Familiares acusam agentes estatais iranianos de vandalizarem o túmulo de Mahsa Amini

Lápide do túmulo fica protegida dentro de uma moldura de vidro, que aparece quebrada nas fotos mostradas pelo advogado da família

A família da jovem Mahsa Amini, morta no ano passado pela chamada “polícia da moralidade” do Irã, agora acusa agentes estatais de vandalizarem o túmulo dela. As informações são da rede Radio Free Europe (RFE).

Saleh Nikbakht, advogado da família Amini, mostrou fotos do que seria o túmulo danificado e disse que o governo proibiu a família de instalar um dossel que ajudaria a proteger o local. Ele, então, atribuiu os danos a agentes estatais, alegando que “indivíduos, conhecidos por tais ações desagradáveis ​​no passado atacaram e destruíram a tumba de Mahsa Amini”.

A lápide do túmulo de Mahsa fica protegida dentro de uma moldura de vidro, como mostra uma foto publicada em seu Instagram (imagem abaixo) por Ashkan Amini, irmão dela. Pelas imagens apresentadas pelo advogado, o vidro aparece quebrado.

“Até o vidro de sua lápide os incomoda”, disse Ashkan no perfil, para então acrescentar: “Não importa quantas vezes eles quebrem, vamos consertar. Vamos ver quem se cansa primeiro.”

Ashkan Amini ao lado do túmulo da irmã, Mahsa (Foto: Instagram)
A morte de Mahsa Amini

Mahsa visitava Teerã, capital do país, quando foi abordada pela polícia da moralidade por não “estar usando corretamente o hjab”, o véu obrigatório para as mulheres. Sob custódia, ela desmaiou, entrou em coma e morreu três dias depois. Segundo agências de notícias locais, teria morrido de uma doença, mas a família alega que foi espancada.

Em outubro do ano passado, cerca de 800 médicos iranianos, todos membros do Conselho de Medicina do país, acusam o chefe do órgão, Mohammad Raeiszadeh, de servir ao governo central e assim ocultar a verdadeira causa da morte da jovem. Os membros acusam o órgão e seu chefe de ignorarem as “obrigações morais e sociais dos médicos de proteger as pessoas”.

A versão oficial, de morte por uma doença, foi contestada por Hossein Karampour, médico e principal autoridade da província de Hormozgan. Segundo ele, a mais provável causa da morte da jovem foi uma pancada na cabeça. Médicos que viram fotos dizem que, embora não tenham examinado o corpo, o sangramento no ouvido exibido nas imagens sugere que ela levou uma pancada na cabeça.

A morte da jovem desencadeou uma onda de protestos que começou em setembro do ano passado e prossegue até hoje, colocando em risco inclusive a manutenção da República Islâmica instituída após a revolução de 1979.

República Islâmica ameaçada

Protestos populares tomaram as ruas do Irã após a morte de Mahsa Amini. As manifestações começaram no Curdistão, província onde ela vivia, e depois se espalharam por todo o país, com gritos de “morte ao ditador” e pedidos pelo fim da República Islâmica.

As forças de segurança iranianas passaram a reprimir as manifestações de forma violenta, com relatos de centenas de mortes nas mãos da polícia e inúmeros casos de execuções judiciais abusivas, aplicadas contra manifestantes julgados às pressas.

No início de outubro, a ONG Human Rights Watch (HRW) publicou um relatório que classifica o regime iraniano como “corrupto e autocrático”, denunciando uma série de abusos cometidos pelas forças de segurança na repressão aos protestos populares.

Além dos mortos e feridos, a HRW cita os casos de “centenas de ativistas, jornalistas e defensores de direitos humanos” que, mesmo de fora dos protestos, acabaram presos pelas autoridades. Condena ainda o corte dos serviços de internet, com plataformas de mídia social bloqueadas em todo o país desde o dia 21 de setembro, por ordem do Conselho de Segurança Nacional do Irã.

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