Um homem-bomba foi morto antes que pudesse ativar seu dispositivo explosivo na quinta-feira (23), em Cabul, capital do Afeganistão. Ele estava perto de um posto de confecção de passaportes, em um dia que o local havia sido reservado somente para combatentes do Taleban solicitarem o documento. As informações são da rede France 24.
“Ele foi identificado e morto em um posto de controle na entrada”, disse Mobin Khan, porta-voz da polícia de Cabul, que não deixou clara a razão pela qual os talibãs solicitariam os documentos de viagem. Repórteres foram proibidos de entrevistar os combatentes no local.
Todas as quintas-feiras têm sido reservadas somente para o Taleban no escritório de confecção de passaportes, que no dia do incidente recebia cerca de 200 militantes. Os civis que compareciam ao local eram retidos pela segurança e enviados de volta para casa. Alguns tentavam se fazer passar por talibãs a fim de terem seus pedidos atendidos.
Obter um passaporte no Afeganistão tornou-se missão árdua desde que o Taleban assumiu o poder, no dia 15 de agosto. Inicialmente, o grupo suspendeu a emissão do documento alegando falta de pessoa, de equipamento e de material. As operações haviam sido retomadas no domingo (19) passado, um alento para milhares de pessoas que querem deixar o país devido à crise econômica e à dura repressão dos talibãs.
Nenhum grupo assumiu oficialmente a autoria do ataque, embora ele tenha as características do Estado Islâmico-Khorasan (EI-K), facção que faz oposição ao Taleban e que tem empreendido violentos ataques no Afeganistão desde que os talibãs assumiram o poder.
Por que isso importa?
Embora tenha ganhado notoriedade desde que o Taleban ascendeu ao poder, o EI-K não é novo no cenário afegão. O grupo extremista opera no país desde 2015 e surgiu na esteira da criação do Estado Islâmico (EI) do Iraque e da Síria. Foi formado originalmente por membros de grupos do Paquistão que migraram para o Afeganistão fugindo da crescente pressão das forças de segurança paquistanesas. Não há diferença substancial entre o EI e o EI-K, somente o local de origem, a região de Khorasan, originalmente no Irã.
Agora que a ocupação estrangeira no Afeganistão terminou e que o antigo governo foi deposto pelo Taleban, os principais alvos do EI-K têm sido a população civil e os próprios talibãs, tratados como apóstatas pelo Khorasan sob a acusação de que abandonaram a jihad por uma negociação diplomática.
Os ataques suicidas são a principal marca do EI-K, que habitualmente tem uma alta taxa de mortes por atentado. O mais violento de todos eles ocorreu durante a retirada de tropas dos Estados Unidos e da Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte), quando as bombas do grupo mataram 182 pessoas na região do aeroporto de Cabul.
No início de outubro, dezenas de pessoas morreram em um ataque suicida a bomba contra uma mesquita na província de Kunduz, no nordeste do Afeganistão. Já em novembro, nova ação do EI-K, esta contra um hospital de Cabul, deixou 25 pessoas mortas e cerca de 50 feridas.