Ataques mataram 25 funcionários da ONU em todo o mundo no ano passado

Duas mulheres boinas-azuis estão entre as vítimas. Pelo oitavo ano consecutivo, Missão de Paz no Mali é a mais perigosa do mundo

Um funcionário civil e 24 soldados de paz da ONU (Organização das Nações Unidas) foram mortos durante ataques ocorridos em 2021. Duas mulheres boinas-azuis estão entre as 25 pessoas que perderam a vida enquanto trabalhavam nas missões de paz e nos projetos humanitários da entidade.  

Os dados foram levantados pelo Comitê para Segurança e Independência do Serviço Civil Internacional do Sindicato de Funcionários das Nações Unidas.

Boina azul da ONU na missão de paz na República Centro-Africana (Foto: MINUSCA/Leonel Grothe)

Pelo oitavo ano consecutivo, a Minusma (Missão Multidimensional Integrada da ONU para Estabilização no Mali) foi a mais perigosa do mundo, com 19 soldados de paz mortos no país.  Em segundo lugar aparece a Minusca (Missão da ONU de Estabilização na República Centro-Africana), onde quatro integrantes perderam a vida em serviço.  

Ao todo, 462 funcionários das Nações Unidas e pessoal associado foram mortos durante ataques deliberados nos últimos 11 anos.  

Violência no Mali

A instabilidade no Mali começou com o golpe de Estado em 2012, quando vários grupos rebeldes e extremistas tomaram o poder no norte do país. De quebra, a nação, independente desde 1960, viveu em maio de 2021 o terceiro golpe de Estado em um intervalo de apenas dez anos, seguindo o que já havia ocorrido em 2012 e também em 2020.

A mais recente turbulência política começou semanas antes do golpe, com a demissão do primeiro-ministro Moctar Ouane pelo presidente Bah Ndaw. Reconduzido ao cargo pouco depois, Ouane não conseguiu formar um novo governo, e a tensão aumentou com a falta de pagamento dos salários dos professores. O maior sindicato da categoria, então, começou a se preparar para uma greve.

Veio a noite do dia 24 de maio, quando o coronel Assimi Goita, vice-presidente do país, destituiu Ndaw e Ouane de seus cargos e ordenou a prisão de ambos na capital Bamako. Segundo ele, os dois líderes civis violaram a carta de transição ao não consultarem o militar na formação do novo governo.

Ao contrário do que ocorreu em golpes anteriores, que contaram com apoio popular, desta vez a maior parte da população malinesa rejeitou a tomada de poder por Goita, que derrubou o governo de transição recém-instituído e assumiu o comando do país. A população civil não foi às ruas protestar contra o militar, mas usou as redes sociais para mostrar sua insatisfação.

Militarmente, especialistas e políticos ocidentais enxergam uma geopolítica delicada na região, devido ao aumento constante da influência de grupos jihadistas e a consequente explosão da violência nos confrontos entre extremistas e militares. Além disso, trata-se de uma posição importante para traficantes de armas e pessoas, e o processo em curso de redução das tropas franceses, que atuam no país desde 2013, tende a piorar a situação.

Os conflitos, antes concentrados no norte do país, se expandiram inclusive para os vizinhos Burkina Faso e Níger. A região central do Mali se tornou um dos pontos mais violentos de todo o Sahel africano, com frequentes assassinatos étnicos e ataques extremistas contra forças do governo.

O caso da República Centro-Africana

Já os conflitos gerados por grupos armados após as eleições de 27 de dezembro na República Centro-Africana forçaram o deslocamento de mais de 200 mil cidadãos para fora do país.

Segundo a Acnur (Agência das Nações Unidas para Refugiados), cerca de 92 mil fugiram para a vizinha República Democrática do Congo. Outros 13 mil cruzaram as fronteiras em direção a Camarões, Chade e Congo. O restante está sem abrigo dentro do próprio país.

Os confrontos começaram dias antes da eleição, em dezembro, quando o Tribunal Constitucional do país barrou a candidatura do ex-presidente François Bozizé ao pleito. A confirmação da reeleição de Touadera acelerou os conflitos.

Desde então, o Exército nacional, apoiado pelas tropas da ONU (Organização das Nações Unidas) e por países como Rússia e Ruanda, tenta conter uma coalizão de milícias. Os rebeldes reivindicam um novo pleito e alegam irregularidades.

Em outubro de 2021, Touadera declarou um cessar-fogo unilateral para iniciar um diálogo nacional, mas nem todos os grupos armados aderiram à proposta. No mês seguinte, partidos da oposição política nacional denunciaram uma violação do cessar-fogo por parte do 3R, que na ocasião atacou uma vila no noroeste do país, matando dois soldados e um civil.

Os ataques rebeldes e os confrontos com forças de segurança dificultam o acesso humanitário ao país, e muitos dos deslocados já apelam para a prostituição em troca de alimentos. Enquanto isso, doenças como a malária, infecções respiratórias e diarreia se tornaram comuns entre a população.

Conteúdo adaptado do material publicado originalmente pela ONU News

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