“Confortável e próspera”, diz líder talibã sobre a vida das mulheres no Afeganistão

Sob o regime do grupo radical, os direitos das mulheres e meninas afegãs foram dizimados

No domingo (25), o principal líder do Taleban, Hibatullah Akhundzada, emitiu uma mensagem totalmente desconectada da realidade, na qual ressalta as iniciativas de seu governo para melhorar a situação das mulheres no Afeganistão. No país, elas enfrentam restrições significativas em sua participação pública, oportunidades de trabalho e acesso à educação, e a população em geral protagoniza uma das maiores crises humanitárias do mundo. Ele, porém, classificou a rotina das afegãs como “confortável e próspera”, segundo informa a agência Associated Press.

A declaração de Akhundzada foi divulgada em antecipação a uma das principais datas do calendário muçulmano, o feriado de Eid al-Adha, a assim chamada “Festa do Sacrifício”, que será celebrada no final desta semana em território afegão e em outras nações islâmicas.

Akhundzada, um erudito islâmico, raramente se manifesta publicamente e permanece na província de Kandahar, no sul do Afeganistão, que é o coração do grupo radical que assumiu o governo de fato. Ele foi alçado ao posto de líder do Taleban em 2016, depois de os EUA anunciarem ter matado o antecessor, Mullah Mansour Akhtar.

Em função do risco de ser morto, o atual chefe sempre adotou uma postura discreta, com raras aparições em público. Ele se cerca de outros líderes religiosos e aliados que têm uma postura contrária à educação e ao trabalho das mulheres.

Haibatullah Akhundzada, líder do Taleban (Foto: reprodução/Twitter)

Akhundzada afirmou que o Emirado Islâmico implementou medidas para livrar as mulheres de várias opressões tradicionais, incluindo casamentos forçados, e protegeu seus direitos de acordo com a Sharia, a lei islâmica. Além disso, segundo ele, foram tomadas ações para melhorar a posição das mulheres na sociedade, permitindo-lhes “uma vida confortável e próspera em conformidade com a Sharia”.

A mensagem foi divulgada em cinco idiomas diferentes: árabe, dari, inglês, pashto e urdu. Akhundzada afirmou que em breve os aspectos negativos relacionados ao uso do hijab pelas mulheres e à “desorientação” durante os últimos 20 anos de ocupação serão eliminados.

Ele também destacou que o status das mulheres como seres humanos livres e dignos foi restaurado, e todas as instituições têm a obrigação de ajudar as mulheres a garantir seus direitos em questões como casamento, herança e outros.

A realidade, porém, indica o oposto. Desde o colapso do governo afegão, a repressão contra mulheres e meninas tem sido marca do Taleban. Elas não podem estudar, trabalhar ou sair de casa desacompanhadas de um homem. A perda do salário por parte de muitas mulheres que sustentavam suas casas tem contribuído para o empobrecimento da população afegã. E foram relatados casos de solteiras ou viúvas forçadas a se casar com combatentes.

Mais recentemente, os radicais proibiram inclusive o trabalho das mulheres afegãs em organizações não governamentais e na ONU (Organização das Nações Unidas), o que levou muitas dessas entidades a suspenderem a ajuda humanitária que ofereciam à população do Afeganistão, uma das mais necessitadas de tal suporte em todo o mundo.

Sem intromissões

Akhundzada ainda enfatizou a necessidade de outros países evitarem interferir nos assuntos internos do Afeganistão. Ele expressou o desejo do governo do Taleban de estabelecer relações políticas e econômicas saudáveis com o resto do mundo, especialmente com nações islâmicas, e assegurou que têm cumprido suas responsabilidades nesse sentido.

O líder supremo também endereçou críticas às ações de Israel em relação aos palestinos e fez um apelo ao povo e ao governo do Sudão para superarem suas diferenças e trabalharem juntos em prol da unidade e fraternidade.

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