Mulheres desafiam o Taleban e protestam contra obrigatoriedade da burca

Manifestantes dizem ter sido ameaçadas pelos radicais, que teriam prometido disparar contra elas em função do protesto

Um grupo de aproximadamente dez mulheres desafiou o Taleban e realizou um protesto nas ruas de Cabul, capital do Afeganistão, na terça-feira (10). Elas protestaram contra a obrigatoriedade do uso da burca em espaços públicos imposta pelo grupo radical, de acordo com a rede Gandhara.

As mulheres que foram ao protesto alegam ter sido ameaçadas pelos radicais. “Enfrentamos um comportamento severo do Taleban. Foi aterrorizante. Eles até nos disseram que, se déssemos um passo à frente, eles disparariam 30 tiros contra nós”, disse uma mulher em um vídeo atribuído ao grupo Movimento Feminino Poderoso do Afeganistão.

Mulheres desafiam o Taleban e protestam contra obrigatoriedade da burca
Mulheres ativistas no Afeganistão: governo radica (Foto: Twitter/Reprodução)

A regra, anunciada em um decreto do dia 7 de maio , permite que as mulheres exibam apenas os olhos quando saírem às ruas, sempre usando as vestes islâmicas que as cobrem dos pés à cabeças. Embora os véus sejam habituais, nem todas as mulheres afegãs optam por cobrir o rosto, como exigem os talibãs.

No evento de descumprimento das normas, que paga são os homens. No caso, o parente mais próximo, como pai ou marido, que pode ser advertido, preso ou demitido do emprego.

Um dia após o anúncio da nova norma, a Anistia Internacional já havia contestado a decisão. “Sob o último decreto draconiano, as mulheres afegãs são obrigadas a usar o véu completo e evitar movimentos desnecessários. Isso viola os direitos humanos fundamentais das mulheres de escolher o que vestir e se movimentar livremente”, disse a ONG em sua conta no Twitter.

Por que isso importa?

As mulheres têm sido o principal alvo do regime radical dos talibãs desde a ascensão ao poder. Aquelas que tinham cargos no governo afegão antes foram impedidas de trabalhar, e a cúpula do governo que prometia ser inclusiva é formada somente por homens. A perda do salário por parte de muitas mulheres que sustentavam suas casas tem contribuído para o empobrecimento da população afegã.

Na educação, o governo extremista manteve fora da escola por longo período as meninas acima dos sete anos de idade em diversas regiões do país. Algumas poucas províncias do país, entre as 34 existentes, permitiram a volta das meninas à escola em 2021. Assim, muitas meninas recorreram a uma instituição que ministra aulas online, a fim de não perderem o ano letivo ou interromperem os estudos.

Mulheres também não podem sair de casa desacompanhadas, e há relatos de solteiras e viúvas forçadas a se casar com combatentes. Para lembrar as afegãs de suas obrigações, os militantes ergueram cartazes em algumas áreas para informar os moradores sobre as regras. Em partes do país, as lojas foram proibidas de vender mercadorias a mulheres desacompanhadas.

Em 2021, como forma de protesto contra as normas de vestimenta, mulheres afegãs em todo o mundo fizeram um movimento online, postando fotos nas redes sociais com tradicionais roupas afegãs coloridas, sempre acompanhadas de hashtags como #AfghanistanCulture (cultura afegã) e #DoNotTouchMyClothes (não toque nas minhas roupas).

A proibição do esporte feminino é outra realidade sob o governo talibã. Embora o grupo extremista não tenha emitido uma nota oficial sobre o veto, ele se faz presente na rotina das atletas afegãs. Depois do críquete feminino, cuja proibição foi anunciada pelo vice-líder da comissão cultural do Taleban, Ahmadullah Wasiq, a repressão atingiu outra modalidade muito popular no país: o taekwondo.

O Afeganistão tem apenas duas medalhas olímpicas em sua história: dois bronzes conquistados pelo atleta do taekwondo Rohullah Nikpai em Beijing 2008 e Londres 2012. As conquistas de Nikpai no masculino popularizaram o esporte no país, inclusive entre as mulheres. Porém, com o Taleban no poder, a prática tem se restringido aos homens, e as escolas que ofereciam aulas de taekwondo para mulheres fecharam as portas ou passaram para a clandestinidade.

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