Trégua pedida por Putin é uma tentativa de desacreditar a Ucrânia, diz instituto de defesa

O presidente russo, Vladimir Putin, ordenou uma trégua de 36 horas para a celebração do Natal ortodoxo. Kiev não aceitou e avaliou o pedido como "hipócrita"

Ucrânia disse “não” a uma proposta de cessar-fogo de 36 horas durante o Natal ortodoxo feita pelo presidente russo Vladimir Putin. Para autoridades ucranianas, o pedido do chefe do Kremlin pode ter sido uma tentativa de desacreditar Kiev e atribuir a ela uma atitude de desinteresse nas negociações de paz, segundo uma análise do think tank de defesa sediado nos EUA Instituto para o Estudo da Guerra (ISW, da sigla em inglês). As informações são da revista Newsweek.

As tropas russas iniciaram a trégua na quinta-feira (5) ao meio-dia (horário local), após ordens de Putin, que atendeu o pedido feito pelo patriarca Cirilo I, líder da Igreja Ortodoxa Russa. A informação chegou aos lares do país pela TV estatal russa, que detalhou que o regime de cessar-fogo “entrou em vigor em toda a linha de contato” e se estenderá até sábado (7).

Putin ainda pediu ao lado ucraniano que também declarasse uma trégua no Natal ortodoxo. Ao rejeitar, Kiev disse que não haveria interrupção no front até que Moscou retirasse suas forças do território invadido.

Vladimir Putin e o patriarca Cirilo (Foto: Wikimedia Commons)

O presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, analisou o comportamento do inimigo como uma estratégia. “A Rússia quer usar a trégua como cobertura para impedir nossos avanços em Donbass e trazer mais equipamentos”, disse ele.

O ISW fez uma análise sob outras lentes. Segundo o instituto, “Putin pode ter procurado assegurar uma pausa de 36 horas para que as tropas russas pudessem descansar, recuperar e reorientar para relançar operações ofensivas em setores críticos da frente”. O cessar-fogo “beneficiaria desproporcionalmente as tropas russas e começaria a privar a Ucrânia da iniciativa”, acrescentou.

Além disso, o think tank observou que a negativa de Kiev em relação à trégua ajudaria a criar a narrativa de uma Ucrânia que dá de ombros para a paz, “inflexível e sem vontade de tomar as medidas necessárias para as negociações”.

O ISW também observou que o pedido de Putin pelo cessar-fogo foi visto como hipócrita por parceiros ocidentais da Ucrânia, entre eles o presidente dos EUA, Joe Biden. Isso porque os ataques russos seguiram a toda – incluindo a infraestrutura civil – em 25 de dezembro, data em que muitos ucranianos ortodoxos celebram o Natal.

“Ele (Putin) estava pronto para bombardear hospitais, creches e igrejas em 25 de dezembro e no dia de Ano Novo”, disse Biden, que acrescentou: “Acho que ele está tentando encontrar um pouco de oxigênio”.

Já o conselheiro presidencial da Ucrânia, Mykhailo Podolyak, disparou críticas pesadas à Igreja Ortodoxa no Twitter, a qual definiu como “propagandista de guerra” que incitou o “assassinato em massa” de ucranianos e a militarização da Rússia.

Desgaste

Apesar disso, é evidente que o desgaste militar russo tem se acumulado, ao passo que Putin dá seguidos sinais de que aceitaria negociar uma solução diplomática para o conflito. Mais um desses indicativos surgiu na recente conversa que ele teve por telefone com o líder turco Recep Tayyip Erdogan.

Ancara afirmou nesta quinta-feira (5) que Erdogan disse ao homólogo russo “que os apelos à paz e às negociações devem ser apoiados por um cessar-fogo unilateral e uma visão de uma solução justa”, 

Em dezembro, o líder russo já havia sinalizado que a diplomacia seria a melhor solução. Na ocasião, ele afirmou que, “cedo ou tarde, quaisquer partes em conflito sentam-se e fazem um acordo”. E acrescentou: “Quanto mais cedo essa percepção chegar àqueles que se opõem a nós, melhor. Nunca desistimos disso”.

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