Países ricos geram dez vezes mais impacto climático que países de menor renda

Relatório diz ainda que essas nações usam mais recursos e consomem muito acima da necessidade e da capacidade de restauração

Conteúdo adaptado de material publicado originalmente pela ONU News

Países de menor renda consomem seis vezes menos materiais e geram dez vezes menos impactos climáticos do que nações de renda elevada. A conclusão é do relatório divulgado nesta sexta-feira (1º) pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma) em parceria com o Painel Internacional de Recursos (IRP) durante a 6ª sessão da Assembleia Ambiental da ONU (Unea-6).

O texto ainda aponta que países de renda média-alta mais do que duplicaram a extração e uso de recursos nos últimos 50 anos devido ao crescimento de suas infraestruturas e à realocação de processos intensivos em recursos pelos países de renda alta. 

Mudanças no estilo de vida

Ao mesmo tempo, o uso de recursos per capita e os impactos ambientais a ele relacionados nos países de menor renda permaneceram relativamente baixos e quase inalterados desde 1995.

O texto também revela que a extração dos recursos naturais da Terra triplicou nas últimas cinco décadas devido à enorme construção de infraestruturas em muitas partes do mundo e aos elevados níveis de consumo de materiais, especialmente nos países de renda mais alta.

Emissões de gases em um complexo industrial em Toronto, Canadá (Foto: ONU/Flickr)

A previsão é de que a extração de materiais aumente 60% até 2060 e poderá inviabilizar os esforços para alcançar não só as metas globais em matéria de clima, biodiversidade e poluição, mas também a prosperidade econômica e o bem-estar humano.

A Perspectiva Global de Recursos 2024 apela por mudanças políticas radicais no estilo de vida da humanidade de modo a reduzir o crescimento do uso de recursos, projetado em um terço, com simultâneo crescimento das economias, melhoria do bem-estar das populações e mitigação dos impactos ambientais.

60% das emissões

O relatório conclui que o crescimento da utilização de recursos desde 1970, de 30 para 106 bilhões de toneladas – ou de 23 para 39 quilogramas de materiais utilizados, em média, por pessoa e por dia – tem impactos ambientais dramáticos. 

No geral, a extração e o processamento de recursos são responsáveis por mais de 60% das emissões que provocam o aquecimento do planeta e por 40% dos impactos da poluição atmosférica relacionados com a saúde.

A extração e processamento de biomassa, nas culturas agrícolas e na silvicultura, por exemplo, são responsáveis por 90% da perda de biodiversidade relacionada com o solo e o estresse hídrico, bem como por um terço das emissões de gases de efeito estufa. 

Da mesma forma, a extração e processamento de combustíveis fósseis, metais e minerais não metálicos, como areia, cascalho, argila, representam em conjunto 35% das emissões globais.

“A tripla crise planetária das alterações climáticas, da perda da natureza e da poluição é impulsionada por uma crise de consumo e produção insustentáveis. Devemos trabalhar com a natureza, em vez de apenas explorá-la”, afirmou Inger Andersen, diretora executiva do Pnuma. 

Para ela, reduzir a intensidade de recursos dos sistemas de mobilidade, habitação, alimentação e energia é a única forma de alcançarmos os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável e um planeta justo e habitável para todos.

Desigualdades

Segundo o relatório, em um cenário de elevados níveis de consumo, um foco maior na redução do uso de recursos pode diminuir cerca de 30% da utilização global em comparação com as tendências históricas, enquanto impulsiona a economia global e melhora a qualidade de vida, em conformidade com os limites planetários. 

A recomendação é que sejam desenhadas estratégias para aumentar a eficiência do uso dos recursos e satisfazer as necessidades humanas de forma menos intensiva, garantindo que os benefícios superem os impactos ambientais e de saúde. 

Mineração de areia na Reserva Natural da Ilha Tern, Austrália, 2022, (Foto: Calistemon/WikiCommons)

A integração de externalidades ambientais nos acordos comerciais e o fortalecimento da regulamentação dos mercados financeiros são algumas das medidas para evitar uma redução nos padrões ambientais e maximizar o valor dos recursos utilizados. 

“A conferência climática do ano passado concordou em abandonar os combustíveis fósseis. Agora é o momento de reunir todos à mesa para encontrar soluções que tornem isso possível. Agora é o momento de implementar soluções baseadas em recursos para o clima, a biodiversidade e a equidade, para que todos, em todos os lugares, possam viver uma vida com dignidade”, disse Izabella Teixeira, copresidente do Painel Internacional de Recursos.

Recomendações

Entre as recomendações, o relatório recente destaca a necessidade urgente de institucionalizar a governança dos recursos e definir estratégias para o uso sustentável, especialmente no contexto dos Acordos Ambientais Multilaterais. 

Recomenda-se direcionar o financiamento para práticas sustentáveis, integrar opções de consumo sustentável e tornar o comércio um motor para o uso responsável de recursos. 

Além disso, promover soluções circulares e eficientes em termos de recursos é crucial. Estas medidas poderiam revolucionar sistemas alimentares e energéticos, reduzir em até 80% as emissões de gases de efeito estufa e melhorar o bem-estar global.

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