Aliados dos EUA hesitam em participar de força-tarefa contra Houthis no Mar Vermelho

Uma semana após o lançamento da Operação Guardião da Prosperidade, proposta por Biden em resposta aos ataques rebeldes iemenitas, muitos aliados demonstram resistência em se associar a ela

O presidente dos EUA, Joe Biden, buscava uma resposta vigorosa da comunidade internacional aos ataques Houthi do Iêmen a embarcações civis no Mar Vermelho. Para isso, lançou uma nova força marítima, a Operação Guardião da Prosperidade, uma coalizão militar para enfrentar a ameaça. Só que, uma semana após o seu lançamento, muitos aliados demonstram relutância em associar-se publicamente ou mesmo participar integralmente do esforço, segundo a agência Reuters.

Dois aliados europeus, Itália e Espanha, listados como parceiros para a Operação, emitiram declarações que sinalizam uma distância estratégica da força marítima. A ambiguidade dessas manifestações levanta questionamentos sobre a coalizão proposta pelo Pentágono.

O Pentágono enfatiza que a força é uma aliança defensiva, formada por mais de 20 nações, e tem como objetivo garantir o fluxo livre de comércio estimado em bilhões de dólares através de um ponto estratégico nas águas do Mar Vermelho, ao largo do Iêmen.

Navio nas cada vez mais perigosas águas do Mar Vermelho (Foto: WikiCommons)

O funcionamento desse corredor marítimo é tido como fundamental para o comércio internacional e, após a escalada do conflito entre Israel e Hamas, navios foram forçados a buscar rotas alternativas para evitar os mísseis disparados pelos rebeldes iemenitas.

Mas quase metade dos países envolvidos ainda não reconheceu nem permitiu que Washington reconhecesse suas contribuições para a iniciativa, que podem ir desde o envio de navios de guerra até a presença de um oficial de estado-maior. A relutância de alguns aliados dos EUA em se comprometerem reflete, em parte, às divisões intensificadas pela guerra em andamento em Gaza.

Apesar das críticas internacionais à ofensiva, que resultou em mais de 21 mil mortes de palestinos, Biden continua a apoiar firmemente Israel. Na visão de David Hernandez, professor de relações internacionais na Universidade Complutense de Madrid, a resistência europeia está ligada à preocupação de seus governos com uma possível rejeição por parte do eleitorado, que demonstra crescente crítica a Israel e receio de envolvimento em conflitos.

Divisões

Embora os EUA aleguem que 20 países participam da força-tarefa marítima, apenas 12 foram divulgados. O major-general Patrick Ryder afirmou que permitirá que outros países anunciem sua participação. A União Europeia (UE) expressou apoio à iniciativa, condenando os ataques Houthi. Apesar do apoio público de alguns países, outros citados no anúncio de Washington esclareceram que não estão diretamente envolvidos.

O Ministério da Defesa italiano informou que enviará um navio ao Mar Vermelho a pedido de armadores locais, mas não como parte da operação dos EUA. A França disse que apoia a liberdade de navegação na região, mantendo seus navios sob comando francês. A Espanha recusa aderir à Operação e opõe-se ao uso da missão antipirataria da UE, Atalanta, para proteger o transporte marítimo do Mar Vermelho. No entanto, o primeiro-ministro Pedro Sanchez está aberto a considerar uma missão alternativa para abordar o problema.

De acordo com a agência Al Jazeera, o Egito e a Jordânia podem ser adicionados à coalizão em breve, pois igualmente têm interesse em garantir a passagem segura de seus navios. A Arábia Saudita, que é parte das Forças Marítimas Combinadas citadas por Austin, já enfrenta os Houthis na guerra do Iêmen e estaria perto de firmar um pacto de cessar-fogo com eles, por isso tende a não se envolver.

Impactos

Ao justificarem os ataques, os rebeldes iemenitas alegam que os navios atingidos são ligados a Israel. As hostilidades vinham forçando uma mudança de hábitos das embarcações comerciais, a ponto de a British Petroleum (BP) ter anunciado na segunda que todas as remessas de petróleo pelo Mar Vermelho seriam temporariamente interrompidas, segundo a rede CBS News.

Aproximadamente 12% do comércio global passa pelo Mar Vermelho, ligado ao Mar Mediterrâneo pelo Canal de Suez. As ações dos Houthis, que levaram outras gigantes além da BP a interromper o trânsito pela região, impuseram custos mais elevados e atrasos nas entregas de energia, alimentos e bens de consumo em geral, com muitos navios optando por rotas através da África.

Por que isso importa?

Os Houthis, formalmente conhecidos como “Ansar Allah” (expressão em árabe que pode ser traduzida como “Apoiadores de Deus”), se consideram parte de um “eixo de resistência”, opondo-se a Israel, aos EUA e ao Ocidente. Sua atuação está inserida em conflitos armados no Iêmen, envolvendo confrontos tanto com o governo central quanto com outros grupos rebeldes. Uma das principais fontes de tensão é a percebida marginalização dos insurgentes no cenário político e econômico do país.

Em 2014, os Houthis capturaram a capital iemenita, Sanaa, o que desencadeou um conflito mais amplo, resultando na intervenção militar de países vizinhos. Além das tensões locais, os Houthis são frequentemente associados ao Irã, levantando preocupações sobre uma possível influência iraniana na região. Contudo, é importante destacar que os rebeldes também têm motivações locais e uma agenda própria no contexto iemenita.

Quanto aos recentes ataques marítimos, os Houthis têm ameaçado e atacado navios no Mar Vermelho, alegando visar alvos associados a Israel. Eles ameaçam dar continuidade às ações hostis caso os palestinos não recebam ajuda de emergência.

Recentemente, os rebeldes xiitas lançaram mísseis balísticos que atingiram três navios no Mar Vermelho. Em resposta ao pedido de socorro, um navio de guerra dos EUA derrubou três drones, conforme informado pelos militares norte-americanos. O grupo iemenita reivindicou a responsabilidade por dois dos ataques. 

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