Após 15 meses de conflito intenso entre Israel e Hamas, um cessar-fogo trouxe breve calmaria a Gaza, mas a destruição é generalizada. Mesmo assim, o grupo radical continua no comando do território, administrando a chegada de ajuda humanitária prometida como parte do acordo. As informações são da agência Associated Press (AP).
Desde o início da guerra, Israel buscava retirar o Hamas do poder, um objetivo que não foi alcançado, o que levanta temores de uma retomada dos combates. Durante o cessar-fogo, três reféns israelenses foram entregues ao Comitê Internacional da Cruz Vermelha, em um evento que destacou a presença militar do Hamas, com centenas de combatentes exibindo força.
O grupo, que gerencia Gaza desde 2007, retomou operações públicas, com policiais uniformizados patrulhando áreas devastadas. Segundo residentes, o controle foi mantido mesmo durante os ataques, com as forças de segurança usando hospitais como bases provisórias.

Israel afirma que a infraestrutura civil de Gaza foi usada como cobertura para ações militares do Hamas, resultando em mortes de civis e danos massivos. Mais de 47 mil palestinos morreram desde o início do conflito, enquanto cerca de 90% da população foi deslocada, muitas vezes várias vezes, em busca de segurança.
A guerra também reativou o ciclo de recrutamento do Hamas, que manteve a estrutura insurgente e a capacidade de adaptação apesar de perder líderes importantes. “O Hamas é um camaleão. Ele muda de acordo com as circunstâncias”, avalia Michael Milshtein, especialista em assuntos palestinos.
Os ataques de outubro de 2023, que incluíram a morte de 1,2 mil israelenses e o sequestro de 250 pessoas, desencadearam uma resposta militar de larga escala de Israel. Apesar dos esforços para enfraquecer o Hamas, os analistas apontam que a organização continua a operar e a recrutar em meio aos sobreviventes do conflito.
Armas e política
O Hamas, fundado na década de 1980, mantém raízes profundas na sociedade palestina, com uma estrutura que inclui braço armado, partido político e redes de caridade. Esse enraizamento dificulta esforços para desmantelar o grupo sem uma alternativa política viável para os palestinos.
O primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, rejeitou propostas para que a Autoridade Palestina assuma o controle de Gaza. Em vez disso, prometeu manter uma ocupação militar indefinida tanto na Faixa de Gaza quanto na Cisjordânia, ampliando o impasse político.
Enquanto isso, o cenário em Gaza permanece desolador. Em Jabaliya, uma das áreas mais afetadas, os moradores que retornaram após o cessar-fogo encontraram apenas escombros, com poucas estruturas ainda de pé. A presença do Hamas, no entanto, era visível, reforçando a percepção de que o grupo mantém sua força.
A incerteza prevalece, com Netanyahu ameaçando retomar a guerra se seus objetivos não forem alcançados. O Hamas, por sua vez, condiciona a libertação de reféns a um acordo duradouro e à retirada de Israel de Gaza, criando um ciclo de tensão que dificulta vislumbrar um fim para o conflito.