Manifestantes no Irã são vítimas de sequestros e coerções para confissões forçadas, diz ONG

Ativistas pacíficos foram agredidos e pressionados a assinar confissões forçadas, conforme depoimentos coletados pelo Center for Human Rights in Iran (CHRI)

Uma mulher detida de forma arbitrária no Irã revelou detalhes de seu sequestro durante detenções em massa de manifestantes pacíficos, onde ocorreram agressões e coerções para assinarem confissões forçadas, conforme depoimentos obtidos pela ONG Center for Human Rights in Iran (CHRI), uma organização independente sediada em Nova York.

Zahra Shafiei-Dehaghani, cineasta e ativista dos direitos humanos, relatou: “Eu fui sequestrada. Os outros com quem eu estava conversando também foram sequestrados. Eles não fizeram nem disseram nada”.

Em 16 de setembro de 2023, durante a prisão de Zahra em Teerã, centenas de manifestantes foram detidos arbitrariamente. Esse dia coincidiu com o aniversário dos protestos anti-Estado desencadeados no ano anterior pela morte de Mahsa Amini, uma jovem de 22 anos que visitava a capital quando foi abordada pela “polícia da moralidade” por não usar “corretamente” o hijab, o véu obrigatório para as mulheres.

Em Estocolmo, na Suécia, cidadãos protestam contra a repressão no Irã (Foto: Artin Bakhan/Unsplash)

Zahra, em um áudio enviado da prisão, relatou que os policiais espancaram os manifestantes e os forçaram a confessar. Seu testemunho faz parte de dezenas recebidos pela CHRI e encaminhados à Missão Internacional Independente de Apuração de Fatos da ONU (Organização das Nações Unidas) sobre o Irã, estabelecida em novembro de 2022 para investigar as atrocidades cometidas por autoridades iranianas desde o início dos protestos, que evoluíram para o movimento Mulher, Vida, Liberdade.

De setembro de 2022 a janeiro de 2023, as forças de segurança iranianas recorreram à força letal para reprimir os protestos, resultando na morte de mais de 500 manifestantes, incluindo crianças. Nesse período, mais de 22 mil pessoas foram detidas. No aniversário dos protestos, as forças de segurança estaduais realizaram detenções arbitrárias em massa nas ruas da capital, criando a impressão de que ninguém se manifestou.

Hadi Ghaemi, diretor-executivo do CHRI, destacou: “Esta mulher corajosa arriscou sua segurança e liberdade para esclarecer sua detenção brutal e ilegal. Lamentavelmente, ela está entre os numerosos indivíduos no Irã que sofreram violência semelhante sob custódia do Estado devido ao seu envolvimento em protestos pacíficos e dissidência.”

Zahra, de 46 anos, passou mais de três meses em detenção arbitrária, inicialmente na prisão de Qarchak e depois transferida para a prisão de Evin, ambas localizadas na província de Teerã.

A prisão de Qarchak, conhecida por condições desumanas, a viu ser detida sem clareza sobre as acusações, violando seu direito ao devido processo. Em novembro de 2023, foi transferida para Evin, onde enfrentou isolamento em confinamento solitário no Distrito 209, controlado pelo Ministério da Inteligência do estado.

Apesar de problemas médicos e da falta de uma ordem de detenção formal, ela enfrentou interrogatórios prolongados de um mês e meio, revelou uma fonte anônima ao CHRI por razões de segurança.

A CHRI manifesta profunda preocupação com casos como o de Zahra e outros manifestantes detidos, destacando que sua coragem em falar a expõe à extrema violência e prisão pelas autoridades iranianas, conhecidas por punir indivíduos que discutem publicamente casos politicamente motivados contra eles.

A organização insta organizações de direitos humanos e cidadãos preocupados a divulgar amplamente a história de Zahra, exigindo justiça e liberdade para todos os manifestantes pacíficos no Irã. O caso, provavelmente julgado em segredo, representa a detenção arbitrária, tortura, falsas “confissões” forçadas e negação do devido processo enfrentados por manifestantes detidos, uma prática sistemática no Irã para silenciar dissidência pacífica.

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