Dez anos de crescimento econômico afegão foram revertidos em 12 meses, diz PNUD

Quase 700 mil vagas de emprego fecharam, ameaçando ainda mais uma população que sofre com a pandemia, violência, seca e guerra na Ucrânia.

Pouco mais de um ano depois da tomada do poder pelo Taleban em Cabul, o Afeganistão é dominado por “crises em cascata”, incluindo uma economia paralisada que a ajuda humanitária sozinha não pode resolver, de acordo com um novo relatório do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) divulgado na quarta-feira (5).

O documento diz que a economia regular já em declínio, em oposição ao mercado negro, perdeu quase US$ 5 bilhões após agosto de 2021 e está revertendo “em 12 meses o que levou dez anos para acumular”.

Enquanto isso, o custo de uma cesta básica necessária para evitar a pobreza alimentar aumentou 35%, forçando as famílias mais pobres a se endividar ou vender bens apenas para sobreviver.

Quase 700 mil empregos desapareceram, disse o PNUD, ameaçando ainda mais uma população que sofre com os impactos da pandemia de Covid-19, conflito, seca e guerra na Ucrânia.

“O povo afegão tem sido implacavelmente submetido a circunstâncias extremamente difíceis. Eles sobreviveram a inúmeros desafios nos últimos 40 anos e mostraram enorme resiliência”, afirma o relatório.

O documento prossegue: “No entanto, os últimos 12 meses trouxeram crises em cascata: uma emergência humanitária; contração econômica maciça; e a paralisação de seus sistemas bancários e financeiros, além de negar o acesso ao ensino médio às meninas e as restrições à mobilidade e participação das mulheres na economia”.

Afegãos afetados pelo terremoto que atingiu seu país (Foto: Mark Naftalin/Unicef)
“Resposta forte” da ONU

O chefe do PNUD, Achim Steiner, elogiou a “resposta forte e coordenada da ONU à crise”, dizendo que se mostrou fundamental para evitar uma catástrofe no inverno passado.

“Com base no que funcionou no ano passado, incluindo esforços personalizados em vários setores para melhorar os meios de subsistência de mais de meio milhão de pessoas, há uma necessidade premente de apoiar outras medidas para evitar uma crise mais profunda”, disse ele.

“Precisamos ajudar os afegãos a lidar com o próximo inverno, inclusive por meio de nosso programa ABADEI, que visa apoiar dois milhões de pessoas com meios de subsistência e oportunidades de emprego nos próximos dois anos – com foco em grupos particularmente vulneráveis, como mulheres empresárias e jovens”, prosseguiu Steiner.

Expandindo a conectividade

O relatório pinta um quadro fiscal sombrio no país, que remonta a mais de uma década antes da ascensão do Taleban.

Com o PIB (produto interno bruto) em constante declínio desde 2008, o Afeganistão passou a depender da ajuda internacional para sustentar sua economia, que representava impressionantes 75% do total de gastos do governo e quase 40% do PIB no momento da transição. Mas doadores estrangeiros em grande parte suspenderam a ajuda após a transição, observa o PNUD.

Sem apoio externo, o Afeganistão deve agora contar com receitas domésticas limitadas da agricultura e das exportações de carvão.

As autoridades têm procurado resolver os déficits de receita reprimindo a corrupção nos principais fluxos de receita, como as alfândegas, e entrando em contato com o setor privado e investidores estrangeiros.

“Duas décadas de forte dependência de ajuda e importações internacionais, falta de industrialização e competitividade e mobilidade e conectividade limitadas entre regiões, entre outros fatores, impediram o avanço do Afeganistão”, diz o relatório.

Custo de excluir mulheres

A análise do PNUD prevê que restringir o trabalho das mulheres pode resultar em uma perda econômica de até US$ 1 bilhão – ou até 5% do PIB do país.

“Os direitos das mulheres e meninas são críticos para o futuro do Afeganistão”, disse Kanni Wignaraja, diretor do PNUD para a região da Ásia-Pacífico. “Começa com a educação e continua com oportunidades iguais quando se trata de emprego e remuneração.

“O PNUD colocou o apoio a empresas de propriedade de mulheres no centro de suas atividades de ajuda: fornecemos apoio a 34.000 pequenas empresas de propriedade de mulheres. Nosso objetivo é chegar a 50.000 empresas pertencentes a mulheres até o final deste ano”, afirmou Wignaraja.

O representante residente do PNUD, Abdallah Al Dardari, disse estar grato pelo financiamento de US$ 300 milhões fornecido para o trabalho do programa sobre meios de subsistência como parte da resposta geral à crise, mas declarou que “é necessário muito mais para a recuperação econômica”.

“Os afegãos estão ficando sem tempo e recursos. O Afeganistão precisa do apoio da comunidade internacional para trazer de volta à vida os mercados locais e as pequenas empresas que são a espinha dorsal da economia do Afeganistão”, disse Al Dardari.

Conteúdo adaptado do material publicado originalmente em inglês pela ONU News

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