O IPCC (Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas, da sigla em inglês) da ONU (Organização das Nações Unidas) lançou um novo relatório revelando que as emissões globais médias de gases de efeito estufa atingiram os níveis mais altos da história. No entanto, a taxa de crescimento diminuiu para 1,3% na década até 2019, dos 2,1% da década anterior.
A sexta edição da publicação, lançada na segunda-feira (4) enfatiza que é preciso que as emissões líquidas sejam nulas para conter o aumento da temperatura. Cerca de 24 países baixaram as emissões de CO2 por mais de dez anos.
Em mensagem apresentada no lançamento do informe, o secretário-geral António Guterres disse que o relatório do IPCC é uma longa enumeração de promessas climáticas não cumpridas.
Para o chefe da ONU, trata-se de um arquivo da vergonha, catalogando promessas vazias que colocam o mundo firmemente no caminho para uma realidade inabitável. Guterres alertou sobre o caminho rápido para o desastre climático, com principais cidades debaixo d’água, ondas de calor sem precedentes, tempestades aterrorizantes, falta de água generalizada e a extinção de um milhão de espécies de plantas e animais.
O IPCC adverte que não será possível limitar o aquecimento global a 1,5° C se não houver reduções imediatas e profundas de emissões em todos os setores.
Desmatamento
O documento destaca haver evidências crescentes de ação climática, que desde 2010 provocaram reduções sustentadas de até 85% nos custos de energia solar, eólica e baterias. Os cientistas argumentam que a série de novas políticas e leis melhorou a eficiência energética, reduziu as taxas de desmatamento e acelerou a implantação de energia renovável.
O chefe da ONU ressalta que se deve parar de incendiar o planeta e começar a investir na abundante energia verde ao redor do mundo. Para ele, a prioridade deve ser triplicar a velocidade da mudança para matrizes limpas.
O relatório do IPCC explica que a média anual de emissões dos gases de efeito estufa na década em análise esteve acima do que em qualquer década anterior, mas a taxa de crescimento foi menor do que entre 2000 e 2009.
ODS
A previsão é de que as emissões globais de gases de efeito estufa atinjam o pico entre 2020 e, no mais tardar, antes de 2025, em modelos que limitam o aquecimento a 1,5° C ou 2° C. Para ambos os caminhos são recomendadas reduções rápidas e profundas de emissões ao longo das décadas entre 2030 e 2050.
Se não houver um reforço de políticas, além das que foram sendo implementadas até o final de 2020, as emissões devem aumentar além de 2025. A situação causará um aquecimento global médio de 3,2° C até 2100.
O Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas considera essencial que haja uma ação climática célere e justa na mitigação e adaptação aos impactos das mudanças climáticas em favor do desenvolvimento sustentável. As ações de mudança climática também podem resultar em alguns compromissos.
De acordo com o Ipcc, as compensações das opções em cada realidade podem ser gerenciadas por meio do desenho de políticas. Os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, ODS, da Agenda 2030 pode servir de base para avaliar a ação climática no contexto do desenvolvimento sustentável.
Aquecimento
O documento defende ainda algumas opções de mitigação viáveis que podem ser aplicadas no curto prazo, podendo ser ajustadas de acordo com setores, regiões, capacidades, velocidade e escala de implementação.
O relatório defende que sejam reforçadas ações de curto prazo além das contribuições nacionalmente determinadas antes da realização da recente COP26 (Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas).
Esse impulso poderia reduzir ou até evitar desafios de viabilidade de longo prazo do cenário global que limita o aquecimento a 1,5° C.
União Europeia e Estados Unidos
Entre 2010 e 2015, a análise destaca que 43 dos 166 países alcançaram uma dissociação absoluta das emissões de CO2 baseadas no consumo do crescimento econômico, o que significa que esses países experimentaram um crescimento do PIB (Produto Interno Bruto) enquanto suas emissões se estabilizaram ou diminuíram.
Há casos de economias desenvolvidas, como algumas da União Europeia (UE) e os Estados Unidos, e algumas em desenvolvimento, como Cuba, que conseguiram uma dissociação absoluta das emissões baseadas no consumo e no crescimento do PIB.
O IPCC ressalta que esse resultado foi alcançado em vários níveis de renda e emissões individual, mas no geral, a redução absoluta nas emissões anuais foi superada pelo crescimento das emissões em outras partes do mundo.
O estudo defende ainda que se as emissões globais de CO2 continuarem altas taxas, o balanço global orçamento de carbono para manter o aquecimento em 1,5° C provavelmente se esgotará antes de 2030.
Conteúdo adaptado do material publicado originalmente pela ONU News