Kiev calcula que nove mil de seus soldados foram mortos até agora na guerra contra a Rússia, que na quarta-feira (24) completará seis meses. Os números foram divulgados pelo general Valerii Zaluzhnyi, chefe das forças armadas da Ucrânia, durante discurso em um evento para veteranos de guerra, na segunda-feira (22).
Ao falar sobre os efeitos da guerra sobre os civis, o oficial afirmou que muitas das crianças da Ucrânia atualmente precisam receber cuidados porque “o pai foi para a linha de frente e, talvez, seja um daqueles quase nove mil heróis que morreram”, de acordo com a agência Associated Press (AP).
No mesmo dia em que o general fez seu discurso, a ONU (Organização das Nações Unidas) atualizou sua estimativa de vítimas menores de idade, afirmando que pelo menos 972 crianças foram mortas ou feridas na guerra. Isso representa uma média de mais de cinco por dia, mas os números reais tendem a ser maiores devido à subnotificação.
Já do lado da Rússia não há dados precisos, vez que Moscou não revela suas estatísticas. No dia 8 de agosto, o governo norte-americano apresentou uma estimativa, sugerindo que entre 70 e 80 mil soldados russos foram mortos ou feridos.
Alguns dias antes, em 20 de julho, William Burns, diretor da CIA (Agência Central de Inteligência), afirmou que 15 mil soldados russos haviam morrido na guerra até então. Embora não tenha revelado dados sobre os ucranianos, sugeriu que as baixas são semelhantes, “provavelmente um pouco menos do que isso”. Mas “bastante significativas”, segundo ele.
Por que isso importa?
A escalada de tensão entre Rússia e Ucrânia, que culminou com a efetiva invasão russa ao país vizinho, no dia 24 de fevereiro, remete à anexação da Crimeia pelos russos, em 2014, e à guerra em Donbass, que começou naquele mesmo ano. Esses conflitos foram usados por Vladimir Putin como argumento para justificar a invasão integral, classificada por ele como uma “operação militar especial”.
“Tomei a decisão de uma operação militar especial”, disse Putin pouco depois das 6h de Moscou (0h de Brasília) de 24 de fevereiro. Cerca de 30 minutos depois, as primeira explosões foram ouvidas em Kiev, capital ucraniana, e logo em seguida em Mariupol, no leste do país. Segundo Putin, a invasão serviria para libertar os cidadãos de etnia russa que vivem na Ucrânia sob opressão de Kiev.
No início da ofensiva, o objetivo das forças russas era dominar Kiev, alvo de constantes bombardeios. Entretanto, diante da inesperada resistência ucraniana, a Rússia foi forçada a mudar sua estratégia. As tropas, então, começaram a se afastar de Kiev e a se concentrar mais no leste ucraniano, a fim de tentar assumir definitivamente o controle de Donbass e de outros locais estratégicos naquela região. O sul ucraniano também entrou na mira, com diversas áreas agora ocupadas por Moscou.
Em meio ao conflito, o governo da Ucrânia e as nações ocidentais passaram a acusar a Rússia de atacar inclusive alvos civis, como hospitais e escolas, dando início a investigações de crimes de guerra ou contra a humanidade cometidos pelos soldados do Kremlin.
O episódio que mais pesou para as acusações foi o massacre de Bucha, cidade ucraniana em cujas ruas foram encontrados dezenas de corpos após a retirada do exército russo. As imagens dos mortos foram divulgadas pela primeira vez no dia 2 de abril, por agências de notícias, e chocaram o mundo.
Fora do campo de batalha, a Rússia tem sido alvo de todo tipo de sanções. As esperadas punições financeiras impostas pelas principais potencias globais já começaram a sufocar a economia russa, e o país tem se tornado um pária global. Desde a invasão da Ucrânia, em 24 de fevereiro, mais de mil empresas ocidentais deixaram de operar na Rússia, seja de maneira temporária ou definitiva, parcial ou integral.