Escassez global de chips semicondutores pode se estender até 2023, diz chefe da IBM

Reflexo da pandemia, escassez fará indústria automobilística perder US$ 110 bilhões em 2021, aponta levantamento

Jim Whitehurst, presidente da multinacional de tecnologia IBM, alertou nesta sexta (14) que a escassez de chips semicondutores pode se prolongar por dois anos. A indústria tenta se recuperar do choque de demanda provocado pela reabertura da economia mundial, disse o executivo em entrevista à BBC.

Só a indústria automobilística deve perder US$ 110 bilhões em 2021 por conta da escassez, estima a consultoria AlixPartners. A previsão anterior era de US$ 61 bilhões de prejuízo após a produção de 3,9 milhões de veículos.

Os semicondutores são componentes essenciais aos veículos mais novos e operam desde sistemas de infoentretenimento até peças básicas, como direção hidráulica e freios. Dependendo do modelo, um veículo pode ter centenas de semicondutores.

Escassez global de chips semicondutores pode se estender até 2023, diz chefe da IBM
Chip com semicondutores, outubro de 2020 (Foto: Divulgação/Pixabay/vipulK007)

A escassez é um reflexo da pandemia: os bloqueios forçados pela Covid-19 fizeram com que os chips disponíveis ao setor automobilístico fossem transferidos à produção de eletrônicos. Com o reaquecimento econômico, as montadoras estão sem as peças, que derivam dos minerais de terras-raras.

“Há uma grande defasagem entre o momento em que se desenvolve uma tecnologia e quando uma planta de fabricação entra em construção e há o lançamento dos chips”, afirmou Whitehurst. “Francamente, esperamos alguns anos antes de obtermos capacidade incremental suficiente para aliviar a escassez atual”.

A alta demanda já fez com que montadoras do mundo todo reduzissem a produção – fator que deve aumentar os preços de automóveis, apontou o britânico “The Guardian”. Em abril, a Ford anunciou que reduzirá a produção pela metade e que deixará de produzir as famosas caminhonetes F-150. O problema deve custar US$ 2,5 bilhões à companhia.

Aumento de preços e busca por alternativas

Os EUA já sentem a alta dos preços: cerca de um terço do aumento de 4,2% na inflação norte-americana se deu após o aumento dos preços de carros e caminhões. A escassez também afeta a fabricação de eletrodomésticos, que dependem dos semicondutores para a memória e chips de processamento.

A Samsung, que lidera a fabricação de chips de memória, já anunciou que a produção de televisões e eletrônicos será afetada pela escassez. No mundo, Taiwan domina a produção de chips de processamento, com a TSMC (Taiwan Semoconductor), que gera 92% dos semicondutores mais avançados do mundo.

A indústria já considera mudanças na maneira de uso dos microchips, disse Whitehurst. “Teremos que olhar para a reutilização e estender a vida de certos tipos de tecnologia”, apontou.

Montadoras também pesquisam formas de desenvolver relacionamentos diretos com fabricantes de semicondutores, disse o co-diretor da AlixPartners, Mark Wakefield. Já a Ford anunciou que está redesenhando seus componentes automotivos para usar chips mais acessíveis.

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