Família Schurmann segue expedição que combate a poluição plástica nos mares

Velejadores realizam desde agosto de 2021 um projeto que visa a acelerar o fim do descarte de plástico nos mares

Eliminar resíduos plásticos dos oceanos até 2050 foi um dos compromissos assinados na declaração final da Conferência dos Oceanos da ONU (Organização das Nações Unidas). No entanto, para a experiente velejadora brasileira Heloísa Schurmann, aguardar três décadas para ver os mares por onde navega limpos pode ser “tarde demais”.

“Eu participei de vários webinar antes, justamente quando eles estavam fazendo as leis. Mas eu vejo que esse prazo de 2050 é um pouco longe demais da realidade”, diz ela. “As leis têm que mudar para ontem. Tem que ser muito mais urgente do que a gente esperar 2050. Dizem que 2040 terá mais plástico nos oceanos do que peixes e eu acredito nisso. A gente uma quantidade assustadora de plástico”.

A família Schurmann, que dedica a vida a cruzar os oceanos em expedições pelo mundo, está navegando desde agosto de 2021 em um projeto que conta com parceria do Pnuma (Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente).

Heloísa Schurmann e Erika Ternex, também tripulante do veleiro Kat ao lado da família Schurmann, estiveram na sede das Nações Unidas em Nova York para falar sobre o projeto “Voz dos Oceanos”, um movimento mundial de combate à poluição plástica

A iniciativa de acelerar o fim do descarte de plástico nos mares é uma batalha de longa data da família. Segundo Heloísa, já em 1997 ela notava o aumento de resíduos até mesmo em lugares isolados.

“A gente começou a notar a mudança nos mares. Nós navegávamos e íamos para lugares lindos, já são mais de 65 países e culturas diferentes“, conta ela. “Um dia, passando por uma ilha de Henderson Island, no Oceano Pacífico, uma ilha bem isolada, nós paramos numa praia e nos sentamos lá. Era tão isolada que tem pouca visita de pessoas, que vão lá a cada três ou quatro anos. Nos sentamos lá na praia e de repente olhamos para o lado e vimos uns objetos. Azul, verde, vermelho…. O que é isso?! Gente, estou falando em 1997, já eram os plásticos”.

Por isso, ao lado de outros cinco marinheiros, Heloísa embarcou nessa nova volta ao mundo para não só levar conscientização, mas também para impulsionar iniciativas locais de recolher resíduos e levá-los para locais de reciclagem.

Família Schurmann em sua expedição pelos oceanos (Foto: reprodução/Facebook)
Os problemas e as soluções

A italiana Erika Ternex é a cozinheira a bordo do veleiro Kat. Ela está há sete anos com os Schurmann e se transformou na peça-chave para soluções criativas de estocagem de mantimentos e estudos feitos em cada porto. Segundo ela, mesmo em lugares muito remotos, há cenas preocupantes de poluição plástica, o que atinge sobretudo a vida marinha.

“Nas Bahamas, em específico, a gente teve dois acontecimentos durante essas limpezas. Coletamos uma garrafinha que tinha escrito ‘100% reciclável’. Não é que seja uma mentira, mas a gente consome uma quantidade de plástico muito maior do que realmente consegue reciclar. Essa garrafinha, nas mãos certas, seria realmente 100% reciclável. Mas a gente faz escolhas que são impossíveis para o sistema”, diz Ternex.

De acordo com a italiana, não são apenas os problemas que surgem ao longo da expedição. As soluções também se apresentam. “Outra coisa que aconteceu é que a gente encontrou uma garrafa de plástico com duas mordidas super evidentes. A gente imagina que foi um pequeno barracuda ou tubarão. Você percebe que o animal confundiu a garrafa de plástico com alguma coisa para comer. Tem duas mordidas, com os dentes, mesmo. É muito triste isso, sabe? Mas, também, aquilo que a gente está vendo muito e tendo a sorte de encontrar em cada parada, são as coisas que o pessoal está fazendo”.

Compromissos

Além da Conferência dos Oceanos, em março deste ano, o Pnuma celebrou o acordo para acabar com a poluição plástica até 2024. Mas, para Heloísa e Erika, além da implementação de políticas ambientais e leis, a força de cada um para mudar a trajetória de aumento da poluição marítima é fundamental.

Embora essa fase da expedição esteja prevista para acabar em dezembro de 2023, a tripulação do veleiro Kat não deve buscar terra firme tão cedo. Heloísa e Erika já têm planos de estender o projeto e seguir pelo mundo para advogar por mares mais limpos e pela proteção da vida marinha.

Conteúdo adaptado do material publicado originalmente pela ONU News

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