Viajantes ocidentais que tentam ingressar na Rússia são alvo das autoridades

Cidadãos so provenientes sobretudo dos EUA e da União Europeia têm celulares vasculhados e sofrem longo interrogatório

Cidadãos de países ocidentais que se posicionaram contra a Rússia em função da guerra na Ucrânia, especialmente dos EUA e de membros da União Europeia (UE), passaram a ser visados pelas autoridades de imigração russas. Reportagem do jornal independente The Moscow Times identificou ao menos seis casos de pessoas que tiveram celulares vasculhados e foram submetidas a longos interrogatórios quando tentavam ingressar em Moscou por via aérea.

De acordo com um indivíduo de um país europeu que chegou à Rússia proveniente da Armênia, os agentes de imigração adotaram um procedimento agressivo que ele jamais havia registrado, embora tenha vivido na Rússia durante toda a vida. Ao ter o celular vasculhado, o objetivo das autoridades russas era buscar contatos ucranianos, segundo ele.

Já um britânico que chegava ao país diz que passou mais de cinco horas sendo interrogado. “Acho que a lógica deles era ver se eu disse algo que me exporia como sendo o inimigo”, disse, relatando ainda que, durante as cinco horas, a sala onde foi mantido teve a presença de seguranças, pessoas que não conseguiu identificar e agentes da FSB (Agência de Segurança Federal).

Aeroporto Sheremetyevo, em Moscou (Foto: Wikimedia Commons)

O que ajuda a explicar a repentina repressão a visitantes ocidentais é o fato de que a maioria dos países europeus figura atualmente em uma lista de “nações hostis” criada por Moscou duas semanas após o começo da guerra. Um advogado que não quis se identificar diz que existe uma ordem administrativa da FSB para afastar os visitantes provenientes dessas nações listadas.

“Minha sensação foi de que houve uma evolução, de segurança aleatória de aeroporto para uma com pessoas de nível superior. E, no final, suspeito que eram pessoas que sabiam exatamente quem eu era”, disse o britânico. “As perguntas eram sobre tudo: eu, meu trabalho, família, minha atitude em relação à ‘operação especial’, todo tipo de coisa”.

A invasão de privacidade, sobretudo no tocante aos celulares vasculhados, levou a Embaixada dos EUA em Moscou a fazer um alerta: “Os cidadãos dos EUA são lembrados de que não há expectativa razoável de privacidade ao usar eletrônicos na Rússia”. 

Outro britânico que passou por situação semelhante levantou uma questão adicional: “Você não sabe se eles vão tentar colocar algum tipo de software em seu telefone, ou o que eles estão vendo. É como ter alguém vasculhando sua casa enquanto você está do lado de fora”, afirmou. 

Segundo Timur Beslangurov, advogado de migração da empresa Vista Foreign Business Support, de Moscou, a ação severa das autoridades é também uma medida de reciprocidade, vez que teriam sido registrados “casos similares” com viajantes russos no exterior.

O massacre de Bucha

A oposição ocidental à Rússia e ao presidente Putin aumentou bastante depois que os corpos de dezenas de pessoas foram encontrados nas ruas de Bucha, quando as tropas locais reconquistaram a cidade três dias após a retirada do exército russo. As imagens dos mortos foram divulgadas pela primeira vez no dia 2 de abril, por agências de notícias, e chocaram o mundo.

As fotos mostram pessoas mortas com as mãos amarradas atrás do corpo, um indício de execução. Outros corpos aparecem parcialmente enterrados, com algumas partes à mostra. Há também muitos corpos em valas comuns. Nenhum dos mortos usava uniforme militar, sugerindo que as vítimas são civis.

“O massacre de Bucha prova que o ódio russo aos ucranianos está além de qualquer coisa que a Europa tenha visto desde a Segunda Guerra Mundial”, disse o ministro das Relações Exteriores da Ucrânia, Dmytro Kuleba, em sua conta no Twitter.

Civis mortos nas ruas de Bucha cidade ucraniana (Foto: reprodução/Twitter)

Moscou, por sua vez, nega as acusações. Através do aplicativo russo de mensagens Telegram, o Ministério da Defesa russo disse que, “durante o tempo em que a cidade esteve sob o controle das forças armadas russas, nenhum morador local sofreu qualquer ação violenta”. O texto classifica as denúncias como “outra farsa, uma produção encenada e provocação do regime de Kiev para a mídia ocidental, como foi o caso em Mariupol com a maternidade“.

Entretanto, imagens de satélite da empresa especializada Maxar Technologies derrubam o argumento da Rússia. O jornal The New York Times realizou uma investigação com base nessas imagens e constatou que objetos de tamanho compatível com um corpo humano aparecem na rua Yablonska entre 9 e 11 de março. Eles estão exatamente nas mesmas posições em que foram descobertos os corpos quando da chegada das tropas ucranianas, conforme vídeo feito por um residente da cidade em 1º de abril.

Mais recentemente, Kiev alegou que apenas em Mariupol, que tem sido o principal alvo das tropas russas, foram encontrados ao menos 20 mil corpos de civis mortos. E acusa os soldados russos de depositarem cerca de nove mil cadáveres em valas comuns em Manhush, uma vila próxima à cidade portuária. Ao levar os corpos para outra localidade, o objetivo das tropas de Moscou seria esconder as evidências de crimes.

Vadym Boychenko, prefeito de Mariupol, comparou a descoberta ao massacre de Babi Yar, um fuzilamento em massa comandado nas proximidades de Kiev pelos nazistas em 1941, durante a Segunda Guerra Mundial. Os corpos de cerca de 33 mil pessoas, essencialmente judeus, foram encontrados em valas comuns na ocasião.

“O maior crime de guerra do século 21 foi cometido em Mariupol. Este é o novo Babi Yar. Então, Hitler matou judeus, ciganos e eslavos. Agora, Putin está destruindo os ucranianos”, disse Boychenko. “Precisamos fazer tudo o que pudermos para impedir o genocídio”.

Os mortos de Putin

Desde que assumiu o poder na Rússia, em 1999, o presidente Vladimir Putin esteve envolvido, direta ou indiretamente, ou é forte suspeito de ter relação com inúmeros eventos, que levaram a dezenas de milhares de mortes. A lista de vítimas do líder russo tem soldados, civis, dissidentes e até crianças. E vai aumentar bastante com a guerra que ele provocou na Ucrânia.

Na conta dos mortos de Putin entram a guerra devastadora na região do Cáucaso, ações fatais de suas forças especiais que resultaram em baixas civis até dentro do território russo, a queda suspeita de um avião comercial e, em 2022, a invasão à Ucrânia que colocou o mundo em alerta.

A Referência organizou alguns dos principais incidentes associados ao líder russo. Relembre os casos.

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