Jornalista que revelou morte de jovem, desencadeando protestos, segue presa no Irã

Niloofar Hamed, a primeira jornalista a relatar a história de Mahsa Amini, que morreu após abordagem policial pelo uso incorreto do hijab, está detida há quase um mês

Enquanto os protestos no Irã crescem após a morte de Mahsa Amini, uma jovem curda vítima de abuso policial por não cumprir regras de vestuário para as mulheres, também ganham força os pedidos pela libertação de jornalistas detidos por cobrir a morte da estudante e as manifestações. As informações são da agência Reuters.

Um dos principais nomes é o de Niloofar Hamed, a primeira jornalista a relatar a história de Mahsa, detida devido ao uso incorreto do hijab e que sofreu um ataque cardíaco enquanto estava sob custódia da chamada “polícia da moralidade”. Especializada em direito das mulheres e com uma carreira marcada por reportagens contundentes sobre o assunto, ela está presa e isolada há quase um mês, de acordo com seu advogado.

Niloofar chamou a atenção para o caso de Mahsa após postar em sua conta no Twitter no dia 16 de setembro uma foto dos pais da vítima se abraçando em um hospital de Teerã, onde a estudante estava em coma. Foi o primeiro sinal para o mundo de que algo não ia bem.

Niloofar Hamed foi detida após ter sua casa revistada por agentes locais (Foto: Twitter/Reprodução)

Mahsa morreu no mesmo dia, gerando uma onda de protestos em massa em todo o país – inclusive com iranianas removendo seus lenços de cabeça aos gritos de “morte ao ditador” – e que ainda seguem ocorrendo quase três semanas após o episódio, mesmo com a violenta repressão típica do governo da República Islâmica. Dezenas de pessoas morreram e centenas foram presas desde o início dos atos.

O tuíte da jornalista, que trabalhava para o jornal pró-democracia Sharq Daily, foi um dos últimos que ela publicou antes de ser presa e de ter sua conta listada como suspensa. Pela mesma rede social, o advogado dela, Mohammad Ali Kamfirouzi, disse no último dia 22 que a casa dela foi revistada a mando das autoridades.

“Esta manhã, agentes de inteligência invadiram a casa de minha cliente Niloofar Hamedi, prenderam-na, revistaram sua casa e confiscaram seus pertences”, relata a publicação.

A família de Mahsa alega que a jovem foi espancada. No fim do mês passado, o secretário-geral da ONU (Organização das Nações Unidas), António Guterres, pediu investigação independente e instou o presidente do Irã, Ebrahim Raisi, a não permitir o uso de “força desproporcional” contra manifestantes que saíram às ruas em protesto contra a morte da jovem de 22 anos.

Voz às mulheres

Pessoas próximas a Niloofar a descrevem como uma jornalista corajosa “apaixonada pelas questões de direitos das mulheres”. Entre seus trabalhos investigativos mais prestigiados, ela cobriu pautas como autoimolação de mulheres que sofrem violência doméstica.

“Ela sempre ultrapassou seu limite para ser a voz de mulheres sem voz que foram privadas de seus direitos, seja por seus pais, maridos ou por limitações sociais”, disse uma amiga dela sob condição de anonimato.

O Comitê para a Proteção dos Jornalistas (CPJ) instou as autoridades a “libertar imediata e incondicionalmente todos os jornalistas presos por causa da cobertura da morte de Mahsa Amini e dos protestos que se seguiram”.

Segundo o órgão, pelo menos 28 jornalistas foram detidos no Irã desde o início dos protestos.

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