Afegãs relatam assédio do Taleban às mulheres por conta do uso do véu islâmico

Polícia da moralidade intensificou a fiscalização, chegando a tirar do carro mulheres que não seguem o rígido código de vestimenta

O Taleban intensificou nas últimas semanas a fiscalização do código de vestimenta imposto às mulheres no Afeganistão. Casos de assédio foram relatados recentemente na cidade de Herat, a terceira maior do país, segundo informa a rede Radio Free Europe (RFE).

A polícia da moralidade, que atua sob a gestão do Ministério para a Promoção da Virtude e Prevenção do Vício, colocou mais agentes em ação desde a semana passada. O objetivo é aumentar a fiscalização sobretudo do uso do hijab, o véu islâmico obrigatório.

Mães afegãs com seus bebês caminham para encontrar um agente de saúde do Unicef (Foto: Mark Naftalin/Unicef)

Uma afegã contou que foi obrigada a descer do veículo sob a acuação de não usar adequadamente o hijab. Respeitando a ordem de não sair de casa desacompanhada imposta a todas as afegãs, ela viajava de carro com o pai quando foi abordada pelos agentes fiscalizadores. Então, o automóvel foi apreendido, e ela recebeu ordens para comparecer ao Ministério de Assuntos Públicos.

Os recentes relatos que chegam do Afeganistão parecem acompanhar uma tendência registrada também no Irã, outro país sob rígido regime islâmico. Por lá, a população se rebelou após a morte de Mahsa Amini, uma jovem de 22 anos abordada pela polícia da moralidade iraniana por usar o hijab de forma incorreta em setembro de 2022. Agredida sob custódia, ela desmaiou, entrou em coma e morreu.

Os iranianos, então, foram às ruas protestar contra a República Islâmica, contestando também o código de vestimenta imposta às mulheres. Inclusive, muitas têm saído de casa sem o hijab no Irã, o que levou o governo a prometer penas mais duras às infratoras, anunciando também que a polícia da moralidade já voltou a fiscalizar o uso do véu.

O caso afegão, no entanto, vai muito além da questão do hijab. O Taleban tem na repressão de gênero uma de suas mais autoritárias marcas, com as mulheres impedidas de estudar e de trabalhar.

Na segunda-feira (17), a ONU (Organização das Nações Unidas) divulgou um relatório sobre a situação dos direitos humanos no Afeganistão, e a violência de gênero ganhou destaque. “As autoridades de fato continuam a restringir os direitos das mulheres e meninas”, diz o documento, que cita uma série de restrições impostas pelo Taleban entre maio e junho deste ano.

De acordo com o documento, no dia 19 de junho, funcionários talibãs do Ministério para a Promoção da Virtude e Prevenção do Vício espancaram uma mulher com um pedaço de pau porque ela entrou em um parque público, desrespeitando assim uma proibição imposta pelo Taleban.

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