Soldado russo confessa crimes de guerra na Ucrânia, incluindo assassinatos e saques

Daniil Frolkin detalhou a um veículo investigativo como seus superiores no front ordenavam a execução de civis

Um jovem soldado russo detalhou como matou civis e saqueou seus pertences logo nas primeiras semanas da invasão das tropas de Moscou à Ucrânia. A confissão dos crimes de guerra foi feita à agência de notícias investigativa russa iStories, segundo repercutiu o jornal independente The Moscow Times.

Daniil Frolkin, de 21 anos, esteve no front durante cinco meses. Por meio de uma videochamada, ele admitiu aos jornalistas suas violações cometidas a serviço da 64ª Brigada Independente de Fuzileiros Motorizados, condecorada por Vladimir Putin por “heroísmo e coragem” e acusada por Kiev de participar da matança de civis na cidade de Bucha.

Os crimes ocorreram na localidade de Andriivka, nos arredores da capital, território ocupado por forças russas no primeiros dias de guerra, iniciada em 24 de fevereiro. Segundo informações da rede BBC, aproximadamente 40 dos cerca de mil moradores de Andriivka foram mortos durante a ocupação que se estendeu até abril.

Daniil Frolkin (à esquerda) contou aos jornalistas como matou ucranianos inocentes e deu nomes aos comandantes que deram ordens para os crimes (Foto: Twitter/Reprodução)

“Eu, Daniil Andreevich Frolkin, confesso todos os crimes que cometi em Andriivka. Confesso ter atirado em civis, roubado civis e confiscado seus telefones”, detalhou o militar. “E confesso que nosso comando não dá a mínima para nossos combatentes que lutam na linha de frente”, acrescentou ele, que diz ter decidido fazer a confissão para “salvar outros soldados que estão sendo enviados à Ucrânia para ‘abate’”.

Outros três suspeitos foram identificados a partir de fotos tiradas pelos soldados em um telefone roubado de um morador local. O aparelho foi encontrado após a retirada dos russos e teria armazenado fortes evidências dos supostos crimes de guerra cometidos pelas forças de Putin. São eles: Dmitriy Danilov – que também chegou a falar com a reportagem, mas negou envolvimento –, Ruslan Glotov e Ivan Shepelenko.

Frolkin admitiu ter tirado a vida de um homem em Andriivka, identificado pelos jornalistas como Ruslan Yaremchuk, de 47 anos. A vítima, segundo o soldado, admitiu antes de ser morta que deu ao exército ucraniano a localização de unidades militares russas estacionadas na região. 

“Eu matei um. Mas eu queria salvar o maior número de pessoas possível”, disse Frolkin.

O jornal britânico Daily Mail entrou em detalhes definidos como “assustadores” do relato do soldado. Em seu depoimento, ele disse que seus superiores escolhiam e apontavam o dedo para os civis que deveriam ser executados.

“Então eu fui e atirei neles. A ordem foi dada pelo tenente-coronel Andrey Prokurat”, contou.

Além de Prokurat, ele apontou o coronel Azatbek Omurbekov, conhecido como o “Açougueiro de Bucha”, adicionado à lista de sanções da União Europeia (UE) por conta de supostas atrocidades cometidas na cidade a noroeste de Kiev que ficou mundialmente conhecida após ser cenário de um massacre. Mais que ordenar assassinatos, o oficial estaria usando a violência sexual como arma de guerra. 

Além de Omurbekov, Frolkin pediu “punição” a vários oficiais militares de alto escalão, responsáveis por levar soldados russos “à morte”.

“Eu entendo que serei preso por todas essas informações”, disse ele. “Não pelo que fiz na Ucrânia, mas por todas as informações. Eu só quero confessar tudo e explicar o que está acontecendo em nosso país. Acho que seria melhor se a guerra nunca tivesse começado”, declarou.

O massacre de Bucha

A pressão global por punições à Rússia, às suas tropas e ao presidente Putin aumentou bastante depois que os corpos de dezenas de pessoas foram encontrados nas ruas de Bucha, quando as tropas locais reconquistaram a cidade três dias após a retirada do exército russo. As imagens dos mortos foram divulgadas pela primeira vez no dia 2 de abril, por agências de notícias, e chocaram o mundo.

As fotos mostram pessoas mortas com as mãos amarradas atrás do corpo, um indício de execução. Outros corpos aparecem parcialmente enterrados, com algumas partes à mostra. Há também muitos corpos em valas comuns. Nenhum dos mortos usava uniforme militar, sugerindo que as vítimas são civis.

“O massacre de Bucha prova que o ódio russo aos ucranianos está além de qualquer coisa que a Europa tenha visto desde a Segunda Guerra Mundial”, disse o ministro das Relações Exteriores da Ucrânia, Dmytro Kuleba, em sua conta no Twitter.

Civis mortos nas ruas de Bucha cidade ucraniana (Foto: reprodução/Twitter)

Moscou, por sua vez, nega as acusações. Através do aplicativo russo de mensagens Telegram, o Ministério da Defesa russo disse que, “durante o tempo em que a cidade esteve sob o controle das forças armadas russas, nenhum morador local sofreu qualquer ação violenta”. O texto classifica as denúncias como “outra farsa, uma produção encenada e provocação do regime de Kiev para a mídia ocidental, como foi o caso em Mariupol com a maternidade“.

Entretanto, imagens de satélite da empresa especializada Maxar Technologies derrubam o argumento da Rússia. O jornal The New York Times realizou uma investigação com base nessas imagens e constatou que objetos de tamanho compatível com um corpo humano aparecem na rua Yablonska entre 9 e 11 de março. Eles estão exatamente nas mesmas posições em que foram descobertos os corpos quando da chegada das tropas ucranianas, conforme vídeo feito por um residente da cidade em 1º de abril.

Mais recentemente, Kiev alegou que apenas em Mariupol, que tem sido o principal alvo das tropas russas, foram encontrados ao menos 20 mil corpos de civis mortos. E acusa os soldados russos de depositarem cerca de nove mil cadáveres em valas comuns em Manhush, uma vila próxima à cidade portuária. Ao levar os corpos para outra localidade, o objetivo das tropas de Moscou seria esconder as evidências de crimes.

Vadym Boychenko, prefeito de Mariupol, comparou a descoberta ao massacre de Babi Yar, um fuzilamento em massa comandado nas proximidades de Kiev pelos nazistas em 1941, durante a Segunda Guerra Mundial. Os corpos de cerca de 33 mil pessoas, essencialmente judeus, foram encontrados em valas comuns na ocasião.

“O maior crime de guerra do século 21 foi cometido em Mariupol. Este é o novo Babi Yar. Então, Hitler matou judeus, ciganos e eslavos. Agora, Putin está destruindo os ucranianos”, disse Boychenko. “Precisamos fazer tudo o que pudermos para impedir o genocídio”.

Os mortos de Putin

Desde que assumiu o poder na Rússia, em 1999, o presidente Vladimir Putin esteve envolvido, direta ou indiretamente, ou é forte suspeito de ter relação com inúmeros eventos, que levaram a dezenas de milhares de mortes. A lista de vítimas do líder russo tem soldados, civis, dissidentes e até crianças. E vai aumentar bastante com a guerra que ele provocou na Ucrânia.

Na conta dos mortos de Putin entram a guerra devastadora na região do Cáucaso, ações fatais de suas forças especiais que resultaram em baixas civis até dentro do território russo, a queda suspeita de um avião comercial e, em 2022, a invasão à Ucrânia que colocou o mundo em alerta.

A Referência organizou alguns dos principais incidentes associados ao líder russo. Relembre os casos.

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