Com mais sete execuções, Irã chega a nove na semana e mais de 200 neste ano

De acordo com a ONU, a média é superior a dez mortes por semana, tornando o Irã um dos maiores executores do mundo

O Irã executou mais sete condenados na quarta-feira (10), totalizando nove penas de morte aplicadas nesta semana e mais de 200 em 2023. Os casos mais recentes foram registrados em dois presídios nas proximidades de Teerã, por acusações de estupro e trafico de drogas. As informações são da rede Voice of America (VOA).

A situação levou a uma manifestação de repúdio de Volker Turk, chefe de direitos humanos da ONU (Organização das Nações Unidas). “Em média, até agora neste ano, mais de dez pessoas são mortas a cada semana no Irã, tornando-o um dos maiores executores do mundo”, disse ele.

A ONG Iran Human Rights (IHR), com sede na Noruega, registrou somente em 2023 um total de 221 execuções, com 7.206 desde 2010. E os números reais tendem a ser ainda maiores, devido ao que as Nações Unidas classificam como “falta de transparência do governo”.

De acordo com a IHR, entre os executados nos últimos 12 anos estão 68 menores de idade e 192 mulheres. “Desde a sua criação, a República Islâmica tem usado a pena de morte como uma ferramenta para manter o poder”, diz a proeminente defensora dos direitos humanos Atena Daemi em relatório publicado pela ONG.

Ativistas da ONG Anistia Internacional protestam contra a pena de morte (Foto: WikiCommons)

Entre as execuções de quarta-feira, três ocorreram na prisão de Ghezal Hesar, na cidade de Karaj, perto de Teerã. O Mizan Online, site do Judiciário iraniano, confirmou os casos e disse que os condenados haviam sido considerados culpados de envolvimento com um cartel ligado ao tráfico de cocaína.

Os outros quatro casos mais recentes ocorreram no presídio de Rajai Shahr, um dos mais temidos do país, na cidade de Gohardasht. “As identidades dos homens, que foram todos condenados à morte por acusações de estupro, não foram estabelecidas até o fechamento do texto”, segundo a IHR.

Ainda de acordo com a ONG, em casos de estupro “há uma grande chance de os réus serem torturados para fazerem falsas confissões, o que é usado para emitir sentenças de morte”. A entidade diz também que o Irã é um dos poucos países do mundo que aplicam a pena de morte para casos de estupro, sendo que muitos julgamentos são “apressados, ​​sem que os réus tenham acesso a um advogado”.

Do lado de fora da prisão de Ghezal Hesar, a IHR diz que ocorreu um protesto de familiares dos três homens executados. As autoridades iranianas teriam feito disparos com armas de fogo e usado gás lacrimogêneo para dispersar a manifestação. Há relatos de que uma pessoa ficou gravemente ferida e foi levada ao hospital.

Um vídeo reproduzido no Twitter mostra o que seria o momento em que a polícia faz disparos na tentativa de dispersar o protesto. “Famílias de prisioneiros no corredor da morte reunidos do lado de fora da Prisão Qezel Hesar em Karaj foram recebidas com balas, gás lacrimogêneo e cassetetes”, diz o texto.

Aas execuções têm aumentado nos últimos meses, em meio aos protestos em todo o país contra a repressão estatal. Eles começaram em setembro de 2022 após a morte de Mahsa Amini, uma jovem de 22 anos que visitava Teerã, capital do país, quando foi abordada pela “polícia da moralidade” por não usar “corretamente” o hijab, o véu obrigatório para as mulheres.

Os protestos começaram no Curdistão, província onde vivia Mahsa, e depois se espalharam por todo o país, com gritos de “morte ao ditador” e pedidos pelo fim da República Islâmica. As forças de segurança iranianas passaram a reprimir as manifestações de forma violenta, com relatos de centenas de mortes.

“A máquina de matar do governo está acelerando”, afirmou Mahmood Amiry Moghaddam, diretor da IHR. “O objetivo é intimidar as pessoas, e as vítimas são as pessoas mais fracas da sociedade”, acrescentou, referindo-se ao fato de que a maioria dos condenados pertence a minorias étnicas iranianas.

O rabino Sharon Kleinbaum, membro da Comissão de Liberdade Religiosa Internacional dos Estados Unidos, reforçou essa percepção em entrevista à rede ABC News. “É uma preocupação extrema para nós. Não acredito que seja um evento único”, disse.

Segundo ele, a sensação é a de que o Irã está cada vez mais desesperado em meio às manifestações populares que ameaçam a República Islâmica. “E, quando sabemos que as teocracias autoritárias estão desesperadas, elas frequentemente se voltam para atos muito, muito extremos”, declarou o rabino.

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