio dependerá de avanços concretos no cessar-fogo por parte da Rússia.

Mais de mil empresas deixaram a Rússia

Desde que começou a invasão à Ucrânia, em fevereiro de 2022, mais de mil empresas decidiram sair voluntariamente da Rússia ou reduzir significativamente suas operações no país, segundo um levantamento coordenado pela Universidade de Yale, nos EUA.

O estudo monitora as respostas de mais de 1,5 mil empresas internacionais, classificando suas ações com notas que variam de “A” a “F”, numa escala semelhante ao sistema escolar, indicando o grau de adesão ao movimento de retirada.

No início do monitoramento, ainda na primeira semana da guerra, apenas algumas dezenas de companhias haviam manifestado intenção de deixar a Rússia. Atualmente, a lista inclui cerca de mil empresas que vão além das exigências mínimas das sanções internacionais. Contudo, algumas corporações continuam operando normalmente em território russo, classificadas com notas baixas (“D” ou “F”).

O levantamento tem sido amplamente utilizado como referência por governos, empresários e veículos de comunicação internacionais. O impacto desse monitoramento foi reconhecido por sua contribuição ao êxodo corporativo histórico, amplificando o debate global sobre a responsabilidade das empresas diante de crises geopolíticas.

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