Mundo caminha para novos recordes de temperatura, alerta órgão meteorológico da ONU

OMM diz que há 80% de chance de o mundo ver a temperatura global média anual superar em 1,5º C os níveis pré-industriais

Ao menos um dos anos até 2028 provavelmente estabelecerá um novo recorde de temperatura global, ultrapassando o limite crucial de de 1,5º C acima dos níveis pré-industriais, disse a agência meteorológica da ONU na quarta-feira (5). 

As últimas previsões da Organização Meteorológica Mundial (OMM) indicam que há 80% de probabilidade de o mundo ver a temperatura global média anual exceder temporariamente 1,5º C na comparação com os níveis pré-industriais, durante pelo menos um dos próximos cinco anos.

“A OMM está soando o alarme de que iremos exceder o nível de 1,5º C numa base temporária e com frequência crescente. Já ultrapassamos temporariamente este nível em meses individuais, e de fato, conforme a média do período mais recente de 12 meses”, disse a secretária-geral adjunto da OMM, Ko Barrett. 

Ela ressaltou, no entanto, que violações temporárias não significam que a meta de 1,5º C estabelecida no Acordo de Paris seja permanentemente perdida porque se refere ao aquecimento de longo prazo ao longo de décadas. 

Derretimento do gelo marinho e geleiras no Polo Norte (Foto: OMM/Gonzalo Bertolotto)

Prevê-se que a temperatura média global perto da superfície para cada ano entre 2024 e 2028 seja entre 1,1º C e 1,9º C superior à linha de base de 1850-1900.

Há uma probabilidade de 47% de que a temperatura global média durante todo o período de cinco anos 2024-2028 exceda 1,5º C acima da era pré-industrial, afirma a Atualização Global da OMM, indicando números acima dos 32% do último relatório, para o período 2023-2027.
 
A probabilidade de tais picos de temperatura, atualmente em 80%, tem aumentado constantemente desde 2015, quando essa probabilidade era próxima de zero. Nos anos entre 2017 e 2021, havia 20% de probabilidade de ultrapassar o limite, e esta probabilidade aumentou para 66% entre 2023 e 2027.

Muito fora do caminho 

“Por trás destas estatísticas está a triste realidade de que estamos muito longe de cumprir as metas estabelecidas no Acordo de Paris”, disse Barrett. 

Ela instou os governos a fazerem mais para reduzir as emissões de gases com efeito de estufa, uma vez que, caso contrário, teria de ser pago um preço cada vez mais elevado em termos de biliões de dólares em custos econômicos, milhões de vidas afetadas por condições meteorológicas mais extremas e danos extensos ao ambiente e à biodiversidade. 
 
Ao abrigo do  Acordo de Paris , os países concordaram em manter a temperatura média global da superfície a longo prazo bem abaixo dos 2º C acima dos níveis pré-industriais e em prosseguir esforços para limitá-la a 1,5ºC até ao final deste século.

A comunidade científica tem alertado repetidamente que um aquecimento superior a 1,5º C corre o risco de desencadear impactos muito mais graves das alterações climáticas e de condições meteorológicas extremas, e cada fracção de grau de aquecimento é importante.

Impactos devastadores

Mesmo aos níveis atuais de aquecimento global, já existem impactos climáticos devastadores, tais como: mais ondas de calor, eventos extremos de precipitação e secas, reduções nas camadas de gelo, gelo marinho e glaciares; acelerando o aumento do nível do mar e o aquecimento dos oceanos.
  
De acordo com o relatório da OMM, por exemplo, prevê-se que o aquecimento do Ártico durante os próximos cinco invernos prolongados na região (de novembro a março), relativamente à média do período 1991-2020, seja mais de três vezes maior que o aquecimento da temperatura média global. 

As previsões para março de 2024-2028 sugerem novas reduções na concentração de gelo marinho no Mar de Barents, no Mar de Bering e no Mar de Okhotsk. 

Tags: