Sob pressão de Moscou, grupo de apoio a mães e mulheres de soldados fecha as portas

Conselho de Mães e Esposas relatava problemas das forças armadas, como falta de treinamento e de equipamento para os recrutas

O Conselho de Mães e Esposas, uma entidade russa informal que defende os interesses de cidadãos recrutados para lutar na Ucrânia, foi forçado a encerrar suas atividades nesta semana. A decisão foi tomada após o grupo ter sido rotulado como “agente estrangeiro” por Moscou. As informações são da rede Radio Free Europe (RFE).

Olga Tsukanova, líder e fundadora do Conselho, afirma que também foi classificada, individualmente, como agente estrangeiro. Quanto ao grupo, ela diz que a justificativa oficial do governo foi a de que a entidade republicou material originalmente produzido por um veículo rotulado. A decisão de fechar as portas foi anunciada em vídeo publicado no aplicativo de mensagens Telegram.

Soldados do exército russo em treinamento (Foto: eng.mil.ru)

“Não queremos mais atuar com esse estigma, porque dessa forma é humilhante para as mulheres. Decidimos que a forma como o Conselho de Mães e Esposas tem trabalhado todos esses meses não pode existir. Não nos reconhecemos como agentes estrangeiros, porque somos mães, esposas, indígenas desta terra onde estou agora”, disse Tsukanova.

A designação de “agente estrangeiro” carrega conotações negativas da era soviética e serve para rotular o que seriam organizações envolvidas em atividades políticas financiadas pelo exterior. A classificação acaba por afastar potenciais parceiros e anunciantes e muitas vezes sufoca financeiramente as entidades, obrigadas a fornecer ao governo relatórios detalhados sobre suas finanças e atividades.

O Conselho de Mães e Esposas

A finalidade do Conselho não é contestar a guerra da Ucrânia, e sim prestar apoio aos cidadãos levados ao campo de batalhas com base no programa de recrutamento obrigatório instituído pelo presidente Vladimir Putin em setembro do ano passado.

Durante o período em que esteve ativo, o Conselho relatou as muitas dificuldades enfrentadas pelos recrutas, como o fato de serem enviados ao campo de batalhas sem o treinamento necessário, a escassez de equipamento e uniforme e as péssimas condições de abrigo e alimentação na Ucrânia.

Em diversas ocasiões o grupo tentou agendar reuniões ou organizar encontros informais com membros do governo, sobretudo representantes do Ministério da Defesa. O Kremlin sempre se esquivou. membros do Conselho sequer foram convidadas para uma reunião com Putin, que em 25 de novembro recebeu mães de cidadãos mobilizados.

Tsukanova, cujo filho foi recrutado e enviado à guerra, chegou a reclamar que, conforme a entidade ganhava corpo e se tornava mais vocal, ela passou a sofrer perseguição do governo, até que finalmente foi listada como “agente estrangeiro” em 26 de maio deste ano.

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