Zelensky denuncia possível atentado russo contra usina nuclear e manda recado ao Brasil

Kiev afirma que Moscou tem 'tudo preparado' para um ataque e alerta que eventual vazamento de radiação seria um problema global

O presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, acusou na quinta-feira (22) a Rússia de preparar um ataque terrorista contra a usina nuclear de Zaporizhzhya, que é a maior da Europa e está atualmente sob o controle das forças de Moscou. Em mensagem de vídeo publicada nas redes sociais, ele lançou o alerta aos “parceiros” de Kiev, citando entre eles o Brasil.

“A inteligência recebeu informações de que a Rússia está considerando um cenário de ataque terrorista à usina nuclear de Zaporizhzhya. Um ataque terrorista com vazamento de radiação. Eles prepararam tudo para isso”, disse Zelensky em vídeo publicado no Twitter.

“Compartilhamos todas as informações disponíveis com nossos parceiros – todos no mundo. Todas as evidências. Europa, América, China, Brasil, Índia, mundo árabe, África – todos os países, absolutamente todos deveriam saber disso. Organizações internacionais. Todos”, prosseguiu Zelensky.

O líder ucraniano justificou o alerta global lembrando que, em caso de uma ação que libere radiação, não somente a Ucrânia seria afetada. “Infelizmente, venho lembrando repetidamente que a radiação não respeita fronteiras estaduais. Quem ela atingirá é determinado apenas pela direção do vento.”

A relação entre Brasil e Ucrânia não tem sido fácil, com o governo nacional evitando tomar partido no conflito. Os presidentes Lula e Zelensky tiveram a oportunidade de aparar as arestas em maio, quando tinham um bate-papo marcado para ocorrer em meio à reunião do G7 no Japão. Entretanto, uma incompatibilidade de agendas levou ao cancelamento do encontro.

As acusações de Zelensky foram respondidas por Dmitry Peskov, porta-voz do Kremlin. “Esta é outra mentira”, disse ele durante uma coletiva de imprensa. “Acabo de fazer contatos com a AIEA (Agência Internacional de Energia Atômica), que está lá no terreno. Eles viram tudo, tudo o que queriam ver.”

Usina sob ocupação russa

Embora esteja sob ocupação russa desde o início da guerra, a usina de Zaporizhzhya é controlada por funcionários ucranianos que seguem no local. A situação ficou mais delicada desde o rompimento da barragem Kakhovka, na região ucraniana de Kherson, que reduziu o nível de água nos reservatórios de resfriamento dos reatores nucleares e ampliou consideravelmente o risco de uma tragédia.

Rafael Grossi, diretor geral da agência nuclear da ONU (Organização das Nações Unidas), visitou Zaporizhzhya na semana passada para analisar a segurança do local. Cinco dos seis reatores da usina estão praticamente desligados, operando em níveis muito baixos. Já o sexto reator está funcionando em um nível mais alto e exige mais água para o resfriamento.

Usina nuclear de Zaporizhzhya, na Ucrânia (Foto: IAEA Imagebank/WikiCommons)

Na quarta-feira (21), Grossi emitiu um comunicado dizendo que a AIEA busca formas alternativas de desviar água para a usina. Também analisou a situação militar, que segundo ele “torna-se cada vez mais tensa em meio a relatos de uma contraofensiva ucraniana” no sul do país.

O texto também diz que a AIEA “está ciente dos relatos de que minas foram colocadas perto da lagoa de resfriamento”, embora não tenha visto nenhum dos explosivos. Grossi ressaltou, no entanto, que “a situação de segurança e proteção nuclear na Usina Nuclear de Zaporizhzhya é extremamente frágil”, citando novamente a escassez de água como maior problema. 

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