Novo presídio de Navalny é notório pelos casos de violência contra encarcerados

Transferência foi confirmada após os advogados dele afirmarem não saber para onde o inimigo de Putin havia sido levado

O político e ativista russo Alexei Navalny, principal opositor doméstico do presidente Vladimir Putin, foi transferido para a colônia penal IK-6 em Melekhovo, perto de Vladimir, cerca de 250 quilômetros a leste de Moscou. A informação surgiu na quarta-feira (15), um dia depois de os advogados dele afirmarem que foram pegos de surpresa com a transferência e que não sabiam onde ele estava.

O próprio Navalny revelou a mudança de endereço em sua conta Instagram, alimentada pela equipe dele. “A viagem espacial continua – mudei de nave para nave. Bem, isto é, olá a todos da zona do regime estrito. Ontem fui transferido para o IK-6 Melekhovo”, disse ele, mantendo o tom bem-humorado habitual.

O oposicionista já havia antecipado a possível mudança de local em maio, ao comentar a mais recente condenação judicial, que aumentou em nove anos o tempo de detenção, incialmente estabelecido em dois anos e meio através de uma sentença de fevereiro de 2021.

“Minha sentença ainda não entrou em vigor, mas os prisioneiros da colônia de regime estrito de Melekhovo escrevem que estão equipando uma ‘prisão dentro de uma prisão‘ para mim”, escreveu ele no aplicativo de mensagens Telegram, no mês passado.

Alexei Navalny, oposicionista do presidente Vladimir Putin (Foto: reprodução/Instagram)

Nesta semana, quando ainda não tinha informação sobre o destino de Navalny, a porta-voz dele, Kira Yarmysh, disse temer pela segurança do oposicionista. “O problema com sua transferência para outra colônia não é apenas que a colônia de alta segurança é muito mais assustadora. Enquanto não soubermos onde Alexei está, ele continua cara a cara com o sistema que já tentou matá-lo, então nossa principal tarefa agora é localizá-lo o mais rápido possível”, disse ela em sua conta no Twitter.

Tortura e morte

O local para onde Navalny foi levado tem um longo histórico de abusos contra prisioneiros, com relatos de estupro e até morte. Ex-agentes carcerários e também presidiários que por lá passaram relatam que eram coagidos pelas autoridades a intimidar os recém-chegados, de acordo com a rede CBS News.

Um caso extremo se destaca, revelado pelo jornal independente russo Novaya Gazeta, em 2018. Gor Ovakimyan, cuja morte dentro da instituição foi oficialmente atribuída a uma pneumonia, na verdade teria morrido em função de lesões causadas por agressões de agentes estatais em uma sessão de tortura.

“Gor nos disse que eles colocaram um balde vazio em sua cabeça, colocaram um alto-falante de baixo e ligaram a música ou algum som de sirene com um efeito ensurdecedor. E jogaram gás sob esse balde para dificultar a respiração”, disse o pai de Ovakimyan ao periódico russo.

“Ele também foi pendurado em uma treliça. Suas mãos foram puxadas para trás da cintura e penduradas como em um rack. E ele ficava pendurado assim, por dez a 12 horas ele ficava pendurado assim”, disse o pai ao jornal. “E por que todos eles fizeram isso? Porque ele se recusou a cooperar com a administração ou incriminar alguém”.

Por que isso importa?

Navalny ganhou destaque ao organizar manifestações e concorrer a cargos públicos na Rússia. A principal plataforma do oposicionista é o combate à corrupção no governo de Vladimir Putin, em virtude da qual ele cobra uma profunda reforma na estrutura política do país.

Em agosto de 2020, durante viagem à Sibéria, Navalny foi envenenado e passou meses se recuperando em Berlim. Ele voltou a Moscou em 17 de janeiro de 2021 e foi detido no aeroporto. Um mês depois, foi julgado e condenado a dois anos e meio de prisão por violar uma sentença suspensa de 2014, sob acusação de fraude. Promotores alegaram que ele não se apresentou regularmente à polícia em 2020, justamente quando estava em coma pela dose tóxica.

Encarcerado em uma colônia penal de alta segurança, ele chegou a fazer uma greve de fome de 23 dias em abril de 2021, para protestar contra a falta de atendimento médico. Depois, em junho, um tribunal russo proibiu os escritórios regionais de Navalny e sua fundação, a FBK, de funcionarem, classificando-os como “extremistas”.

Em janeiro deste ano, ele foi incluído na lista de “terroristas e extremistas” do Serviço Federal de Monitoramento Financeiro da Rússia. No dia 22 de março, foi julgado por peculato e desacato. Condenado, teve o tempo de detenção ampliado em nove anos. Recentemente, mais uma acusação foi adicionada à lista de crimes atribuídos a ele, podendo render-lhe 15 anos adicionais no cárcere.

Os mortos de Putin

Desde que assumiu o poder na Rússia, em 1999, o presidente Vladimir Putin esteve envolvido, direta ou indiretamente, ou é forte suspeito de ter relação com inúmeros eventos, que levaram a dezenas de milhares de mortes. A lista de vítimas do líder russo tem soldados, civis, dissidentes e até crianças. E vai aumentar bastante com a guerra que ele provocou na Ucrânia.

Na conta dos mortos de Putin entram a guerra devastadora na região do Cáucaso, ações fatais de suas forças especiais que resultaram em baixas civis até dentro do território russo, a queda suspeita de um avião comercial e, em 2022, a invasão à Ucrânia que colocou o mundo em alerta.

A Referência organizou alguns dos principais incidentes associados ao líder russo. Relembre os casos.

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