‘Clima de divisão’ cria ambiente desafiador para as missões de paz da ONU

Operações vêm sendo questionadas em diversos países, sendo que no Mali e na República Democrática do Congo elas foram encerradas

Conteúdo adaptado de material publicado originalmente pela ONU News

As missões de manutenção da paz da ONU (Organização das Nações Unidas) na África Subsaariana estão operando em condições políticas e de segurança cada vez mais desafiadoras devido a uma multiplicação de crises e a um “clima de divisão” entre os Estados-Membros, particularmente no Conselho de Segurança.  A opinião é do subsecretário-geral da ONU para as Operações de Paz, Jean-Pierre Lacroix.

Em entrevista à ONU News, ele afirmou que esses fatores tornam mais difícil o funcionamento das missões, especialmente porque “os esforços políticos neste clima de divisão e tensão não estão fazendo progressos suficientes”.

De acordo com Lacroix, “as tensões a nível global também se refletem a nível local.” Contudo, ele ressalta que a proteção dos civis continua muito ativa e lembra que todos os dias centenas de milhares de civis dependem das forças da ONU de manutenção da paz para a sua proteção.

Sobre os principais desafios, o chefe das Operações de Paz citou eventuais dificuldades com governos anfitriões e frustrações de expectativas em relação ao mandato das missões.

Para ele, as expectativas por vezes são muito elevadas, mas nem sempre podem ser satisfeitas devido à situação no terreno e aos recursos disponíveis.

Soldados de paz da Minusca, a missão da ONU na República Centro-Africana (Foto: Minusca/Flickr)
Relevância das missões

Por outro lado, mesmo com o encerramento de algumas missões no continente africano, Lacroix afirmou que as Operações de Paz são “provavelmente uma das atividades mais apoiadas na ONU”. 

Segundo ele, isso ocorre porque “a maioria dos Estados-Membros são partes interessadas, sejam países que contribuem com tropas ou polícia, membros do Conselho de Segurança ou da Assembleia Geral, ou países com interesse na situação específica em que as forças de manutenção da paz estão destacadas”.

Para o chefe das Operações de Paz, sem elas “a situação seria provavelmente muito pior nesses países e regiões”.

Perigo da desinformação

Lacroix ressaltou que é muito importante explicar nas comunidades atendidas o papel das missões e garantir a eficácia no cumprimento do mandato para combater o aumento das notícias falsas e da desinformação. 

Ele alertou que existem grupos com interesses particulares que “estão realmente interessados ​​no fracasso da manutenção da paz”. 

O especialista explicou que a situação ideal é que uma operação de manutenção da paz parta após a conclusão bem-sucedida de um processo político, quando uma solução política duradoura tiver sido alcançada com o apoio das forças de manutenção da paz.

Como exemplos bem-sucedidos em nações africanas ele citou Moçambique, Namíbia, Angola, Serra Leoa, Costa do Marfim e Libéria.

Retirada do Mali

Nesta segunda-feira, em Bamako, no Mali, os funcionários da Missão Multidimensional Integrada das Nações Unidas para a Estabilização no Mali (Minusma) realizaram uma cerimônia para marcar a conclusão do trabalho no país após dez anos de serviço ao povo maliano. 

Mais de dez mil trabalhadores de manutenção da paz, de um total de 13.871, já deixaram o país.

Lacroix mencionou que esteve no Mali recentemente para agradecer aos funcionários da missão e disse que durante muitas visitas que fez ao país, a população local sempre se mostrou muito positiva e grata ao falar da Minusma.

Ele lembrou que a decisão de encerrar a missão veio das autoridades do Mali e foi posteriormente aprovada pelo Conselho de Segurança. 

Resposta multilateral às crises

“Uma missão da ONU, seja de manutenção da paz ou outro tipo de missão, não pode funcionar se não tiver o apoio do governo anfitrião”, explicou. 

O chefe das Operações de Paz disse que o sucesso das missões “depende, em última análise, da quantidade de apoio unido recebido dos Estados-membros”.

Ele defendeu “um apetite e um compromisso” dos países para fortalecer respostas multilaterais às crises.

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