Ministro do Taleban é morto em ataque suicida atribuído a facção do Estado Islâmico

Terrorista suicida matou Khalil Haqqani, autoridade talibã e tio de uma das figura mais importantes do atual governo do Afeganistão

Khalil Haqqani, ministro do Taleban responsável pelos refugiados e tio de Sirajuddin Haqqani, líder da poderosa rede Haqqani e ministro do Interior o Afeganistão, foi morto em um ataque suicida na quarta-feira (12) em Cabul. O atentado aconteceu dentro do Ministério de Refugiados e Imigrantes, segundo informações da rede CNN.

Um homem-bomba disfarçado de visitante entrou no complexo ministerial e detonou os explosivos enquanto Khalil Haqqani assinava documentos, informou um porta-voz do ministério. Outras seis pessoas também perderam a vida, segundo relatos de familiares à agência Reuters.

O Taleban condenou o ataque, descrevendo-o como “covarde” e atribuindo a responsabilidade ao Estado Islâmico-Khorasan (EI-K). “Perdemos um mujahid muito valente”, lamentou Anas Haqqani, sobrinho do ministro, usando o termo em árabe para se referir a combatente. “Nunca esqueceremos sua coragem e seu sacrifício.”

Reunião de líderes do governo talibã no Afeganistão (Foto: twitter.com/IeaOffice)

Em nota oficial, o Taleban criticou duramente o EI-K, chamando-o de “facção que falsamente professa o Islã enquanto acusa outros muçulmanos de infiéis”. Até o momento, o grupo terrorista não reivindicou a autoria do ataque.

Contexto e tensões internas

Khalil Haqqani é a figura de mais alto escalão do Taleban a ser assassinada em um atentado desde que o grupo reassumiu o poder no Afeganistão há três anos. Sua morte ocorre em um momento de tensão crescente entre a rede Haqqani e outros setores do Taleban.

A rede Haqqani, braço poderoso do Taleban, é conhecida por sua independência e por ataques de grande impacto durante as décadas de guerra no país. Especialistas apontam divergências significativas entre a liderança baseada em Cabul, que busca maior engajamento com a comunidade internacional, e figuras conservadoras de Kandahar, tradicional reduto do grupo.

“Enquanto Sirajuddin Haqqani chegou a buscar treinamento ocidental para forças de fronteira, líderes de Kandahar temem que qualquer cooperação com o Ocidente possa alienar seus apoiadores”, afirma o think tank britânico Chatham House.

Histórico de Khalil Haqqani

Desde 2011, Khalil Haqqani era listado pelos Estados Unidos como Terrorista Global Especialmente Designado, com uma recompensa de até US$ 5 milhões por informações que levassem a ele. Ele também estava incluído na lista de sanções do Conselho de Segurança da ONU (Organização das Nações Unidas).

A morte de Khalil Haqqani ressalta a fragilidade da segurança no Afeganistão e intensifica os desafios do Taleban em manter a estabilidade e superar divisões internas.

Por que isso importa?

Desde a ascensão do Taleban ao poder, em agosto de 2021, o EI-K tem se consolidado como uma das maiores ameaças à segurança no Afeganistão. Enquanto o Taleban, antes responsável pela maioria dos ataques no país, tenta se firmar como governo, a facção intensificou suas operações, expandindo sua presença e alvos. Segundo o especialista Mahmut Cengiz, da Universidade George Mason, “o EI-K parece estar substituindo o terror talibã no Afeganistão”.

As atividades do EI-K não se limitam mais às províncias de Kunar e Nangarhar, onde o grupo inicialmente operava. Hoje, sua influência se estende a quase todas as 34 províncias afegãs e até além das fronteiras, com ataques registrados em países vizinhos como Uzbequistão, Tadjiquistão, Paquistão e até na Rússia. Essa expansão preocupa ainda mais pelo fato de que o grupo direciona sua violência tanto contra o Taleban quanto contra minorias xiitas e diplomatas estrangeiros.

O histórico de ataques recentes do EI-K evidencia sua estratégia de ampliar os alvos. Representantes de países como Rússia, China e Paquistão já sofreram atentados. Em um caso marcante, em dezembro de 2022, o ataque a um hotel frequentado por chineses levou Beijing a pedir que seus cidadãos deixassem o Afeganistão imediatamente. “O EI-K expandiu sua lista de alvos e incluiu diplomatas, infraestrutura crítica e multidões em locais públicos”, destaca Cengiz.

Internamente, a relação entre o Taleban e o EI-K é marcada por antagonismo ideológico e político. O EI-K considera o Taleban um inimigo irreconciliável devido à sua participação em negociações de paz com o Ocidente e sua abordagem governamental menos radical. Religiosamente, o Taleban segue o Hanafismo, enquanto o EI-K adere ao Salafismo jihadista, uma vertente mais rígida do Islã. Essa oposição torna impossível qualquer tentativa de coexistência entre os dois grupos.

Sob o regime talibã, o Afeganistão vive um cenário de instabilidade generalizada. Com a economia em colapso, restrições severas aos direitos das mulheres e polarização étnica, o governo não tem conseguido proteger a população das ações do EI-K, que agora representa uma ameaça maior que nunca.

Tags: