Mais de 250 milhões de pessoas enfrentaram fome severa em 2022, segundo a ONU

Taxa de insegurança alimentar global é a maior dos últimos sete anos, de acordo com estudo liderado pelas Nações Unidas

Com a crise sanitária trazida pela pandemia, a guerra na Ucrânia e as agressões ao meio ambiente, o número de pessoas que passam fome deu um salto nos últimos anos. De acordo com relatório produzido sob a liderança da ONU (Organização das Nações Unidas), cerca de 258 milhões em 58 países estiveram diante de pratos vazios em 2022, representando a maior taxa de insegurança alimentar dos últimos sete anos. As informações são do Yahoo News.

Além do confronto entre Moscou e Kiev, conflitos locais, mudanças climáticas e os impactos econômicos da pandemia de Covid-19 foram os principais fatores que contribuíram para a fome, juntamente com a alta inflação. Apesar desses desafios, muitos críticos afirmam que a insegurança alimentar em larga escala poderia ter sido evitada de maneira significativa.

O Relatório Global de 2023 sobre crises alimentares revelou que o número de pessoas que enfrentam fome em todo o mundo aumentou em 33% em 2022 em comparação com o ano anterior, totalizando 193 milhões de pessoas em 53 países e territórios. Além disso, pelo quarto ano consecutivo, mais pessoas estão sofrendo de insegurança alimentar grave, classificadas na Fase 3 ou superior de acordo com o IPC (Classificação Integrada de Fases de Segurança Alimentar). O IPC é uma ferramenta utilizada para análise e tomada de decisões relacionadas à segurança alimentar.

Ashley Mailey Bravo Vasquéz, 6 anos de idade, da Guatemala: fome é um problema global (Foto: Unicef)

De acordo com Emily Farr, líder de segurança alimentar e econômica da Oxfam, uma organização global dedicada ao combate à pobreza global, por anos, organizações e indivíduos em posições de poder têm alertado sobre essa última crise de fome, que faz parte de um ciclo longo e evitável. Não surtiu efeito, segundo ela.

“No entanto, parece que a comunidade internacional não está ouvindo esses avisos e cumprindo suas responsabilidades até que uma verdadeira catástrofe ocorra, e mesmo assim ainda não é suficiente,” disse Emily.

A insegurança alimentar aguda requer assistência urgente em termos de alimentação, nutrição e meios de subsistência. De acordo com os autores do relatório, a escassez de recursos devido às diversas crises ao redor do mundo muitas vezes resulta em problemas como a fome, especialmente nos países mais pobres, que se intensificam ao longo do tempo.

A disponibilidade limitada de financiamento em relação à necessidade existente torna necessário tomar decisões difíceis sobre a distribuição de alimentos para atender às demandas. Rebecca Richards, diretora da Global Network Against Food Crises, responsável pela produção do relatório, explicou à Devex, uma organização de notícias independente que aborda o desenvolvimento global, que o financiamento é tão limitado que é “necessário escolher quem receberá assistência alimentar” com base nessas restrições.

Segundo o relatório encomendado por organizações como a FAO (Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura), PMA (Programa Mundial de Alimentos), Banco Mundial, União Europeia (UE), Estados Unidos e membros da Rede Global Contra Crises Alimentares, aproximadamente 40% da população na Fase IPC 3 ou superior – equivalente a cerca de 108 milhões de pessoas – residiam em apenas cinco países: República Democrática do Congo, Etiópia, Afeganistão, Nigéria e Iêmen.

O que está por trás

O relatório identifica como principal fator para o aumento da fome global os choques econômicos resultantes da guerra da Rússia na Ucrânia, que é conhecida como “o celeiro da Europa”. A guerra afetou significativamente as remessas de trigo para países como a Somália, que depende em cerca de 90% das importações dessa cultura de cereal da Ucrânia e da Rússia. Isso resultou em uma forte alta nos preços do trigo. As consequências da guerra, agravadas pelo impacto da pandemia de coronavírus, levaram à fome severa em 27 países, afetando cerca de 84 milhões de pessoas.

Mudanças climáticas afetaram 117 milhões de pessoas em 19 países ou territórios, enquanto conflitos locais impactaram 57 milhões de pessoas em 12 países, de acordo com o relatório. O secretário-geral da ONU, António Guterres, descreveu as conclusões como um “fracasso da humanidade” em alcançar o Objetivo de Desenvolvimento Sustentável 2 de acabar com a fome.

A crise na África subsaariana revela uma incapacidade de responder adequadamente à situação. Os habitantes, que dependem da pesca, pastoreio e agricultura, lutam para sobreviver. Nos últimos dois anos, a região tem enfrentado secas prolongadas devido às mudanças climáticas, levando milhões de pessoas a deixarem suas casas em busca de alimentos e pastagens. Em condições terríveis, os adultos enfrentam a escassez de comida para seus filhos e animais, e a educação se torna uma preocupação secundária.

Essa crise terá impactos duradouros por lá, aponta o estudo. Isso porque mais de 35 milhões de crianças menores de 5 anos sofrem de emagrecimento ou desnutrição aguda, sendo 9,2 milhões delas afetadas pelo emagrecimento severo, uma forma grave de desnutrição associada à alta taxa de mortalidade infantil.

Enfrentamento

O relatório prevê que cerca de 153,3 milhões de pessoas enfrentarão níveis elevados de insegurança alimentar aguda em 2023. Para combater a fome extrema, especialistas enfatizam a importância de ação antecipada e frequente por parte da comunidade internacional.

Isso inclui educação sobre adaptação às mudanças climáticas na produção de alimentos, investimento e apoio a iniciativas de paz. Abordar as causas da insegurança alimentar, como a guerra da Rússia na Ucrânia, é crucial para evitar a recorrência desse problema descontrolado que demanda constante arrecadação de fundos.

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