Habitantes de Gaza ‘ficaram sem nada além de escolhas impossíveis’, diz autoridade da ONU

Ministério da Saúde do Hamas relatou o maior número de mortes em um dia na quarta-feira: 756 pessoas, sendo 344 crianças

Conteúdo adaptado de material publicado originalmente em inglês pela ONU News

O 19º dia do conflito em Gaza surge logo após as 24 horas mais mortíferas até agora, em meio ao fechamento de hospitais, enquanto os humanitários da ONU (Organização das Nações Unidas) reiteraram apelos urgentes na quinta-feira (26) para que todos os civis sejam protegidos, e os reféns, libertados.

Relatos de uma incursão militar israelense durante a noite usando tanques no norte de Gaza seguiram-se a outra série de apelos das Forças de Defesa de Israel (IDF, na sigla em inglês) para que os civis na Cidade de Gaza evacuassem. Avisos que “não fazem diferença” porque “as pessoas não têm para onde ir ou não podem se mover”, segundo a principal autoridade humanitária da ONU no território palestino ocupado, Lynn Hastings.

“Quando as rotas de evacuação são bombardeadas, quando as pessoas do norte e do sul são apanhadas em hostilidades, quando faltam os elementos essenciais para a sobrevivência e quando não há garantias de regresso, as pessoas ficam apenas com escolhas impossíveis”, disse ela, insistindo que “nenhum lugar é seguro em Gaza.”

Hastings destacou a obrigação de proteção dos civis em conflitos armados e reiterou os apelos pela libertação imediata e incondicional das mais de 220 pessoas mantidas em cativeiro pelo Hamas desde a incursão mortal do grupo em Israel, em 7 de Outubro.

Esse ataque terrorista deixou mais de 1,4 mil mortos, atraindo a condenação generalizada e imediata de altos funcionários da ONU, incluindo o secretário-geral António Guterres.

Menino tira água da cisterna em vilarejo em Gaza (Foto: WikiCommons)
Apoio médico para reféns:

Pouco se sabe sobre a situação dos cativos. Depois de se reunir com algumas de suas famílias na quarta-feira (25), o chefe da agência de saúde da ONU, a OMS (Organização Mundial de Saúde), Tedros Adhanom Ghebreyesus, disse que “há uma necessidade urgente de que os captores dos reféns forneçam sinais de vida, provas de prestação de cuidados de saúde e a libertação imediata, por razões humanitárias e de saúde, de todos os raptados.”

O Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV) deveria ter acesso imediato aos reféns para compreender seu estado de saúde, e a OMS está pronta para fornecer apoio de saúde aos reféns, disse ele.

“Em me comprometi, em nome da OMS, a fazer tudo o que pudermos para apoiar as necessidades humanitárias e de saúde daqueles que estão mantidos em cativeiro”, insistiu Tedros.

Número recorde de mortes

Enquanto isso, o maior número de vítimas fatais em Gaza foi relatado na quarta-feira pelo Ministério da Saúde administrado pelo Hamas, segundo o qual 756 pessoas foram foram mortas, incluindo 344 crianças, elevando o total no território para 6.547 desde o início da retaliação de Israel aos ataques do Hamas em 7 de outubro.

Com a continuação dos bombardeamentos, de acordo com as autoridades de facto de Gaza, cerca de 1,6 mil pessoas, incluindo 900 crianças, foram dadas como desaparecidas e podem estar sob os escombros.

Corpos em tendas

O escritório de coordenação de assuntos humanitários da ONU (OCHA) disse que, durante uma visita a um hospital em Gaza, o pessoal da ONU viu centenas de homens, mulheres e crianças feridos.

“Muitos deles estavam inconscientes, com feridas abertas, deitados em camas, macas e no chão, com atendimento médico limitado”, enquanto dezenas de cadáveres eram mantidos numa tenda no pátio porque as morgues estão lotadas, disse o escritório da ONU. .

O contínuo bloqueio de combustível e a falta de água, suprimentos médicos e pessoal estão forçando os hospitais a encerrar as operações, disse o OCHA. Os humanitários também alertaram que as pessoas estavam recorrendo ao consumo de água salgada, o que representava “riscos imediatos para a saúde”.

Na quarta-feira, o Programa Alimentar Mundial da ONU (PMA) estimou que “os atuais suprimentos de alimentos essenciais em Gaza são suficientes para cerca de 12 dias.”

Inação no Conselho de Segurança

Na quarta-feira à noite, em Nova York, o Conselho de Segurança não conseguiu mais uma vez encontrar consenso sobre um apelo unificado por um cessar-fogo humanitário.

O chefe da agência da ONU para os refugiados palestinos (UNRWA), Philippe Lazzarini, cuja agência já perdeu pelo menos 35 funcionários durante o bombardeio israelense em curso, disse em um artigo de opinião publicado na manhã desta quinta-feira (26) que “a história perguntará por que o mundo não teve a coragem agir de forma decisiva e acabar com este inferno na Terra.”

O chefe da agência da ONU para os refugiados (ACNUR), Filippo Grandi, postu na rede social X, antigo Twitter, que o trabalho dos humanitários em Gaza “é nada menos que heroico”, apelando à UNRWA para obter os recursos de que necessita “porque não só é uma tábua de salvação para milhares, mas também representa um dos últimos resquícios de humanidade em meio à devastação.” 

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