Hamas mantém o controle em Gaza após guerra devastadora com Israel

Cessar-fogo oferece alívio temporário enquanto destruição em massa e crise humanitária aprofundam divisões na região

Após 15 meses de conflito intenso entre Israel e Hamas, um cessar-fogo trouxe breve calmaria a Gaza, mas a destruição é generalizada. Mesmo assim, o grupo radical continua no comando do território, administrando a chegada de ajuda humanitária prometida como parte do acordo. As informações são da agência Associated Press (AP).

Desde o início da guerra, Israel buscava retirar o Hamas do poder, um objetivo que não foi alcançado, o que levanta temores de uma retomada dos combates. Durante o cessar-fogo, três reféns israelenses foram entregues ao Comitê Internacional da Cruz Vermelha, em um evento que destacou a presença militar do Hamas, com centenas de combatentes exibindo força.

O grupo, que gerencia Gaza desde 2007, retomou operações públicas, com policiais uniformizados patrulhando áreas devastadas. Segundo residentes, o controle foi mantido mesmo durante os ataques, com as forças de segurança usando hospitais como bases provisórias.

Apoiador do Hamas em ato contra Israel em São Paulo, janeiro de 2009 (Foto: Tarciso/Flickr)

Israel afirma que a infraestrutura civil de Gaza foi usada como cobertura para ações militares do Hamas, resultando em mortes de civis e danos massivos. Mais de 47 mil palestinos morreram desde o início do conflito, enquanto cerca de 90% da população foi deslocada, muitas vezes várias vezes, em busca de segurança.

A guerra também reativou o ciclo de recrutamento do Hamas, que manteve a estrutura insurgente e a capacidade de adaptação apesar de perder líderes importantes. “O Hamas é um camaleão. Ele muda de acordo com as circunstâncias”, avalia Michael Milshtein, especialista em assuntos palestinos.

Os ataques de outubro de 2023, que incluíram a morte de 1,2 mil israelenses e o sequestro de 250 pessoas, desencadearam uma resposta militar de larga escala de Israel. Apesar dos esforços para enfraquecer o Hamas, os analistas apontam que a organização continua a operar e a recrutar em meio aos sobreviventes do conflito.

Armas e política

O Hamas, fundado na década de 1980, mantém raízes profundas na sociedade palestina, com uma estrutura que inclui braço armado, partido político e redes de caridade. Esse enraizamento dificulta esforços para desmantelar o grupo sem uma alternativa política viável para os palestinos.

O primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, rejeitou propostas para que a Autoridade Palestina assuma o controle de Gaza. Em vez disso, prometeu manter uma ocupação militar indefinida tanto na Faixa de Gaza quanto na Cisjordânia, ampliando o impasse político.

Enquanto isso, o cenário em Gaza permanece desolador. Em Jabaliya, uma das áreas mais afetadas, os moradores que retornaram após o cessar-fogo encontraram apenas escombros, com poucas estruturas ainda de pé. A presença do Hamas, no entanto, era visível, reforçando a percepção de que o grupo mantém sua força.

A incerteza prevalece, com Netanyahu ameaçando retomar a guerra se seus objetivos não forem alcançados. O Hamas, por sua vez, condiciona a libertação de reféns a um acordo duradouro e à retirada de Israel de Gaza, criando um ciclo de tensão que dificulta vislumbrar um fim para o conflito.

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