Economistas alertam para graves consequências se conflito Israel x Hamas não cessar

Oriente Médio abriga algumas das rotas marítimas mais movimentadas do mundo, como o Canal de Suez, o Mar Vermelho e o Golfo Pérsico

A incerteza geopolítica resultante do conflito entre Israel e o Hamas pode afetar negativamente os investimentos e o comércio em todo o mundo. Economistas alertam que, caso o cessar-fogo demore a ocorrer, a guerra pode resultar em aumentos nos preços da energia e interrupções nas principais rotas comerciais, avaliou reportagem da rede CNBC.

Diante desse cenário, esforços diplomáticos de várias potências internacionais se intensificaram na tentativa de estancar as consequências do ataque realizado pelo grupo extremista a civis israelenses no dia 7 de outubro, que ficou conhecido como o “11 de setembro israelense“.

Porém, a resposta dada por Israel, o bombardeio brutal a Gaza na tentativa de eliminar o Hamas, elevou o risco de estender o conflito em toda a região do Oriente Médio, considerada um barril de pólvora.

Crianças em frente à sua casa no norte de Gaza, alvo de um ataque aéreo israelense (Foto: United Nations Photo/Flickr)

Na terça-feira (24), o presidente de Israel, Isaac Herzog, foi veemente: ele disse que Israel não busca uma guerra com o Hezbollah, o grupo militante libanês que recentemente trocou tiros com as forças israelenses no norte do país. No entanto, Herzog alertou que, se essa situação se transformar em um conflito em larga escala, o Líbano não sairá ileso.

Nos últimos dias, a preocupação que paira sobre os economistas se aprofundou ainda mais: a possibilidade de que o conflito se alastre pela região e comece a se configurar como uma ameaça de longo prazo para o abastecimento energético global e as estruturas comerciais fundamentais.

Pat Thaker, diretora da região do Oriente Médio e África na Economist Intelligence Unit, uma unidade de pesquisa e análise econômica pertencente ao grupo The Economist, explicou à CNBC que qualquer conflito no Oriente Médio gera repercussões em toda a economia global. Isso se deve ao fato de a região ser um fornecedor crucial de energia e, igualmente importante, serve como “a principal rota marítima para o comércio global”.

O impacto do aumento nos preços do petróleo na economia global dependerá diretamente da extensão da contenção geográfica do conflito, explicou Thaker. Ela enfatizou que o mercado de petróleo já estava sob pressão devido aos cortes na produção da OPEP+ – uma aliança de países produtores de petróleo que inclui os membros da OPEP (Organização dos Países Exportadores de Petróleo) e outros produtores não pertencentes à entidade, como a Rússia – em resposta à crise liderada pelos sauditas.

Além disso, Thaker observou que essa guerra eclodiu em um momento de “enorme incerteza econômica”, com o conflito na Ucrânia em escalada e os bancos centrais atingindo um ponto crucial em seus ciclos de aperto monetário. Ela alertou que para economias já em recessão ou à beira dela, novos aumentos nas taxas de juros pelo Fed e pelo BCE podem agravar ainda mais sua situação, como destacou em sua entrevista à CNBC.

Mercados emergentes

A possibilidade de um aumento duradouro nos preços da energia é motivo de preocupação para as economias dos mercados emergentes. Em muitos desses países, a energia desempenha um papel mais significativo na pressão inflacionária do que nas economias desenvolvidas, conforme observado por Elijah Oliveros-Rosen, economista-chefe para mercados emergentes na S&P Global Ratings, uma das principais agências de classificação de crédito do mundo.

Ele destaca que ao considerar quais nações podem estar mais suscetíveis diante do aumento sustentado dos preços de energia, é crucial direcionar a atenção para os importadores líquidos de energia que têm uma alta dependência da energia em seus índices de preços ao consumidor (IPC).

Nesse contexto, segundo Oliveros-Rosen, países como o Chile, a Turquia e diversas economias asiáticas, incluindo a Tailândia, Filipinas e Índia, figuram nesse grupo de destaque.

Aos pedaços

A magnitude da destruição causada pelos bombardeios aéreos de Israel em Gaza será um desafio para avaliar e quantificar nos próximos tempos. No entanto, Thaker observou que os impactos econômicos na região já estão se tornando evidentes por meio de protestos generalizados.

Além disso, despesas vindouras despertarão um interesse estratégico das nações vizinhas, incluindo Egito e os países do Golfo, que estão empenhados em evitar que a instabilidade política se estenda para além de suas fronteiras.

Segundo Thaker, a tarefa de reconstrução será de grande envergadura, dado que a região já sofreu consideráveis danos, e essa empreitada provavelmente contará com o financiamento das potências do Golfo, que também estão empenhadas em restaurar a estabilidade da região.

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