Desde a tomada de poder, Taleban executou mais de 200 ex-funcionários do governo afegão

Relatório da ONU documentou ainda detenções arbitrárias, tortura e desaparecimentos forçados de ex-agentes de segurança

Desde a tomada de poder pelo Taleban no Afeganistão, em 15 de agosto de 2021, ocorreram ao menos 800 casos de abusos de direitos humanos contra ex-funcionários do governo afegão ou ex-integrantes das forças de segurança nacionais. Os números constam de um relatório divulgado nesta terça-feira (22) pela Missão de Assistência das Nações Unidas no Afeganistão (Unama, na sigla em inglês).

No relatório de 16 páginas, a ONU (Organização das Nações Unidas) documenta mais de 200 execuções extrajudiciais, bem como prisões e detenções arbitrárias, tortura e maus-tratos e desaparecimentos forçados perpetrados contra “indivíduos filiados ao antigo governo da República Islâmica do Afeganistão e suas forças de segurança.”

Agentes de segurança afegãos recebem treinamento de soldado da Turquia (Foto: Wikimedia Commons)

A Unama destaca as 218 execuções extrajudiciais documentadas, sendo as principais vítimas ex-membros das forças armadas do Afeganistão, das polícias locais e nacional e da Direção Nacional de Segurança, o serviço de inteligência afegão.

Na maioria dos casos, os indivíduos foram detidos pelas forças de segurança de fato, muitas vezes brevemente, antes de serem mortos. Alguns foram levados para centros de detenção e mortos enquanto estavam sob custódia, enquanto outros foram levados para locais desconhecidos e mortos, e os seus corpos foram abandonados ou entregues a familiares.

A maioria dos casos ocorreu nos primeiros quatro meses após a tomada de poder, até 31 de dezembro de 2021. Quase metade das 218 execuções extrajudiciais foram realizadas nesse período. As violações de direitos humanos não cessaram depois, embora o ritmo tenha diminuído. Em 2022, por exemplo, foram documentados os assassinatos de 70 ex-agentes do governo por membros do Taleban.

Tais abusos contrariam a promessa dos próprios talibãs de que anistiariam aqueles que serviram ao governo anterior. “Embora o anúncio de uma anistia geral pelo Taleban em agosto de 2021 tenha sido um passo bem-vindo, ele continua a não ser totalmente mantido, prevalecendo a impunidade para as violações dos direitos humanos”, disse Roza Otunbayeva, representante especial do secretário-geral da ONU para o Afeganistão e chefe da Unama.

O Taleban diz que tem atuado para identificar e punir os eventuais responsáveis pelos crimes contra ex-funcionários do governo, mas o relatório questiona os esforços “extremamente limitados” nesse sentido, prevalecendo a impunidade mesmo nos poucos casos em que foi aberta uma investigação oficial.

“O relatório da Unama apresenta um quadro preocupante do tratamento dispensado aos indivíduos afiliados ao antigo governo e às forças de segurança do Afeganistão desde a tomada do país pelos talibãs. Ainda mais, dado que eles tiveram a garantia de que não seriam alvos, é uma traição à confiança do povo”, disse o alto comissário da ONU para os direitos humanos, Volker Turk.

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