Assassinatos de civis diminuíram no Afeganistão, mas ainda são ‘preocupação significativa’

EI-K é a maior ameaça à segurança afegã, responsável pela maioria das 1.095 mortes registradas desde agosto de 2021

O número de mortes de civis sofreu uma considerável redução no Afeganistão desde que o Taleban assumiu o poder no país em agosto de 2021. Mas o problema “continua a ser uma preocupação significativa”, de acordo com relatório divulgado nesta terça-feira (27) pela ONU (Organização das Nações Unidas).

O documento, produzido pela Missão de Assistência da ONU no Afeganistão (UNAMA), aponta 3.774 baixas civis registradas no país entre 15 de agosto de 2021, data da ascensão talibã, até 30 de maio deste ano. São 1.095 pessoas mortas e 2.679 feridas.

“Esses ataques a civis e bens civis são condenáveis e devem parar”, disse Fiona Frazer, chefe do serviço de direitos humanos da UNAMA. “É fundamental que as autoridades de fato cumpram sua obrigação de proteger o direito à vida, realizando investigações independentes, imparciais, rápidas, completas, eficazes, confiáveis e transparentes sobre ataques de IEDs (dispositivos explosivos improvisados, da sigla em inglês) que afetam civis.”

Homem-bomba do EI-K no Afeganistão (Foto: reprodução de vídeo)

A maior ameaça à segurança dos afegãos, como destacou Frazer, são os IEDs, responsáveis por cerca de 75% dos casos. Foram 701 pessoas mortas e 2.113 feridas por bombas, sendo o Estado Islâmico-Khorasan (EI-K) responsável pela enorme maioria das ocorrências.

“Ataques suicidas, realizados tanto pelo EI-K quanto por outros atores, foram a principal causa de danos civis relacionados a IEDs”, diz o documento.

Embora tenha ganhado notoriedade somente após o Taleban ascender ao poder, o EI-K não é novo no cenário afegão. O grupo extremista opera no Afeganistão desde 2015 e surgiu na esteira da criação do EI do Iraque e da Síria. Foi formado originalmente por membros de grupos do Paquistão que migraram para fugir da crescente pressão das forças de segurança paquistanesas.

Desde que a ocupação estrangeira no Afeganistão terminou e que o antigo governo foi deposto pelo Taleban, as ações do EI-K aumentaram, de acordo com a ONU, sendo os principais alvos a população civil e os próprios talibãs. Os radicais que governam o Afeganistão são tratados como apóstatas pela facção de Khorasan, sob a acusação de que abandonaram a jihad por uma negociação diplomática.

Quanto às vítimas, destaca-se a população xiita do hazaras, alvo de um terço de todos os ataques com IEDs. A ONG Human Rights Watch (HRW) já havia alertado, em setembro do ano passado, para a ineficiência dos talibãs em sua obrigação de proteger as minorias, alvo preferencial do EI-K.

Se o número de vítimas civis foi reduzido com o Taleban no poder, o atendimento às pessoas atingidas pela violência piorou consideravelmente, de acordo com a UNAMA. Antes do Taleban já era difícil obter apoio médico, financeiro e psicossocial essencial, e desde 2021 o acesso a essa serviços estatais diminuiu.

“Agora é ainda mais difícil obter ajuda para as vítimas da violência devido à queda no financiamento de doadores para serviços vitais”, declarou Fiona Frazer.

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