Rússia reduz suprimento de gás europeu e aumenta tensão na chegada do inverno

Estatal Gazprom reduziu drasticamente o fornecimento de gás à Europa no final de semana e fez os preços subirem de novo bem na chegada do inverno

A empresa estatal Gazprom, da Rússia, reduziu novamente o envio de gás natural à Europa no final de semana, o que gerou novo aumento no preço do produto e fortaleceu o temor de escassez durante o rigoroso inverno, que começa oficialmente nesta terça-feira (21) no hemisfério norte. As informações são do jornal independente The Moscow Times.

No último final de semana, o envio de gás pelo gasoduto Yamal, que cruza Belarus e Polônia até a Alemanha, foi o menor no intervalo de um mês. As remessas diárias caíram de 27 milhões de metros cúbicos (mcm) na sexta-feira (17) para 5,2 mcm no sábado (18) e 4,7 mcm no domingo (19).

A Gazprom também reservou apenas uma capacidade adicional mínima na segunda-feira (20), de 3,8 mcm, o que colocou o mercado em alerta. O gasoduto tem capacidade de 89 mcm por dia, o que significa que os fluxos foram de apenas 4% da capacidade na segunda.

Sede da Gazprom, empresa russa do setor de petróleo e gás controlada pelo Estado, em Moscou, na Rússia; registro de 2016 (Foto: Wikimedia Commons)

A queda no fornecimento pela Gazprom fez os preços do gás subirem mais uma vez em toda a Europa, para US$ 1,7 mil por metros cúbicos. Trata-se de uma alta de 70% em relação a setembro, quando o temor de escassez se instalou no continente.

A empresa russa chegou a aumentar o fornecimento para a Europa na segunda metade de novembro e no início de dezembro, mas os preços permaneceram elevados devido aos baixos níveis de armazenamento. O Yamal é uma das principais rotas de abastecimento da Gazprom, somando-se ao Nord Stream 1, que opera com capacidade total.

Por que isso importa?

A Europa enfrenta uma grave crise no setor de gás natural, cujos preços subiram a níveis preocupantes nos últimos meses. E o problema tem Alemanha e Rússia como protagonistas, estando no centro da questão o gasoduto Nord Stream 2, projetado para fornecer gás russo através do Mar Báltico, contornando a Ucrânia e a Polônia.

Apesar da necessidade europeia de ampliar urgentemente a oferta de gás natural em meio à crise do setor, a obra divide opiniões, com os Estados Unidos encabeçando a oposição.

Os críticos sustentam que o novo gasoduto não é compatível com as metas climáticas europeias, acentua a dependência das exportações russas de energia e potencialmente aumentará a influência exercida pelo presidente Vladimir Putin na região. Já a Rússia e Alemanha defendem a iniciativa como “puramente comercial”, uma forma de atender à crescente demanda por gás no continente.

Por sua vez, Yuriy Vitrenko, CEO da Naftogaz, maior empresa ucraniana de petróleo e gás, acusa a russa Gazprom, que lidera o grupo de investidores do Nord Stream 2, de deliberadamente reter o gás que poderia ir para a Europa, além de bloquear o acesso ao sistema de transporte de gás de outras empresas russas.

A Ucrânia, em particular, contesta a obra e a trata como uma reprimenda política, porque o novo gasoduto contorna o país e, assim, tira de Kiev os milhões de euros que fatura anualmente como intermediária do fornecimento.

O gasoduto, cuja obra foi concluída em setembro deste ano, integra a estrutura do Nord Stream 1, em operação desde 2011 e responsável pelo abastecimento de 40% do gás natural consumido pelos alemães. Em funcionamento, o Nord Stream 2 adicionará 55 bilhões de metros cúbicos de suprimento de gás por ano, ou cerca de 11% do consumo total anual da UE – em 2019, os 27 países do bloco usaram 469 bilhões de metros cúbicos.

Recentemente, o órgão regulador de energia da Alemanha afirmou que apenas no segundo semestre de 2022 anunciará sua decisão quanto à certificação do Nord Stream 2, que também virou arma geopolítica contra a possível invasão da Ucrânia pela Rússia. Isso porque os líderes da UE sugerem ao novo chanceler alemão Olaf Scholz que encerre definitivamente o projeto em caso de agressão russa.

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