A alta comissária da ONU para os Direitos Humanos, Michelle Bachelet, falou nesta segunda-feira (13) ao Conselho de Direitos Humanos, em Genebra, sobre o que chamou de “tripla crise planetária”. Ela afirmou que “as mudança climática, a poluição e as perdas ambientais estão impactando diretamente, e de forma severa, os direitos à alimentação adequada, à água, à educação, à habitação, à saúde e ao desenvolvimento”.
Bachelet afirmou que o clima extremo tem afetado pessoas de várias regiões do mundo recentemente. Ela mencionou os incêndios na Sibéria e na Califórnia, as enchentes na China, na Alemanha e na Turquia e as fortes ondas de calor no Ártico, que causaram um nível “sem precedentes de emissões de metano”.
Bachelet destacou também “secas intermináveis no Marrocos e no Senegal” que, para ela, são outros exemplos de eventos climáticos que têm levado milhões de pessoas à miséria, à fome e ao deslocamento.
Brasil
Ao falar da Amazônia. a alta comissária comentou a situação dos indígenas do Brasil e se disse “alarmada com ataques recentes de mineiros ilegais a integrantes dos povos Yanomani e Munduruku”. Ela também manifestou preocupação com as “tentativas de legalizar negócios em territórios indígenas, e de limitar a demarcação de terras”, por meio de um projeto de lei analisado pelo Supremo Tribunal Federal.
A alta comissária da ONU citou com preocupação uma proposta de lei antiterrorismo no Brasil, que, segundo ela, “inclui pontos muito vagos que trazem riscos de abuso contra ativistas sociais e defensores de direitos humanos”.
Seca e fome
Para Bachelet, as crises interligadas de “poluição, mudança climática e biodiversidade ampliam conflitos, tensões e desigualdades estruturais, colocando, cada vez mais, pessoas em situação de vulnerabilidade”.
Na avaliação da alta comissária, o aumento dessas ameaças ambientais constitui o maior desafio para os direitos humanos da nossa era. Ela citou a fome extrema em Madagascar, resultado de quatro anos sem chuvas; emergências na região africana do Sahel, devido às secas; desastres ambientais em China, Bangladesh, Índia e Filipinas, que já desabrigaram milhões de pessoas desabrigadas.
Ao falar do “Corredor Seco” na América Central, que afeta Guatemala, El Salvador e Honduras e causa pobreza e desalojamentos, Bachelet afirmou que resolver essa crise tripla ambiental é uma obrigação humanitária e de direitos humanos.
Democracia
Ao falar ao Conselho de Direitos Humanos, a alta comissária aproveitou para destacar a situação em vários países, como a Guiné-Conacri. Bachelet diz ser “deplorável” mais uma “transição de poder não-democrática” e pede às novas autoridades de fato da Guiné que respeitem as obrigações diante da lei internacional de direitos humanos.
Sobre o Haiti, que sofreu um terremoto há um mês, a alta comissária fez um apelo a todos envolvidos na reconstrução do país para focarem no progresso sustentável e nos direitos econômicos e sociais. Ela também disse que o assassinato do presidente Jovenel Moise é uma demonstração do aumento da insegurança na ilha caribenha.
Bachelet condenou violações de direitos humanos e a impunidade no Iraque e os impactos que a crise política e econômica do Líbano está tendo no setor de direitos humanos do país.
A alta comissária terminou seu discurso apoiando o documento Nossa Agenda Comum, lançado pelo secretário-geral António Guterres no dia 10 de setembro. Para Michelle Bachelet, os 12 compromissos traçados por Guterres trazem esperança de um futuro com um mundo “que navega e resolve ameaças por meio da solidariedade”.
Conteúdo adaptado do material publicado originalmente pela ONU News