Ação climática atual é insuficiente e terá ‘consequências catastróficas’, diz relatório

Documento da ONU diz que pandemia não aproximou o planeta das metas do acordo de Paris e projeta mais e maiores desastres naturais

Um relatório inédito publicado nesta quinta-feira (16) por várias agências da ONU (Organização das Nações Unidas) mostra que a concentração de gases na atmosfera atingiu um nível recorde, e o planeta caminha para enfrentar um aquecimento muito perigoso.

O documento “Unidos pela Ciência 2021” comprova que, apesar das reduções de gases durante o confinamento global em função da pandemia de Covid-19, o mundo não está próximo de atingir as metas do Acordo de Paris.

O secretário-geral da ONU, António Guterres, afirma que o número de desastres naturais já é cinco vezes maior do que os registros de 1970, incluindo ondas de calor fatais, furacões, enchentes e incêndios.

O português afirma que “essas mudanças são apenas o começo do pior que está por vir” e faz um alerta: sem reduções imediatas e em larga escala das emissões de gases, será impossível limitar o aumento da temperatura global a 1,5° C, e as “consequências serão catastróficas.”

Incêndio no vale de Orroral, na Austrália, em janeiro deste ano (Foto: Wikimedia Commons

De acordo com cientistas, o aumento da temperatura global já está causando eventos extremos do clima, com enorme impacto nas economias e nas sociedades. 

O relatório sugere um cenário angustiante: mesmo com ação ambiciosa para cortar as emissões de gases, o nível do mar continuará subindo e ameaçando ilhas e populações que vivem em áreas costeiras. 

António Guterres é claro: “o tempo está acabando”, e “é preciso agir agora para evitar mais danos irreversíveis”. O secretário-geral vê a COP26, que ocorre entre 31 de outubro e 12 de novembro, em Glasgow, como a chance de um ponto de virada na situação. A expectativa é de que os líderes mundiais decidam os rumos da ação climática para a próxima década. 

Descobertas notáveis 

De acordo com a OMM (Organização Meteorológica Mundial) reduzir as concentrações de metano (CH4) na atmosfera a curto prazo poderá ajudar no alcance das metas do Acordo de Paris. Mas a medida não elimina a necessidade de reduções mais fortes e rápidas de CO2 e outros gases

Já o Pnuma (Programa da ONU para o Meio Ambiente) alerta que a diferença entre o nível atual de emissões e o nível estipulado pela ciência até 2030 é maior do que nunca.

O relatório explica que a temperatura global será em média 1°C mais quente do que os níveis da era pré-industrial (1850-1900) em cada um dos próximos cinco anos. 

Existe ainda 40% de chance de que a temperatura em um dos próximos cinco anos seja 1,5° C mais quente do que os níveis pré-industriais. No entanto, o relatório destaca que será difícil a temperatura média ultrapassar 1,5° C no período 2021-2025.

Regiões de alta latitude e o Sahel provavelmente estarão mais úmidas nos próximos cinco anos. Em relação ao nível do mar, a expectativa é de aumento entre 0,3 e 0,6 metro ate 2100, mesmo se as emissões de gases forem reduzidas e o aquecimento global for menor do que 2° C. 

Saúde mundial em risco

A OMS (Organização Mundial da Saúde), que também assina o estudo, alerta para o aumento das mortes por calor extremo. Segundo a agência, 103 bilhões de horas de trabalho foram perdidas em 2019, na comparação com os índices de 2000, com trabalhadores afetados pelo clima. 

Além da Covid-19, ondas de calor, incêndios e má qualidade do ar são fatores que ameaçam a saúde humana, colocando em risco especial as populações mais vulneráveis.

Conteúdo adaptado do material publicado originalmente pela ONU News

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