EUA enviam veículos blindados ao nordeste da Síria para reforçar forças curdas

Tanques irão auxiliar coalizão militar liderada por Washington na luta contra o Estado Islâmico em território sírio

A coalizão militar liderada pelos EUA contra o Estado Islâmico (EI) enviou recentemente veículos blindados adicionais para auxiliar as Forças Democráticas Sírias (FDS), lideradas pelos curdos, na luta com os jihadistas. As informações são do Comando Central dos Estados Unidos (Centcom).

De acordo com o material divulgado à imprensa, o equipamento que chega à Síria é o M2A3 Bradley Fighting Vehicle, um tanque de transporte leve e totalmente rastreado, que deve incrementar a logística através do país com poder de fogo e proteção.

O reforço chega um mês depois de as FDS terem frustrado um grande ataque da organização islâmica na prisão de Ghwayran, na cidade de al-Hasakah, ocorrido no dia 26 de janeiro. Na ocasião, os veículos Bradley “foram fundamentais para habilitar as forças parceiras na tentativa fracassada do EI de libertar milhares de detidos”, relata o informativo.

Blindados M2A3 na base aérea de Ali Al Salem, no Kuwait, durante exercício militar em 2020 (Foto: U.S. National Archives & DVIDS)

“Eles [os veículos] fornecem uma suprema sensação de confiança aos nossos parceiros enquanto continuam a luta contra o Estado Islâmico”, disse o tenente-coronel Dan Leard.

Apesar de a Coalizão Global ter encerrado seu papel de combate no Iraque no início de dezembro de 2021, os militares seguem no enfrentamento ao EI por meio de forças parceiras no nordeste da Síria, onde o grupo ainda representa uma ameaça.

“A Coalizão reserva-se o direito de defender a si mesma e às forças parceiras contra qualquer ameaça e continuará a fazer todo o possível para proteger nossas forças e garantir que o EI nunca retorne”, acrescentou Leard.

Segundo a rede Kurdistan 24, unidades de armas pesadas das FDS e blindados da coalizão também realizaram exercícios militares conjuntos em Abu Khashab, na zona rural de Deir al-Zor, disse a assessoria de imprensa das forças sírias em comunicado emitido no sábado (19).

“Esses exercícios militares visam testar novas táticas para combater as células do EI, treinar métodos de fornecer apoio rápido a pontos militares, transportar soldados para as áreas de confronto, enfrentar possíveis ataques e destruir alvos fixos e móveis”, detalhou a nota à imprensa.

Embora as FDS tenham anunciado o fim do califado criado pelo grupo extremista em março de 2019 – que em seu ápice comandou uma área de 88 mil km² ao norte da Síria e do Iraque, impôs seu regime a cerca de 8 milhões de pessoas e faturou bilhões de dólares com petróleo, extorsões, roubos e sequestros –, os jihadistas ainda são uma ameaça para a região. Hoje operando em células menores e mais móveis, ele buscam executar ataques contra alvos civis e militares.

Por que isso importa?

Nos últimos anos, o EI se enfraqueceu financeira e militarmente. Em 2017, o exército iraquiano anunciou ter derrotado a organização no país, com a retomada de todos os territórios que ela dominava desde 2014. O grupo, que chegou a controlar um terço do Iraque, hoje mantém apenas células adormecidas que lançam ataques esporádicos, quase sempre focados em agentes do governo. Já as FDS (Forças Democráticas Sírias), uma milícia curda apoiada pelos EUA, anunciaram em 2019 o fim do “califado” criado pela organização extremista na Síria.

Em janeiro deste ano, o grupo sofreu mais um duro golpe quando o exército norte-americano anunciou ter matado Amir Muhammad Sa’id Abdal-Rahman al-Mawla, principal líder da facção. Durante uma operação antiterrorismo dos EUA na Síria, ele explodiu uma bomba que carregava junto ao corpo, matando também mulheres e crianças que o acompanhavam. O evento foi semelhante a outro, em 2019, que terminou com a morte do líder anterior da organização extremista, Abu Bakr al-Baghdadi.

De acordo com um relatório do Conselho de Segurança da ONU (Organização das Nações Unidas) publicado em fevereiro de 2022, as perdas territoriais e de pessoal transformaram o EI, que antes controlava boas partes da Síria e do Iraque, em “uma insurgência principalmente rural, resistindo à pressão antiterrorista sustentada pelas forças da região”.

A pandemia também continua a ser um desafio, pois impede as “viagens transfronteiriças, diminuindo as ameaças decorrentes de fluxos de combatentes em zonas de conflito e viagens terroristas mais amplas em zonas de não conflito”. Por outro lado, a estagnação do terrorismo em meio à onda de Covid-19 aumenta as “oportunidades de recrutamento e radicalização online”, criando a perspectiva de uma retomada futura das ações extremistas globais.

Outro risco que o grupo oferece é a presença de milhares de ex-combatentes em prisões e campos de deslocados em várias partes do mundo. Devolvê-los a seus países de origem e processá-los judicialmente é um desafio para os Estados-Membros da ONU, e os estabelecimentos que abrigam os extremistas são um potencial alvo de ataques para o EI. Exatamente como ocorreu na prisão de Ghwayran, na cidade de al-Hasakah, na Síria, invadida pelo grupo com a meta de libertar seguidores.

“Devido à capacidade severamente degradada, a sobrevivência futura do EI depende de sua capacidade de reabastecer as fileiras por meio de tentativas mal concebidas, como o ataque a Hasakah”, afirmou o major-general norte-americano John W. Brennan Jr., comandante da força de coalização liderada pelos EUA para combater o EI. Segundo ele, a ação na prisão síria gerou enorme prejuízo ao grupo terrorista, que “sentenciou à morte muitos dos seus que participaram deste ataque”.

Atualmente, o principal reduto do EI é o continente africano, onde consegue se manter relevante graças ao recrutamento online e à ação de grupos afiliados regionais. A expansão do grupo em muitas regiões da África desde o início de 2021 é alarmante e pode marcar sua retomada de força. No Sudeste Asiático, ao contrário, os países da região têm obtido sucesso significativo em interromper o terrorismo de facções afiliadas.

No Brasil

Casos mostram que o Brasil é um porto seguro para extremistas. Em dezembro de 2013, levantamento do site The Brazil Business indicava a presença de ao menos sete organizações terroristas no Brasil: Al Qaeda, Jihad Media Battalion, Hezbollah, Hamas, Jihad Islâmica, Al-Gama’a Al-Islamiyya e Grupo Combatente Islâmico Marroquino.

Em 2001, uma investigação da revista VEJA mostrou que 20 membros terroristas de Al-Qaeda, Hamas e Hezbollah viviam no país, disseminando propaganda terrorista, coletando dinheiro, recrutando novos membros e planejando atos violentos.

Em 2016, duas semanas antes do início dos Jogos Olímpicos no Rio, a PF prendeu um grupo jihadista islâmico que planejava atentados semelhantes aos dos Jogos de Munique em 1972. Dez suspeitos de serem aliados ao Estado Islâmico foram presos e dois fugiram.

Mais recentemente, em dezembro de 2021, três cidadãos estrangeiros que vivem no Brasil foram adicionados à lista de sanções do Tesouro Norte-americano. Eles são acusados de contribuir para o financiamento da Al-Qaeda, tendo inclusive mantido contato com figuras importantes do grupo terrorista.

Para o tenente-coronel do Exército Brasileiro André Soares, ex-agente da Abin (Agência Brasileira de Inteligência), o anúncio do Tesouro causa “preocupação enorme”, vez que confirma a presença do país no mapa das organizações terroristas islâmicas.

“A possibilidade de atentados terroristas em solo brasileiro, perpetrados não apenas por grupos extremistas islâmicos, mas também pelo terrorismo internacional, é real”, diz Soares, mestre em operações militares e autor do livro “Ex-Agente Abre a Caixa-Preta da Abin” (editora Escrituras). “O Estado e a sociedade brasileira estão completamente vulneráveis a atentados terroristas internacionais e inclusive domésticos, exatamente em razão da total disfuncionalidade e do colapso da atual estrutura de Inteligência de Estado vigente no país”. Saiba mais.

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