Sanções comprometem capacidade de Moscou reparar refinarias em meio a ataques de Kiev

Devido ao êxodo de empresas, faltam peças e mão de obra capacitada para corrigir problemas nem sempre causados pelos bombardeios

Desde o início do conflito na Ucrânia, em 24 de fevereiro de 2022, tem-se debatido o real impacto das sanções ocidentais sobre a economia da Rússia. Com a indústria nacional voltada aos esforços de guerra e graças a uma série de medidas evasivas, Moscou tem conseguido contornar o problema. Agora, porém, enfrenta um novo desafio: obter peças e mão de obra necessárias para reparar as refinarias de petróleo em meio aos ataques ucranianos. As informações são da agência Reuters.

Nas últimas semanas, as forças de Kiev têm intensificado os bombardeios contra refinarias de petróleo russas, a ponto de colocar em alerta inclusive os EUA. Segundo o jornal Financial Times, Washington pediu ao aliado que interrompa os ataques sob a alegação de que eles podem gerar um aumento global do preço dos combustíveis.

Bombas de petróleo no sul da Rússia (Foto: Banco Mundial/Flickr)

Internamente, o impacto já vinha sendo sentido. Levantamento da Reuters aponta que a Rússia perdeu 14% de sua capacidade de refinamento devido aos bombardeios. A situação levou o governo, em 1º de março, a proibir por seis meses as exportações de gasolina, segundo o Ministério da Defesa do Reino Unido, que se manifestou na rede social X, antigo Twitter.

Para retomar a produção, Moscou precisa reparar os danos causados. Embora diga publicamente que o impacto foi reduzido, encontra obstáculos para comprar peças e contratar mão de obra capacitada, vez que milhares de empresas ocidentais deixaram de atuar no país como reação ao conflito e em respeito às sanções ocidentais.

A refinaria NORSI, quarta maior da Rússia, é a mais problemática neste momento, por culpa de uma turbina danificada. Ocorre que a única empresa competente para fazer os reparos, a multinacional de engenharia de petróleo UOP, deixou a Rússia em virtude da invasão.

Fontes ouvidas pela reportagem confirmaram que a falha comprometeu cerca de 40% da produção total do estabelecimento, responsável por 11% de toda a gasolina produzida no país. A reportagem calcula que a paralisação parcial custe quase US$ 100 milhões em receitas ao mês.

Identificados em janeiro, os danos na turbina não parecem diretamente ligados a um ataque ucraniano, vez que o primeiro relato de uma ação de drones surgiu em fevereiro. Porém, as fontes admitem que os bombardeios pioraram a situação, danificando outros equipamentos que igualmente exigem manutenção especializada.

“Se o fluxo de drones continuar neste ritmo e as defesas aéreas russas não melhorarem, a Ucrânia será capaz de reduzir as operações de refino russas mais rapidamente do que as empresas russas serão capazes de repará-las”, disse Sergey Vakulenko, especialista na indústria energética russa e analista do think tank Carnegie Endowment for International Peace.

Para a Rússia, uma forma de driblar o problema seria trocar o fornecimento de combustível refinado por petróleo bruto. Porém, neste segundo caso, tem apenas alguns poucos clientes, como China, Índia e Turquia. Já a lista de compradores de combustível refinado é consideravelmente mais ampla, pois envolve também clientes com capacidade reduzida de refinamento, entre eles países sul-americanos e africanos.

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