Um tribunal militar russo condenou a longas penas de prisão vários membros da Brigada Azov, unidade militar ucraniana que desempenhou um papel central na defesa de Mariupol durante os primeiros meses da guerra. As sentenças, que variam de 13 a 23 anos, foram divulgadas na quarta-feira (26) pela Procuradoria-Geral da Rússia, sob acusações de tomada violenta de poder e participação em organização terrorista. As informações são da rede CNN.
O tribunal militar do Distrito Sul, localizado em Rostov-no-Don, anunciou os veredictos de 23 pessoas, sendo que 11 foram julgadas à revelia e 12 estiveram presentes. De acordo com o comandante da Azov, Svyatoslav Palamar, um dos integrantes, Oleksandr Ishchenko, morreu enquanto estava detido na Rússia, devido a uma lesão no peito causada por “contato com um objeto contundente”, conforme análise de um perito ucraniano.

O julgamento envolveu membros da Brigada Azov, agora incorporado à Guarda Nacional da Ucrânia, que foram capturados durante o cerco de Mariupol, cidade que se tornou símbolo da resistência ucraniana. Durante semanas, soldados e civis se abrigaram na planta siderúrgica Azovstal, recusando-se a se render às forças russas.
O governo russo classificou oficialmente a Brigada Azov como organização terrorista em 2022, após a invasão em grande escala à Ucrânia. Segundo os promotores russos, o tribunal concluiu que os acusados realizaram “ações destinadas à mudança violenta da ordem constitucional da Rússia”.
Entidades de direitos humanos, como a ONG Memorial, declararam os condenados como prisioneiros políticos e denunciaram condições desumanas de tratamento. Segundo a organização, foram relatados abusos como falta de alimentação adequada, negligência médica, insultos, espancamentos e tortura.
O anúncio das sentenças coincidiu com o Dia da Guarda Nacional da Ucrânia. O presidente ucraniano Volodymyr Zelensky aproveitou a ocasião para enaltecer a coragem das unidades da Guarda Nacional e reforçar os esforços diplomáticos de Kiev para libertar todos os prisioneiros de guerra ucranianos. “Estamos trabalhando em todos os níveis diplomáticos para libertá-los e trazê-los para casa”, declarou o presidente.
Ultranacionalismo e extremismo
A Brigada Azov
tem um histórico controverso, pois surgiu como uma milícia ultranacionalista que foi mais tarde integrada à Guarda Nacional da Ucrânia. Os membros atuais do grupo, porém, negam veementemente as acusações de extremismo e qualquer associação com movimentos de extrema direita.
Antes da invasão russa à Ucrânia em 2022, a ONG Human Rights Watch (HRW) citou preocupações sobre a Brigada Azov, trazendo alegações de abusos por seus combatentes. Quem também reforça esse discurso é Moscou, que rotineiramente acusa a unidade militar de nazismo e atrocidades, embora ofereça poucas evidências.
O Kremlin inclusive usou as origens do regimento em seus esforços para retratar a invasão russa como uma luta contra a influência nazista na Ucrânia.
Os soldados da Brigada Azov foram cruciais na defesa de Mariupol, resistindo ao cerco e à escassez de munição durante os ataques russos em 2022. Considerados heróis na Ucrânia, eles defenderam o complexo industrial de Azovstal. A resistência dos soldados ao exército de Vladimir Putin no entorno da imensa siderúrgica tornou-se um dos símbolos do conflito.