‘Evacuação dos hospitais é impossível’, alertam agências da ONU em Gaza

Cerca de 117 mil pessoas deslocadas estão abrigadas nos dez hospitais ainda operacionais em Gaza e em outras partes do norte da cidade

Conteúdo adaptado de material publicado originalmente pela ONU News

Com a crise Israel-Palestina entrando na quarta semana, as equipes de ajuda da ONU (Organização das Nações Unidas) destacaram na segunda-feira (30) a pressão crescente sobre os hospitais do norte de Gaza, onde estão pacientes e profissionais de saúde. 

Segundo o Escritório de Assuntos Humanitários da ONU (Ocha), as vizinhanças dos hospitais Shifa e Al Quds, na cidade de Gaza, e do hospital Indonésia, no norte do enclave, foram bombardeadas no fim de semana, em meio a relatos de amplas operações terrestres israelenses.

De acordo com o Ocha, cerca de 117 mil pessoas deslocadas estão abrigadas nos dez hospitais ainda operacionais em Gaza e em outras partes do norte da cidade, que receberam “repetidas ordens de evacuação” nos últimos dias.

A Organização Mundial da Saúde (OMS) reiterou que “a evacuação dos hospitais é impossível sem pôr em perigo a vida dos pacientes”.

Cesarianas de emergência estão sendo realizadas sem anestesia em meio à escassez de suprimentos médicos e energia e muitos partos estão tendo que ser realizados de forma prematura, disse o Fundo de Populações da ONU, Unfpa, citando testemunhos angustiante da equipe do Hospital Shifa.

A Agência da ONU de Assistência aos Refugiados Palestinos (UNRWA) disse na segunda-feira que seus trabalhadores humanitários em Gaza “continuam prestando assistência” a mais de 600 mil pessoas que buscaram segurança nos abrigos da organização. 

“Eles são o rosto da humanidade durante uma das suas horas mais sombrias”, afirmou a entidade em um comunicado.

Khan Yunis, cidade palestina situada no sul da Faixa de Gaza onde brasileiros aguardam evacuação (Foto: WikiCommons)
O número de mortos continua aumentando

A agência realizou um serviço memorial no domingo para 59 dos seus funcionários mortos no conflito até agora, e o secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, sublinhou a sua “gratidão, solidariedade e total apoio” aos colegas que trabalham para salvar vidas em Gaza enquanto arriscam as suas próprias.

Na noite de domingo (29), o número de mortos em Gaza desde 7 de outubro ultrapassou a marca de oito mil, de acordo com o Ministério da Saúde administrado pelo Hamas em Gaza.

O Ocha também disse que os disparos indiscriminados de foguetes de grupos armados palestinos contra cidades e vilas israelenses continuaram nas últimas 24 horas, sem relatos de mortes.

De acordo com as autoridades de Israel, 239 israelenses e cidadãos estrangeiros, incluindo cerca de 30 crianças, permanecem reféns em Gaza e 40 pessoas ainda são dadas como desaparecidas na sequência dos ataques terroristas do Hamas contra Israel, em 7 de outubro, que mataram 1,4 mil pessoas.

A ONU apelou repetidamente pela libertação imediata e incondicional dos reféns. Guterres repetiu no domingo que “nunca há justificativa para matar, ferir e raptar civis”.

Agitação civil

No domingo, “pelo menos 33 caminhões” transportando água, alimentos e suprimentos médicos entraram em Gaza através da passagem de Rafah com o Egito, a maior entrega deste tipo desde que os comboios foram retomados em 21 de outubro.

Segundo o Ocha, “embora este aumento seja bem-vindo, é necessário um volume muito maior de ajuda numa base regular para evitar uma maior deterioração da terrível situação humanitária, incluindo a agitação civil”.

Durante o fim de semana, milhares de pessoas invadiram vários armazéns e centros de distribuição da UNRWA, levando farinha de trigo, produtos de higiene e outros artigos.

Ao mesmo tempo, um apagão de telecomunicações que durou mais de 24 horas isolou os habitantes de Gaza do resto do mundo e uns dos outros. 

O diretor de Operações da UNRWA, Tom White, descreveu o desenvolvimento como “um sinal preocupante de que a ordem civil está a começar a ruir após três semanas de guerra e um cerco estrito a Gaza”. 

O Ocha ressaltou mais uma vez que a entrada de combustível, que não foi permitida nos caminhões de ajuda, é “urgentemente necessária” para operar equipamentos médicos e instalações de água e saneamento.

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